FERNANDA ODILLA
HUDSON CORRÊA
FILIPE COUTINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal investiga se o governo de José Roberto Arruda, afastado e preso, cobrava 2,5% de propina sobre o valor repassado pela administração para conclusão da obra da nova sede da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
No centro dessa nova frente de investigação, está uma das maiores empreiteiras de Brasília: a Via Engenharia, contratada pelo governo para fazer a obra. Depois de três anos paralisada, a construção foi retomada em 2008 quando Arruda assinou contrato de R$ 72,5 milhões com a empreiteira.
A PF investiga se, para receber dinheiro do governo, a empresa pagava propina. O principal indício é uma planilha, apreendida em novembro na casa do ex-chefe de gabinete de Arruda. O documento lista valores e datas de quatro repasses à construtora com a indicação da porcentagem ao lado e referência à obra da Câmara.
A planilha, que está sob análise dos policiais, destaca o valor de R$ 133,6 mil, referentes a 2,5% do total de R$ 5,3 milhões pagos em 2008.
Além da obra da nova sede do Legislativo, no mesmo documento há outra planilha com repasses de 2007 e 2008 referentes à construção já concluída de um shopping popular, outro projeto do governo tocado pela Via Engenharia. Nesse caso, a porcentagem calculada sobre R$ 35,1 milhões especificados no documento é maior: 5%.
O delator do mensalão no DF, o ex-secretário Durval Barbosa, revelou em depoimento que o esquema do mensalão do DEM envolvia, além dos contratos de informática, a área de obras. Nesse setor, "os arrecadadores de propina são o próprio Arruda, Márcio Machado [então secretário de Obras] e José Eustáquio [colaborador do governador]", disse Barbosa à Procuradoria-Geral da República, em dezembro passado.
Até então, a empreiteira só havia aparecido uma vez no inquérito da Operação Caixa de Pandora com apreensão de uma lista, feita por Arruda, na qual constava o nome do dono da Via Engenharia como doador de dinheiro para compra de panetones. A PF suspeita que a lista tenha sido forjada para esconder dinheiro de propina.
Por meio da assessoria, o empresário Fernando Queiroz reforçou as suspeitas ao negar doação de recursos para a compra dos bolos.
A Via Engenharia é parceira na construção de um condomínio de R$ 1,2 bilhão com o ex-vice-governador Paulo Octávio, outro alvo da PF, que renunciou na terça-feira. A empresa também é doadora do DEM, ex-partido de Octávio e Arruda.