23 junho 2009

Curió: Exército tinha campos para executar guerrilheiros
AE - Agencia Estado
SÃO PAULO - O regime militar repetiu, ao longo de 1974, nas matas do Araguaia, o método usado décadas antes pelos franquistas na Galícia para eliminar guerrilheiros republicanos presos. Após a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), os vencedores utilizaram o verbo ?passear? ao se referirem à ?libertação? de presos e à transferência deles das celas para campos afastados das cidades, onde eram fuzilados e deixados em valetas às margens de rios e estradas. No Sul do Pará, os militares brasileiros optaram por dar ao verbo ?fugir? um novo significado - execução sumária.Um dos locais de ?fuga? de guerrilheiros presos fica no município de Brejo Grande do Araguaia, no Sul do Pará. Pelo menos oito foram mortos numa área conhecida por Clareira do Cabo Rosa. É o que revela o manuscrito Relatório de Prisioneiros, cedido ao Estado pelo agente da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura. O documento, posterior à guerrilha, indica que morreram no local Antonio Ferreira Pinto, o Alfaiate, em 28 de abril de 1974, Luiz Renê Silveira e Silva, o Duda, em março de 1974, e Uirassu de Assis Batista, o Valdir, em 28 de abril de 1974. Todos passaram por interrogatório na base de Marabá (PA).As informações sobre os campos de execuções foram confirmadas ao Estado por Curió e por dois mateiros ligados a ele. A Clareira do Cabo Rosa é citada quatro vezes como local de ?fuga? - termo usado pelos militares para designar uma execução de guerrilheiro - no Relatório de Prisioneiros. O documento ainda faz referências a outros locais de fuzilamento: um trecho não identificado da antiga estrada PA-70, que liga Marabá a Conceição do Araguaia, e à região do Saranzal - onde está a Clareira do Cabo Rosa. Também consta como local de execução a própria base militar de Marabá, a Casa Azul, onde morreu José de Lima Piauhy Dourado, o Ivo, em 1º de novembro de 1973.Em entrevistas ao Estado, Curió aponta ainda o sítio de Manezinho das Duas, na localidade de Somi Homi, em Palestina do Pará, como quarto local de execuções. O guerrilheiro Pedro Pereira de Souza, o Pedro Carretel, um dos mais atuantes no movimento armado, foi um dos executados nesse sítio - ele morreu no dia 6 de janeiro de 1974, segundo o Relatório dos Prisioneiros.Passados 35 anos, tempo suficiente para a formação de uma mata secundária e transformações de terreno, a informação sobre a Clareira do Cabo Rosa não responde a perguntas de parentes dos guerrilheiros sobre a localização de seus restos mortais. Representantes da área de direitos humanos ouvidos pelo Estado disseram que é preciso impedir que os campos de execução, que há 35 anos guardam a memória dos guerrilheiros, virem cenário de espetáculo midiático e show político.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.