Polícia nega que operação tenha conotação política
Divulgação de nomes de partidos ocorreu após sentenças de De Sanctis, diz Corrêa Operação foi criticada pela oposição após publicidade dos dados da investigação, como doações eleitorais da Camargo Corrêa a siglas
Divulgação de nomes de partidos ocorreu após sentenças de De Sanctis, diz Corrêa Operação foi criticada pela oposição após publicidade dos dados da investigação, como doações eleitorais da Camargo Corrêa a siglas
A Polícia Federal rebateu ontem acusações de que a Operação Castelo de Areia tenha tido conotação político-partidária. O órgão divulgou nota em que reitera como motivação a investigação de crimes financeiros e de lavagem de dinheiro. O diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, foi a público afirmar que a publicidade dos dados da investigação, incluindo doações eleitorais a partidos, só ocorreu após as sentenças da Justiça Federal.A oposição criticou tanto a divulgação de nomes de políticos e partidos que supostamente receberam doações ilegais da empresa quanto a exclusão, no relatório final, das siglas governistas PT, PTB e PV, também citadas em diálogos interceptados na operação. Segundo a PF, as doações a esses partidos foram, em princípio, legais.Corrêa disse que, "quando a polícia se movimenta, o estado de repressão se movimenta, [e] causa desconforto".Antes de o diretor da PF falar com jornalistas, o órgão divulgou nota em que explicava a conduta adotada diante das questões eleitorais. A PF diz que o foco da operação foram crimes financeiros. Durante a investigação, entretanto, o órgão era obrigado a repassar à Justiça relatórios sobre as escutas, como aquelas em que apareceram políticos."A publicidade natural dos fatos ocorreu a partir da decisão judicial, tornada pública, e do acesso amplo aos advogados de defesa", diz trecho da nota.A operação foi autorizada pelo juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Federal. Ele é alvo de dois procedimentos da corregedoria da Justiça por ter supostamente descumprido ordens de tribunal superior.Para Corrêa, "o juiz, ao dar publicidade do seu despacho de decisão, se fundamentou inclusive em alguns desses [nomes que apareceram nas intercepções]". "Cabe ao juiz fazer isso. Daí atribuir à PF que ela atuou tendenciosamente, com motivação partidária, é uma injustiça", completou.O relatório da PF inclui comentários sobre as escutas com conteúdo político-partidário."Colaboração oficial"Em outro trecho, o relatório diz que "algumas ligações telefônicas levam a crer que haja também um esquema fraudulento de financiamento".Em um dos grampos, os investigados falam em uma relação a políticos da "colaboração oficial", e que nesta relação "tem as duas" -o que daria a entender que haveria doações não oficiais, segundo a PF.Na PF, a explicação é que a questão política foi deixada de fora do foco para evitar o "trancamento" das investigações -que, ao envolver parlamentares, precisa passar pelo STF.A procuradora da República Karen Louise Jeanette Kahn lamentou a decisão da desembargadora Cecília Mello, do TRF-3, que liberou no sábado os dez presos pela Castelo de Areia, entre os quais quatro diretores da Camargo Corrêa. Em nota, ela diz que a operação "se constituiu numa ação responsável, pautada pelo direito".
Folha de São Paulo