09 julho 2006

LULA 65% ALCKMIN 27%
Desde 94, nunca foi tão baixo o percentual de eleitores que reclamam do seu atual poder aquisitivo; política "pró-pobre" reduz investimento em obras
O governo Lula produziu uma melhora considerável na classificação econômica dos eleitores a partir de 2003, revela pesquisa Datafolha. Cerca de 6 milhões de eleitores saíram da classe D/E. A maioria migrou para a C. Praticamente a metade dos 125,9 milhões de eleitores (49%) considera hoje que sua situação econômica vai melhorar. Ao mesmo tempo, houve um aumento no consumo, sobretudo de alimentos -37% dos eleitores passaram a consumir mais desde 2003. A melhora na renda se dá por uma combinação de cenário econômico positivo e forte aumento do gasto público dirigido aos mais pobres. Na contramão, há queda nos investimentos em infra-estrutura e dúvidas sobre a sustentabilidade da atual política "pró-pobres". Além disso, os maiores aumentos na renda estão, na verdade, concentrados entre os que têm aplicações financeiras (leia textos nas págs. A6 e A7). Mas, em termos gerais, nunca foi tão baixo, desde 1994, o percentual de brasileiros que reclama da insuficiência do seu poder aquisitivo. Hoje, 28% acham "muito pouco" o que a família ganha. Eles somavam 45% antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O Datafolha ouviu 2.828 eleitores no país entre 28 e 29 de junho, quando pesquisou a intenção de voto à Presidência. No levantamento, Lula (PT) aparece com 46% e Geraldo Alckmin (PSDB), com 29%. A melhora no consumo e nas expectativas dos eleitores mais pobres explica em grande medida o favoritismo do petista, que hoje venceria no 1º turno. A pesquisa também questionou hábitos de consumo, percepção da situação econômica, nível de renda, posse de bens e condições de moradia. Foi considerado ainda o grau de escolaridade do chefe da família. O cruzamento dos dados permite agrupar os entrevistados em três classes: A/B (48% têm renda familiar mensal superior a cinco salários mínimos), C (68% têm renda de até três mínimos) e D/E (86% têm renda de até dois mínimos). Um dos principais resultados do levantamento é que o total de eleitores na classe D/E diminuiu de 46% para 38% entre outubro de 2002 e agora. A classe C inchou, passando de 32% para 40%. Já a classe A apenas variou de 20% para 22% -dentro da margem de erro da pesquisa, de dois pontos percentuais para mais ou menos. São justamente as classes D/ E e C que concentram as maiores taxas de intenção de voto em Lula: 54% e 44%, respectivamente; contra 34% na A/B. A pesquisa também questionou os eleitores sobre a participação em programas sociais do governo, como o Bolsa-Família. Os maiores aumentos de consumo (de alimentos, CDs piratas ou perfume, por exemplo) foram detectados entre membros da classe C que participam ou que têm alguém da família incluído nos programas. Entre esses eleitores, 52% consumiram mais alimentos nos últimos três anos, contra 37% na média geral. Os menores percentuais de aumento de consumo foram detectados na classe D/E. Mesmo assim, é aí que está concentrada a maior força eleitoral de Lula e, segundo algumas análises, a maior taxa de aumento da renda nos últimos anos. Dentre os D/E que participam de algum programa social, Lula chega a ter 65% da preferência dos eleitores, contra 27% de Alckmin. Os D/E e C também são os mais otimistas em relação ao futuro.