27 janeiro 2008

Brasil ingressa no combate ao terrorismo
Vasconcelo Quadros
O Brasil está ingressando no grupo de países preocupados com a prevenção e o combate ao terrorismo internacional. Depois de meses de debates e análises, já está pronto o decreto que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assinar nos próximos dias reestruturando a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e criando, entre outros órgãos, o Departamento de Contra-Terrorismo (DCT). A nova estrutura vai elaborar a política de prevenção e articular o intercâmbio de informações com as principais agências internacionais que já atuam no combate ao terrorismo.

O diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, diz que não há motivos para os brasileiros se preocuparem com eventuais ações terroristas no País.
"O novo departamento terá um alcance preventivo e estará atento à história do terrorismo mundial contemporâneo", afirma Lacerda.
Segundo ele, embora atualmente não existam indícios de que seja alvo ou abrigue células de organizações terroristas, o Brasil é um país de economia emergente e dispõe de riquezas estratégicas que justificam a preocupação.
Assim que o decreto for publicado no Diário Oficial da União, a agência vai buscar parceria com os órgãos de inteligência das Forças Armadas e da Polícia Federal em busca de uma linguagem comum na análise e tratamento da questão. A PF tem uma divisão que trata de terrorismo e, como polícia judiciária, tem as atribuições para investigar. Lacerda afirma que não haverá choque com outras áreas e diz que o importante é o Brasil criar uma cultura de inteligência sobre o tema. Segundo ele, atualmente o Brasil tem se limitado a responder os pedidos de informações, cada vez mais freqüentes, de outras agências sobre a movimentação de terroristas e suspeitos pelo mundo.
PolêmicaA reestruturação da Abin marca também a ofensiva de Lula no aperfeiçoamento do serviço de informações do governo, uma área polêmica desde o fim da ditadura e confundida em função da espionagem política antes exercida pelo extinto Serviço Nacional de Informações (SNI). A nova agência terá também o Departamento de Integração do Sistema de Inteligência Brasileiro, em cuja estrutura funcionará o Centro Integrado, um gabinete de segurança permanente, que coletará informações confidenciais em tempo real sobre áreas sensíveis, como uma possível crise no setor aéreo, o avanço de desmatamento ou degradação do meio ambiente, mercado financeiro, segurança pública ou qualquer evento que possa surpreender o governo.
Com estrutura tecnológica e capilaridade nacional, conectado às redes de serviços públicos federais e estaduais, o centro funcionará 24 horas durante todos os dias do ano.
"As informações serão confiáveis e produzidas com mais agilidade", garante Lacerda.
O projeto piloto do Centro Integrado será inaugurado em março. A sala de meios ocupará um pavimento do prédio de três andares da Abin, no Setor Policial Sul de Brasília, onde funcionava o Departamento de Telemática, desativado com a reestruturação. Nela estarão reunidos funcionários de todos os ministérios com a função de monitorar e coletar informações que, uma vez avaliadas, serão selecionadas seguindo uma hierarquia de interesses público e do governo.
"O centro funcionará como um condomínio de órgãos públicos, onde a Abin exercerá o papel de síndico. A menos que sejamos convidados, não entraremos na casa de ninguém", diz Lacerda, para afastar suspeitas de invasão em outras áreas da administração.
SinergiaMostrado há poucos dias durante reunião com vários ministros no Palácio do Planalto, o projeto empolgou o presidente Lula, que viu nele a esperança de não mais ser surpreendido por notícias ruins e, ao mesmo tempo e poder dotar o Estado de estrutura de inteligência apta a atuar nas questões estratégicas. O grande segredo do projeto é a possibilidade de integrar e criar sinergia entre órgãos governamentais que se comportam atualmente como se trabalhassem para países diferentes. - As informações produzidas não serão em benefício da Abin, mas de todo o governo. Sabemos que informação é poder e que ninguém quer compartilhar. Mas precisamos mudar essa cultura - diz Lacerda, que compara as mudanças que pretende implementar como uma espécie de ovo de Colombo.
JB Online