09 julho 2006

RACISTAS HIPÓCRITAS!
Vamos deixar de hipocrisia e encarar os problemas raciais no Brasil com seriedade. Por que os negros não são mais ofendidos em públicos? Porque a maioria branca tomou consciência de que o racismo é uma merda, e sente na pele e na alma que brancos e negros são todos iguais? Não: porque hoje ser racista em público é crime e dá cadeia. Há muitas pessoas que são racistas, preconceituosas, por ignorância, e mostram sempre que podem o seu racismo e preconceito (disfarçadamente, porque ninguém quer ir para a cadeia). Se não fosse o rigor da lei contra o racismo, o negro estaria sendo ofendido e humilhado por ser negro, estaria sendo discriminado, estaria usando o elevador de serviço. Não é preciso ser um estudioso em racismo para perceber que, se não houver cotas para negros em empregos, escolas, universidades, eles vão continuar excluídos. Façam uma visitinha aos shoppings de SP e vejam quantos funcionários negros há nas lojas. Para 20 brancos há um negro, no estoque, escondido. Algumas grandes empresas evitam contratar negros; quando contratam, obrigadas por lei, evitam que os contratados tenham contato direto com o público. Nessas empresas os negros devem ocupar cargos que os mantenham longe do público, mesmo que ele esteja bem qualificado profissionalmente para a função. Essa é a realidade do negro no Brasil, assim age a elite branca no Brasil. Se não houver uma lei que obrigue a contratação de negros, que obrigue as universidades a manterem vagas para negros, os negros não terão as mesmas oportunidades que os brancos. Esperar que a elite branca compreenda, tenha consciência de que o negro é um ser humano como ela, é feito de carne e osso, que corre nas veias do negro o mesmo sangue que corre nas veias dela, de livre e espontânea vontade, é utopia. Outro dia assisti a uma cena que é corriqueira, uma criança falou para a mãe que a "negrinha" disse que a máquina só aceitava moeda, (aquelas maquinas de refrigerante); a mãe imediatamente disse para a criança que ela não podia falar assim, que era aquela "moça", que falar "negrinha" era feio e dava até cadeia. A mãe não ficou constrangida porque ser racista é ruim, ou porque ela entendia que negros e brancos são iguais -- isso ela teria transmitido ao seu filho --, mas sim porque ser racista é crime, porque há uma lei contra o racismo. É imensa a importância das cotas para corrigir as injustiças que vêm sendo cometidas há séculos contra os negros; é uma forma rápida e eficiente de combater o racismo, esse câncer que corrói o Brasil às escondidas. Livros, professores, a TV, o teatro, a musica e os intelectuais pregam em verso e prosa contra o racismo, tentam há séculos conscientizar as pessoas de que o racismo é uma doença maligna. Isso tudo, sem as a lei de cotas e sem o estatuto da igualdade racial, vai continuar por séculos apenas no blá-blá-blá. A solução efetiva para diminuir o desemprego do negro, a falta de vagas nas universidades, a exclusão social do negro, depende da lei de cotas e do estatuto da igualdade racial. Quem não quer a lei de cotas e da igualdade racial é o racista enrustido. Quem se beneficia da falta de estudo do negro, da condição de excluído do negro só por ser negro, é a elite branca, porque paga salários menores para empregos sempre piores. Quem não tem diploma, conhecimento, e é negro, não pode exigir um emprego melhor, um salário melhor, um cargo melhor, tem de se contentar com as condições imposta pela elite branca. É a essa situação que as leis de cotas e o estatuto de desigualdade racial vão pôr um fim.

Jussara Seixas.