07/11/2006 - 10:59 Lula diz que prefere avanço sólido a crescimento por decreto
Em seu primeiro evento público depois de ter sido reeleito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou seu compromisso com o crescimento econômico do País. A uma platéia de empresários premiados pela revista Carta Capital, como "As Empresas Mais Admiradas no Brasil", o presidente reeleito voltou a dizer que não acredita em fórmulas mágicas para fazer o Brasil avançar, mas insistiu que o avanço da economia continuará em suas prioridades para este novo mandato.
Após o discurso do presidente da Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, enfatizando a necessidade de maior crescimento, Lula afirmou que, se fosse possível, decretaria um crescimento de 7% para o Brasil por meio de uma medida provisória. Mas insistiu que, como esta não é uma alternativa, prefere buscar os caminhos que permitam obter um avanço mais sólido na economia. "Se eu pudesse decretar o crescimento de 7%, eu faria por Medida Provisória, para o [senador Romeu] Tuma e para o [senador Aloizio] Mercadante votarem", ironizou.
"Eu não acredito em mágica. Eu acredito em seriedade. Até porque o crescimento que nós queremos para o Brasil não vai se dar em um mandato presidencial. É preciso que a gente pense numa geração. Ou quem sabe até um pouco mais, se nós quisermos fazer uma coisa sólida, madura, que não tenha retrocesso", disse Lula. "Toda vez que se tentou inventar alguma mágica, o país quebrou em alguns meses", lembrou.
"Eu tenho consciência, muito mais do que consciência, eu sinto a necessidade de fazer com que esse país cresça", disse o presidente, acrescentando que, com isso, será desencadeada uma corrente em que cada setor que se beneficiar desse avanço ajudará outro a seguir o mesmo caminho. "O crescimento vai ajudar. O povo sendo ajudado vai ajudar a classe média, a classe média sendo ajudada vai ajudar os empresários, os empresários sendo ajudados vão ajudar todo mundo a viver bem", emendou.
Lula voltou a defender sua política econômica porque com ela, explicou, além de conseguir estabilizar o país, pôde alimentar projetos sociais para a população mais carente.O presidente negou que queira dividir o país entre ricos e pobres. "O que eu quero é repartir o pão produzido de forma mais justa", argumentou.
Eleição
O presidente aproveitou para fazer uma cobrança ao empresariado, dessa vez em relação às últimas eleições. Lula reivindicou os votos destinados ao rival tucano Geraldo Alckmin pelos empresários presentes no evento. "Eu penso que de vez em quando a humanidade precisa deixar a hipocrisia um pouco de lado e temos que ser mais verdadeiros", disse. "Veja que absurdo. Eu faço uma campanha em que eu era obrigado a defender os bancos. E os meus adversários criticavam os bancos e vocês votavam neles e não em mim."
O presidente Lula também questionou o papel da imprensa na eleição. Lula aproveitou para elogiar a postura do diretor da Carta Capital, o jornalista Mino Carta, que alguns minutos antes havia manifestado seu orgulho por ter apoiado abertamente a campanha presidencial petista. Lula disse que às vezes a "humanidade vive momentos de hipocrisia", como nesta disputa presidencial, em que, para ele, a maior parte da mídia era contra sua candidatura, embora não admitisse. Em sua opinião, a conclusão a que se pode chegar é que "neste país, existe mais povo do que formadores de opinião."
Para ele, sua vitória mostrou que o povo aprendeu a distinguir entre a verdade e a mentira. "Eles [povo] perceberam que estavam tentando tirar alguma coisa que eles tinham conquistado, sintetizada em uma palavra: cidadania."
Carta disse ter sido cobrado por articulistas de outros veículos pela postura, mas insistiu que o posicionamento político no meio jornalístico é comum em países mais avançados do ponto de vista democrático. Em apoio ao jornalista, Lula disse que jamais pediu ou pedirá a algum meio de comunicação "o favor" de não falar contra o governo e disse que, para ele, a liberdade da imprensa deve ser plena.
Por outro lado, o presidente cobrou responsabilidade da imprensa brasileira. "Para mim, a liberdade tem que ser plena. Mas a liberdade plena exige responsabilidade, sobretudo seriedade", disse, lembrando que viveu, na ditadura militar, o "tempo de pensamento único", em que era proibido falar mal do governo. "Agora estamos outra vez (nesse tempo), é proibido falar a favor. Nós mudamos do oito para o oitenta com uma facilidade enorme", afirmou. "A imprensa sempre foi muito generosa comigo. Não posso reclamar," ironizou.
No evento desta segunda, Lula foi acompanhado pelos ministros Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), Marina Silva (Meio Ambiente) e Fernando Haddad (Educação), além do presidente do BNDES, Demian Fiocca, o senador Aloizio Mercadante, a ex-prefeita Marta Suplicy, o deputado Delfim Netto (PMDB) e o presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia. No evento, estiveram presentes ainda o governador de São Paulo, Claudio Lembo; o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab; o presidente da Câmara, Aldo Rebelo; e o presidente do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio. Lula entregou pessoalmente os troféus a alguns dos presidentes das empresas vencedoras da premiação, entre eles Alessandro Carlucci (Natura), Ivan Zurita (Nestlé), José Sergio Gabrielli (Petrobras) e Jorge Gerdau Johannpeter (Gerdau).
Com informações de agências de notícias