26 novembro 2010

Quem torturou a Dilma deve estar tomando choque por dentro, diz Lula

Presidente disse que ela sofreu muito mais preconceito que ele
Renan Ramalho, do R7, em Brasília

Em um discurso marcado por referências históricas ao papel da esquerda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta quinta-feira (25) uma homenagem à presidente eleita Dilma Rousseff e uma provocação aos agentes da repressão do regime militar (1964-1985).

- Quem torturou ela e achou que tinha acabado com a vida dela na política, agora, deve estar sendo torturado por dentro. Se a Dilma tomou choque, o choque que ele está tomando por dentro agora é de uma grandeza que você não imagina. Ele ver aquela menina que ele torturou virar, depois de mulher, presidenta da República deste país. Sem o ódio que ele tinha, sem mágoa.

Lula falava a uma plateia de agricultores familiares, num evento sobre alimentação em Brasília. Ele disse que Dilma sofreu muito mais preconceito que ele, por ser mulher.

- A Dilma é a primeira oportunidade de a gente fazer com que as mulheres confiem de verdade nas mulheres. Que elas têm competência política. [...] A Dilma na Presidência vai ser motivo de orgulho, principalmente para a mulher que não votou nela.

Ele disse ainda que tem "total confiança" no governo da petista. Em um breve momento, fez menção aos desafios que ela terá na economia, que deve passar por aperto fiscal no próximo ano, segundo interlocutores.

- A companheira Dilma não vai pegar um país a 10 [quilômetros] por hora como eu peguei. Vai pegar um país a 120 [quilômetros por hora]. Vai ter que decidir se pisa no acelerador, no freio ou se segue outros caminhos. A economia é como um trem, não pode sair dos trilhos.

Acrescentou que, na "hora do aperto", ela deve pedir apoio ao povo.

- Na hora do aperto, na hora que a coisa tiver ficando feia, não vacile, vá para perto do povo. Na hora de decidir, pergunte para o povo que você encontra uma resposta. Na dúvida, o povo é a solução.

Esquerda

Em diversos momentos, Lula teorizou sobre o papel da esquerda na história e os rumos da economia mundial no presente e futuro próximo.

O presidente se lembrou de viagem, que fez em 1985 à Alemanha Oriental, então administrada sob um regime socialista. Disse que, com 500 marcos, não tinha o que comprar por causa das lojas fechadas.

- A gente via na televisão, a Europa Ocidental, gente com renda de US$ 30 mil per capita [R$ 51 mil].

Lula ainda afirmou que nas diversas viagens que fez, percebeu que a Revolução Russa de 1917 beneficiou mais os países ocidentais do que os que estavam sob o regime soviético. A tese é de que os trabalhadores dos outros países perceberam os benefícios que poderiam ter.