Emiliano José*
O PT é um partido singular. Nasce como um partido de massas, contrariando a tradição de esquerda do partido de quadros. Nasce pregando a diversidade, a democracia interna, contrariando a tradição do centralismo democrático. Nasce defendendo a democracia, contrariando a tese da ditadura do proletariado. Nasce ousado, heterodoxo, pronto a desafiar dogmas e a reinventar a esquerda no País, sem esquecer, no entanto, que o faria com base na forte herança que essa mesma esquerda havia deixado.
Nasce como resultado de um amplo movimento da classe operária moderna, daquela que se envolvera na construção de um sindicalismo de novo tipo, e vai contar, no seu nascedouro, também, além dos sindicalistas, com muitos ex-militantes de organizações revolucionárias que haviam se batido contra a ditadura, e com abnegados cristãos vinculados às comunidades eclesiais de base.
O PT realizava aquilo que muitos de nós da esquerda, antes dele, defendíamos: um partido de tipo inteiramente novo. Embora, ressalte-se, o nosso pensamento, então, não fosse semelhante àquilo que o PT vai significar.
Esse partido, democrático e socialista, o primeiro partido de massas da esquerda brasileira, em pouco mais de 20 anos chega à presidência da República. Um feito histórico, já bastante analisado fora e dentro de nossas fileiras. E o presidente eleito é ninguém menos do que Luiz Inácio Lula da Silva. Assumir a direção dos destinos do País em 2002 representou um abalo profundo na história brasileira: nunca se imaginaria um operário à frente do Brasil.
Por abalo, entenda-se rompimento de uma tradição. Sempre foram as elites, sempre foram representantes das classes dominantes que estiveram à frente do País, sem que com isso se queira dizer que todos foram iguais. Goulart é uma coisa. Dutra, outra. Juscelino, uma experiência. Jânio Quadros, outra. E nós não analisaremos isso nesse texto. O que importa é dizer da singularidade de o povo brasileiro ter escolhido um dos seus pares para governar o Brasil.
E as classes dominantes apostaram que cedo, muito cedo, viria o desastre. Apostaram na incompetência, quem sabe na radicalização infantil, na doença infantil do esquerdismo, para rapidamente voltar ao poder – pelo golpe ou pelas eleições, a depender das conjunturas que se apresentassem.
O governo Lula, no entanto, deu certo desde o primeiro instante, e por dar certo leia-se não só a estabilização econômica – que a direita não acreditava fosse o PT capaz de assegurar – como e principalmente a adoção de políticas públicas que começassem a enfrentar seriamente a questão da desigualdade social.
Em 2005, a direita veio pra cima do PT e do governo Lula com a faca nos dentes. O golpe estava no ar. Resistimos, e para isso contaram a mobilização do partido e a clarividência de Lula em recorrer à mobilização do povo para afugentar os espíritos golpistas.
Ganhamos a eleição uma segunda vez. E no segundo mandato, só fizemos aprofundar aquilo que havíamos iniciado no primeiro, tornando mais clara ainda a importância do Estado na cena brasileira, confrontando de maneira mais clara, com nossa política, a visão neoliberal.
Enfrentar como enfrentamos a crise econômica mundial iniciada em 2008 é conseqüência de um governo que soube sempre entender o desenvolvimento como intrinsecamente ligado à distribuição de renda, à criação de um amplo mercado interno, hoje um fato indiscutível.
A formulação do PT, que sempre insistira que o verdadeiro desenvolvimento, à Celso Furtado, era aquele que promovia distribuição de renda, agora saía do papel. E o povo brasileiro era o grande beneficiário disso, com milhões de pessoas sendo retiradas da miséria absoluta.
O partido agora se defronta com o desafio de disputar a eleição para conquistar o terceiro mandato desse projeto. O desafio de dar continuidade à revolução democrática em curso. E o faz com o extraordinário nome de Dilma Roussef.
Estava na platéia no IV Congresso e acompanhei atentamente o discurso da ministra, já entronizada como nossa candidata. Ali, ela revelou-se de corpo inteiro – seu compromisso com a democracia, suas noções profundas sobre a natureza do terceiro mandato do projeto, sua noção do que seja um governo de coalizão, seu conhecimento da realidade brasileira.
E, do meu ponto de vista, me emocionou ao não negar, muito ao contrário, sua condição de militante contra a ditadura, chegando ao final do discurso a homenagear companheiros mortos, entre os quais Yara Iavelberg, personagem do livro que eu e Oldack Miranda escrevemos sobre o capitão Carlos Lamarca.
As contingências da política não a levaram a transigir com os que hoje combatem tão duramente os que pretendem trazer cada vez mais à luz os assassinatos e torturas do tempo sombrio da ditadura. O PT se orgulha de tê-la como candidata. E temos a convicção de que o povo brasileiro, novamente, nos dará outro mandato.
Ao partido, creio, nesse momento em que celebramos os seus 30 anos, refletir sobre os dias de hoje e sobre a caminhada dos próximos anos. Ganhar novamente a presidência da República é nossa grande tarefa desse momento. E precisamos disso para continuar o processo da revolução democrática. Aprofundar não só a distribuição de renda como a participação popular nos destinos do Brasil, das mais variadas formas.
Passo a passo, e firmemente, queremos consolidar a democracia e passo a passo ir lançando as bases de uma sociedade justa para todos. É na caminhada, no processo, que vamos combinando democracia e socialismo, sem pressa, que não é boa conselheira, mas com absoluta determinação. Longa vida ao PT.
Jornalista, escritor, deputado federal (PT/BA)
O PT é um partido singular. Nasce como um partido de massas, contrariando a tradição de esquerda do partido de quadros. Nasce pregando a diversidade, a democracia interna, contrariando a tradição do centralismo democrático. Nasce defendendo a democracia, contrariando a tese da ditadura do proletariado. Nasce ousado, heterodoxo, pronto a desafiar dogmas e a reinventar a esquerda no País, sem esquecer, no entanto, que o faria com base na forte herança que essa mesma esquerda havia deixado.
Nasce como resultado de um amplo movimento da classe operária moderna, daquela que se envolvera na construção de um sindicalismo de novo tipo, e vai contar, no seu nascedouro, também, além dos sindicalistas, com muitos ex-militantes de organizações revolucionárias que haviam se batido contra a ditadura, e com abnegados cristãos vinculados às comunidades eclesiais de base.
O PT realizava aquilo que muitos de nós da esquerda, antes dele, defendíamos: um partido de tipo inteiramente novo. Embora, ressalte-se, o nosso pensamento, então, não fosse semelhante àquilo que o PT vai significar.
Esse partido, democrático e socialista, o primeiro partido de massas da esquerda brasileira, em pouco mais de 20 anos chega à presidência da República. Um feito histórico, já bastante analisado fora e dentro de nossas fileiras. E o presidente eleito é ninguém menos do que Luiz Inácio Lula da Silva. Assumir a direção dos destinos do País em 2002 representou um abalo profundo na história brasileira: nunca se imaginaria um operário à frente do Brasil.
Por abalo, entenda-se rompimento de uma tradição. Sempre foram as elites, sempre foram representantes das classes dominantes que estiveram à frente do País, sem que com isso se queira dizer que todos foram iguais. Goulart é uma coisa. Dutra, outra. Juscelino, uma experiência. Jânio Quadros, outra. E nós não analisaremos isso nesse texto. O que importa é dizer da singularidade de o povo brasileiro ter escolhido um dos seus pares para governar o Brasil.
E as classes dominantes apostaram que cedo, muito cedo, viria o desastre. Apostaram na incompetência, quem sabe na radicalização infantil, na doença infantil do esquerdismo, para rapidamente voltar ao poder – pelo golpe ou pelas eleições, a depender das conjunturas que se apresentassem.
O governo Lula, no entanto, deu certo desde o primeiro instante, e por dar certo leia-se não só a estabilização econômica – que a direita não acreditava fosse o PT capaz de assegurar – como e principalmente a adoção de políticas públicas que começassem a enfrentar seriamente a questão da desigualdade social.
Em 2005, a direita veio pra cima do PT e do governo Lula com a faca nos dentes. O golpe estava no ar. Resistimos, e para isso contaram a mobilização do partido e a clarividência de Lula em recorrer à mobilização do povo para afugentar os espíritos golpistas.
Ganhamos a eleição uma segunda vez. E no segundo mandato, só fizemos aprofundar aquilo que havíamos iniciado no primeiro, tornando mais clara ainda a importância do Estado na cena brasileira, confrontando de maneira mais clara, com nossa política, a visão neoliberal.
Enfrentar como enfrentamos a crise econômica mundial iniciada em 2008 é conseqüência de um governo que soube sempre entender o desenvolvimento como intrinsecamente ligado à distribuição de renda, à criação de um amplo mercado interno, hoje um fato indiscutível.
A formulação do PT, que sempre insistira que o verdadeiro desenvolvimento, à Celso Furtado, era aquele que promovia distribuição de renda, agora saía do papel. E o povo brasileiro era o grande beneficiário disso, com milhões de pessoas sendo retiradas da miséria absoluta.
O partido agora se defronta com o desafio de disputar a eleição para conquistar o terceiro mandato desse projeto. O desafio de dar continuidade à revolução democrática em curso. E o faz com o extraordinário nome de Dilma Roussef.
Estava na platéia no IV Congresso e acompanhei atentamente o discurso da ministra, já entronizada como nossa candidata. Ali, ela revelou-se de corpo inteiro – seu compromisso com a democracia, suas noções profundas sobre a natureza do terceiro mandato do projeto, sua noção do que seja um governo de coalizão, seu conhecimento da realidade brasileira.
E, do meu ponto de vista, me emocionou ao não negar, muito ao contrário, sua condição de militante contra a ditadura, chegando ao final do discurso a homenagear companheiros mortos, entre os quais Yara Iavelberg, personagem do livro que eu e Oldack Miranda escrevemos sobre o capitão Carlos Lamarca.
As contingências da política não a levaram a transigir com os que hoje combatem tão duramente os que pretendem trazer cada vez mais à luz os assassinatos e torturas do tempo sombrio da ditadura. O PT se orgulha de tê-la como candidata. E temos a convicção de que o povo brasileiro, novamente, nos dará outro mandato.
Ao partido, creio, nesse momento em que celebramos os seus 30 anos, refletir sobre os dias de hoje e sobre a caminhada dos próximos anos. Ganhar novamente a presidência da República é nossa grande tarefa desse momento. E precisamos disso para continuar o processo da revolução democrática. Aprofundar não só a distribuição de renda como a participação popular nos destinos do Brasil, das mais variadas formas.
Passo a passo, e firmemente, queremos consolidar a democracia e passo a passo ir lançando as bases de uma sociedade justa para todos. É na caminhada, no processo, que vamos combinando democracia e socialismo, sem pressa, que não é boa conselheira, mas com absoluta determinação. Longa vida ao PT.
Jornalista, escritor, deputado federal (PT/BA)