Computador mais barato e a prazo aumenta vendas à classe C
Claudia Facchini e João Luiz Rosa
06/06/2006
Manuel Cristovão da Silva sempre quis ter um computador mas, com o salário que recebe como funcionário da Secretaria da Saúde da Prefeitura de São Paulo, nunca sobrava dinheiro no fim do mês. Só agora, aos 55 anos de idade, ele conseguiu ter seu primeiro desktop. Recentemente, Silva foi a uma loja do Extra e comprou um PC da marca Novadata, pelo qual ele pagará 24 prestações mensais de R$ 70. Como Silva, que já adquiriu uma assinatura do Terra para acessar a internet, muitas outras pessoas da classe C estão comprando seu primeiro computador e deixando de figurar nas estatísticas dos excluídos digitais. O varejo é um termômetro desse movimento inédito. Na Casas Bahia, rede voltada ao consumo popular, as vendas de PCs cresceram 240% no primeiro quadrimestre em número de peças. No Wal-Mart, as vendas de desktops também têm apresentado crescimento mensal de 200%, em volume. O Carrefour e o grupo Pão de Açúcar registram aumentos mensais entre 30% e 40%. A evolução é puxada por três movimentos, concordam varejistas e fabricantes. O primeiro deles é o dólar baixo. "A queda do dólar do patamar de R$ 3 para o de R$ 2,20 proporcionou, sozinho, uma redução de 27% no preço dos micros", diz Hélio Rotenberg, diretor da fabricante nacional Positivo. O outro ponto foi a MP do Bem, que isentou os equipamentos de PIS-Cofins, reduzindo a carga tributária em 9,25% para as máquinas de até R$ 2,5 mil. "Um computador que custava R$ 2 mil em janeiro do ano passado, hoje sai por R$ 1,3 mil", compara Rotenberg. O terceiro fator que alavancou as vendas foi a concessão de financiamento. Para comprar seu computador, Manuel Silva usou uma linha especial do BNDES, criada dentro do programa Computador para Todos do governo federal. O banco estatal deu o pontapé inicial, mas o mercado passou a andar sozinho na concessão de crédito. A Casas Bahia, o Carrefour e o Wal-Mart, por exemplo, concedem por conta própria financiamentos tão longos e baratos quanto os fornecidos pelo BNDES. "Nossas condições são até melhores", diz Eduardo Godoy, diretor de informática do Wal-Mart. "Estamos dividindo em 25 parcelas, com taxas de 1,67% ao mês", acrescenta. Se o dólar subir até R$ 2,50, deve ocorrer um aumento de preço dos equipamentos, mas sem afetar o consumo, diz Rotenberg, da Positivo. Acima desse valor, as vendas podem ter alguma retração. Mas é consenso na indústria e no comércio de que não se trata de apenas uma onda de consumo. "O crescimento das vendas não é passageiro e deve se manter ao longo do segundo semestre", prevê Rita Bellizia, gerente comercial de informática e eletrônicos do grupo Pão de Açúcar.