25 maio 2008


A prosperidade econômica acabou
Nobel de Economia diz não saber quando e como os EUA vão ter recessão e elogia o Brasil
Rodrigo de Almeida
Há menos de dois anos, quando ganhou o Prêmio Nobel de Economia, o professor Edmund Phelps não arriscava fazer análises mais profundas sobre a economia brasileira. Passara um trimestre aqui, em 1993, quando esteve na Fundação Getúlio Vargas, mas ia pouco além de palpites sobre os rumos do país. De lá para cá, veio mais vezes, deu palestras e hoje está bem informado.
Phelps desembarca agora no Rio de Janeiro, a convite do ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso: o economista fala amanhã na abertura da 20ª edição do Fórum Nacional, discutindo, com a seleta platéia que freqüenta os encontros organizados por Velloso, os países latino-americanos, em geral, e o Brasil, em particular. Falará, especialmente, sobre as trilhas pavimentadas para o desenvolvimento.
"O Brasil está mais aberto à competição e ao capital estrangeiro que muitos outros países da América Latina", reconhece ao JB, comentando os sucessivos elogios recebidos pelo país mundo afora. Vislumbra para nós uma vistosa luz em formação no horizonte. Uma recessão nos EUA, sublinha, pode forçar a queda dos juros internacionais, atraindo investimentos para o Brasil. Isso, claro, se houver recessão por lá – ele é do time que acha cedo falar em declínio da economia americana.
Se tem dúvidas sobre a hora e a intensidade da crise, sobra-lhe convicção ao dizer que, por ora, convém esquecer qualquer idéia de retorno à "extraordinária prosperidade" que alimentou corações, mentes e economias nos últimos 10 anos. A bonança acabou. Palavra de Nobel.
Um mês atrás, numa entrevista à revista Veja, o sr. disse que a recessão americana ainda não tinha mostrado a cara. O sr. afirmou inclusive que é cedo para dizer se os Estados Unidos estão em recessão. Mas também lembrou que é inegável que essa crença tem se tornado generalizada, especialmente por causa do desemprego. O sr. ainda pensa nesses termos?
– Obviamente ainda é muito cedo para dizer que esse declínio se qualifica como uma recessão em termos clássicos – dois trimestres consecutivos de crescimento negativo. É o tempo que uma recessão típica promove. Mesmo o crescimento do emprego tem sido positivo até muito recentemente.
Segundo o professor Joseph Stiglitz, outro Prêmio Nobel e também seu colega na Columbia, a economia americana está entrando num dos piores declínios desde a Grande Depressão. Muitos concordam com ele. É um exagero?
– É verdade que o atual declínio financeiro é o pior desde o colapso da poupança e empréstimos americanos do fim dos anos 80. A crise daquela década e a crise atual são os eventos mais sérios desde a falência dos bancos nos anos 30. Mas realmente não acho correto dizer, como o meu amigo Stiglitz disse, que a crise atual seja a mais grave desde a Grande Depressão. Nos anos 70, o desemprego foi de 4% para mais de 10%. Nessa crise atual, a taxa subiu de 4,3% para 5.1%. É verdade, porém, que o desemprego deve estar muito mais alto agora – talvez 5,5% – caso muitos trabalhadores sem emprego não tenham ficado desestimulados ou cansados de procurar emprego e, portanto, tenham deixado o mercado de trabalho.
Se a recessão ainda não veio, ela terá menos intensidade do que a maioria dos analistas imagina?
– Não sabemos o quão profunda essa crise será. O aumento da exportação, demandado principalmente pelo leste asiático e partes da Europa, está ajudando a amortecer a queda. Mas já está claro que o setor financeiro e a indústria de construção vão demitir funcionários e haverá outra contração quando as empresas americanas, vendo que a fraqueza do dólar lhes garantiu uma blindagem maior contra concorrentes estrangeiros, decidirem aproveitar essa situação, aumentando os seus preços. O ponto principal a destacar aqui, na minha opinião, é que não há perspectiva de um retorno à extraordinária prosperidade que vigorou na maior parte do tempo entre 1997 e 2007.
Para alguns analistas a resposta da administração do presidente George Bush foi lenta, tardia e mal desenhada. O sr. concorda?
– Eu fiquei um pouco surpreso com o fato de o Federal Reserve baixar as taxas de juros de curto prazo por tanto tempo e então, quando o banco mudou o curso, as elevar rapidamente para mais de 5%. Talvez os especuladores, ao comprar novos imóveis, teriam sido mais cautelosos e, conseqüentemente, não ficariam sobrecarregados se o Fed tivesse dado algum sinal prévio de que aumentaria os juros, possivelmente para 5%.
Com a ordem econômica mundial em transformação e os países emergentes ganhando espaço, podemos dizer que hoje os Estados Unidos já não fazem tanta diferença quanto antes?
– Para os negócios, sim. Os Estados Unidos respondem atualmente por uma fatia menor da riqueza mundial. Mas no que diz respeito à inovação, o mundo ainda é muito, muito dependente da economia americana. Essa tese vale tanto para dar origem a mais inovações quanto para servir como terreno de teste para algumas inovações originadas no exterior.