26 fevereiro 2010

Gestão Kassab diz que polícia de Serra faz "pirotecnia" no centro


Em ação policial na cracolândia, 300 foram detidos; desse total, 33 foram acusados de tráfico e os demais, abandonados em base da GCM
Usuários deixados em base voltaram para a cracolândia; ação aumenta discriminação contra população vulnerável, afirma secretário de Kassab


EVANDRO SPINELLI
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Classificada de "pirotécnica" pelo secretário da Saúde da gestão Gilberto Kassab (DEM), uma megaoperação da Polícia Civil do governo José Serra (PSDB) deteve ontem cerca de 300 pessoas na cracolândia, região degradada no centro.
Trinta e três pessoas foram indiciadas sob acusação de tráfico de drogas, diz a polícia. Os demais, viciados em crack, foram abandonados pela polícia em uma base da GCM (Guarda Civil Metropolitana) -sob o olhar de apenas dez agentes da guarda incumbidos de mantê-los ali, o grupo fugiu.
Em fila indiana, os viciados foram escoltados para a base da GCM por policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais) armados com espingardas calibre 12, fuzis, submetralhadoras e pistolas, tudo sob os olhares de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas -a imprensa foi informada da operação pela assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública.
No fim da tarde, sem terem sido oficialmente presos e sem ninguém para atendê-los ou encaminhá-los a unidades de saúde, os viciados "fugiram" e voltaram para a cracolândia.
Para Januário Montone -tucano, homem de confiança de Serra e secretário da Saúde de Kassab-, o que a polícia fez foi um "espetáculo pirotécnico de confinamento e posterior "libertação" dos usuários detidos, o que só aumenta a discriminação contra a população mais vulnerável e dependente, de moradores em condição de rua, usuários e dependentes de álcool e drogas".
A Folha apurou que Kassab só tomou conhecimento do teor da nota de seu secretário da Saúde após ela ter sido enviada à imprensa. Hoje pela manhã, os dois participarão juntos da inauguração de uma unidade de saúde em Parelheiros (extremo sul de São Paulo).
O delegado Aldo Galiano Júnior, da 1º Seccional, disse que a operação era sigilosa, portanto não poderia ter informado com antecedência os agentes de saúde. Ele afirmou que avisou apenas seus superiores e que foram eles, por meio da assessoria de imprensa da secretaria, que convocaram os jornalistas.

Megaoperação
Para realizar a operação, cerca de cem policiais se concentraram no entorno da rua Helvétia, chamada atualmente de "nova cracolândia". Foram abordadas 300 pessoas, 33 foram presas sob suspeita de tráfico e houve apreensão de 400 pedras de crack.
O problema começou porque os guardas civis não sabiam que os usuários de droga iriam para a base da corporação.
A intenção da polícia era deixar o grupo com cinco funcionários da Secretaria da Saúde do município, que ficam em uma base da GCM. Os funcionários da saúde, porém, deixaram o local e ficaram observando a ação à distância. Disseram que não poderiam agir com a polícia para não quebrar a relação de confiança mantida com os usuários de drogas.
Assim que a polícia saiu, os usuários deixaram o local correndo e em meio a algazarra. Os guardas municipais, em menor número, nada fizeram.

Colaborou o "Agora"

Leia a íntegra da nota do secretário da Saúde

www.folha.com.br/1005611