14 dezembro 2008

PCdoB prevê clamor popular por terceiro mandato para Lula
Se o combate à crise econômica for bem conduzido pelo presidente Lula, impedindo grandes impactos no Brasil, pode haver clamor popular para ele continuar. A opinião é do presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo. O dirigente comunista advertiu que, em um momento de crise, é sempre muito complicado uma mudança de governo.
A discussão sobre a sucessão presidencial em 2010 vai ser iniciada logo após o dia 20 de fevereiro do próximo ano, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornar do seu período de férias. Nessa data, ele vai marcar uma conversa com PT, PCdoB, PSB e PDT, dando início aos contatos com os partidos da base aliada para discutir o assunto. O anúncio foi feito por Renato Rabelo, que esteve em reunião com Lula na noite desta quarta-feira (10).
“Não defendemos a continuidade de Lula, mas, diante da crise e se o governo souber enfrentá-la bem, pode existir uma exigência espontânea da população para que ele continue”, avalia o presidente do PCdoB. Rabelo citou o exemplo do ex-presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt e o New Deal, o plano com que o governante estadunidense combateu a crise de 1929. Roosevelt foi o único presidente que cumpriu quatro mandatos.
Ele adianta que o debate sobre a ampliação do mandato do presidente Lula, no momento atual, não tem respaldo maior no âmbito do Congresso, mas destaca que “até o ano que vem, se a gente resolver bem a crise, pode surgir ambiente para essa discussão.”
O líder comunista disse que repetiu ao presidente Lula o que já tinha dito na reunião de segunda-feira (8), do Conselho Político: “estamos numa encruzilhada, se nos sairmos bem da crise que atinge o mundo todo, o prestígio dele (Lula) aumentará ainda mais; a segunda vertente da encruzilhada é se não resolvermos a crise e ela se aprofundar e provocar desemprego, aí o impacto será negativo para o governo.”
Clima de camaradagem
Na reunião, que incluiu os parlamentares da bancada do PCdoB na Câmara e no Senado e o ministro do Esporte, Orlando Silva, o principal assunto foi a crise econômica.

O encontro foi marcado pela camaradagem. Como acontece sempre que encontra-se com o PCdoB, Lula fez questão de demonstrar grande amizade com o Partido, destacando a relação de longa data entre ele e os comunistas.
“Ele (Lula) valoriza muito a relação com o PCdoB, que é a mesma que mantém com o partido dele – o PT”, afirma Renato Rabelo.
A sucessão na Câmara também foi tema de discussão entre eles. O presidente Lula fez um apelo para que o processo fosse bem conduzido para não descambar para uma situação semelhante a que resultou na eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE), em 2005.
Mas o assunto não prosperou entre Lula e os comunistas. O próprio Renato Rabelo considera prematura a discussão sobre a candidatura de Aldo Rebelo à presidência da Câmara. Rabelo avalia que “dentro da dinâmica do processo, somente se houvesse um quadro de impasse, poderia se levantar nomes como o de Aldo. Segundo o dirigente comunista, o Bloco de Esquerda ainda não tem posição oficial sobre o assunto e não deve se posicionar de imediato sobre uma candidatura.
Juros e juros
O tema mais importante da reunião foi o combate à crise econômica. O presidente Lula disse que anunciaria nos próximos dias as medidas que o governo vai adotar para reduzir os juros bancários. Ele defende a queda da taxa Selic, mas anunciou que a primeira queda de braço do governo será com os bancos públicos e privados para reduzir as taxas de juros bancários.
E, em clima de informalidade, reproduziu a brincadeira que faz o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, sempre que é cobrado para adoção de medidas de redução da taxa de juro Selic: “Ah, se os bancos aplicassem as taxas de juros do Copom”. Enquanto as taxas do Copom foram mantidas em 13,75% ao ano, em decisão anunciada na reunião desta mesma quarta-feira, a taxa média do cheque especial em 2007 foi de 8,24% ao mês, cerca de 99% ao ano, segundo relatório anual da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-SP).
O presidente Lula repetiu aos comunistas a avaliação que faz publicamente da crise econômica e os possíveis impactos no país. Ele reafirmou que, entre os países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) – os quatro principais países emergentes do mundo -, o Brasil é que tem as melhores condições de sair da crise.
Lula alega que mesmo a China, que ostenta os melhores índices de crescimento econômico, possui 40% do PIB (Produto Interno Bruto) formado pelas exportações, cujos principais mercados consumidores são Estados Unidos e Europa, onde a crise se abateu com mais força. A China acaba sendo muito afetada, porque parcela significativa de sua economia depende da exportação, enquanto o comércio do Brasil é muito diversificado.
A preocupação do presidente Lula é evitar que a crise alcance o Brasil por meio da desconfiança das empresas e dos consumidores. Para isso, disse que vai adotar medidas de diminuição da incidência tributária sobre pessoas e empresas, no Imposto de Renda, Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), sobretudo na compra de carros.
“A economia depende desse fator de estímulo e confiança para manter os níveis de investimento e consumo”, disse Renato Rabelo, explicando que desonerando as pessoas e empresas, para que tenham mais dinheiro para comprar, o governo vai “enricar” a economia.
De Brasília Márcia Xavier