16 outubro 2006

16/10/2006 - 09:33 Artigo: A "legenda" de Veja, por Valter Pomar
A revista Veja continua em campanha aberta contra Lula e contra o PT.
Na semana passada, trouxe Alckmin na capa, com o título "O desafiante". A revista foi exibida, em tamanho gigante, em outdoors espalhados em muitas cidades do país. A coisa foi tão escandalosa que o TSE concedeu liminar ao PT e mandou retirar a gigantografia das ruas.
Nesta semana, a capa de Veja está até discreta. Mas o conteúdo está para lá de agressivo.
Um exemplo disso é a seção "Veja essa", que reproduz 15 frases que a revista julga interessantes. Das quinze, nove são contra o PT. Das outras seis, nenhuma ataca o PSDB ou qualquer outro Partido.
Vale dizer que entre as frases, pinçadas certamente ao acaso, há uma que fala dos “vagabundos do PT” e outra que diz assim: “se a gente pudesse esmagar o PT com o dedo, a gente esmagava”.
Outro exemplo é a seção Radar, que afirma que o PT teria colocado “sua turma da pesada” para investigar um delegado da Polícia Federal.
Como é público e notório, inclusive divulgado pela própria Veja, o delegado Edmilson Bruno está sob investigação interna da própria Polícia Federal, por seu envolvimento num episódio descrito em detalhes pela revista Carta Capital desta semana.
O delegado Bruno entregou para a imprensa material da Polícia Federal, com o objetivo explícito e assumido de prejudicar o PT e a candidatura Lula.
Mas, para Veja, o moço é uma pobre vítima da "turma da pesada".
Veja traz, ainda, três matérias dedicadas a atacar diretamente o PT. Uma delas, de capa, faz uma tentativa desesperada para manter Freud Godoy na alça de mira.
Compreensível o desespero de Veja. Todas as investigações demonstram que Freud não tem nenhum envolvimento com o episódio do dossiê. Com isso, dissolve-se no ar o delírio lacerdista, que fazia de Freud uma versão petista de Gregório Fortunato.
Claro que este desfecho não é aceitável, para um jornalismo engajado ao estilo de Veja. Assim, a revista trata de criar uma história e busca envolver nela mais personagens, num estilo conhecido popularmente como "ventilador".
Outra matéria acusa o PT de ter sido beneficiário de recursos financeiros destinados a pagar propaganda institucional do governo federal. Tanto quanto a primeira matéria, trata-se de assunto requentado.
A novidade está na terceira matéria, intitulada “O terrorismo do PT”.
A expressão terrorismo, especialmente nos dias que correm, tem um sentido muito preciso: trata-se de atacar militarmente civis desarmados, vitimando inocentes.
Pessoas de boa-fé poderiam imaginar que Veja utiliza o termo noutra acepção, popularizada pelo cinema: a de “causar medo”.
Neste caso, a expressão “terrorismo eleitoral” teria um significado polêmico, incorreto de nosso ponto de vista, mas jornalisticamente aceitável.
Acontece que a revista publica, para ilustrar a matéria, uma foto do presidente nacional em exercício do PT, acompanhada da seguinte legenda: “O bin laden Marco Aurélio Garcia: missão de espalhar o terror”.
A legenda de Veja é um golpe nas pessoas de boa-fé: ao utilizar o termo terrorismo, Veja quer mesmo estabelecer vínculos entre o PT e as ações de organizações como a Al Qaeda.
Este vínculo, por óbvio, não existe. O PT sempre condenou ações terroristas, venham de onde vier, inclusive quando partem de uma potência como os Estados Unidos.
Associar a imagem do Partido e seu presidente a um terrorista, é algo ofensivo e inaceitável. E só confirma que a revista tomou partido na disputa eleitoral.
Afinal, a própria revista reconhece --em matéria publicada esta semana e intitulada “Vivam as privatizações”-- que o candidato à presidência da República, ex-governador Geraldo Alckmin, “defende com timidez” a venda de estatais.
É compreensível que Alckmin seja "tímido": os tempos mudaram. Há dez anos, falar mal das privatizações era eleitoralmente prejudicial. Hoje, defender as privatizações é que faz perder votos.
Tímido ou não, Alckmin tem uma história que não pode ser desconhecida. Os doze anos de governo tucano em São Paulo, os oito anos de FHC no governo federal, bem como as declarações do próprio candidato Geraldo Alckmin e de seus assessores, confirmam: uma hipotética vitória de Alckmin seria a volta da turma da privataria.
Para Veja, falar disso é fazer "terrorismo eleitoral". Para o site da campanha Alckmin, defender esta opinião política seria adotar os mesmos métodos que Collor utilizou contra Lula. Para o ex-comunista e ex-peemedebista Alberto Goldman, falar em "risco Alckmin" é adotar o mesmo método de Goebbels.
Gozada esta gente. Eles se acham no direito de dizer qualquer barbaridade a nosso respeito. Atacam o PT, o governo, Lula e seus familiares. Mas se a gente reage, citando fatos e declarações absolutamente verdadeiras e divulgados pela própria imprensa, eles ficam ofendidos.
O gozado é que eles ficam ofendidos mesmo. Sabem o motivo? É por que se consideram cidadãos acima de qualquer suspeita. Quem viu o filme, sabe do que estou falando.
Valter PomarSecretário de relações internacionais do PT