10 maio 2006


PSDB É TEMERÁRIO!

Será que o Vereza, a Torloni, a Mercury, o Jô Soares e o resto dessa cambada de pilantras têm coragem de defender esse programa de cara limpa, fazendo o debate público e franco com o povo brasileiro???

Adauto Melo
Grupo Beatrice
grupobeatrice@oi.com.br

Procurado pelo Conversa Afiado, Nakano informou, por intermédio de sua assessoria, que não iria se manifestar. Ele defende um ajuste por meio do qual o país levaria a zero em dois anos o déficit nominal (diferença entre receitas e despesas, incluindo juros). Proposta semelhante já havia sido apresentada no ano passado pelo deputado federal Delfim Netto (PMDB-SP), atualmente um dos economistas mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para o ministro Mantega, a adoção de tal medida sem uma redução “expressiva” da taxa de juros produziria uma “brutalidade” sobre programas sociais como o Bolsa-Família, que beneficia 8 milhões e meio de famílias. “Você pode até caminhar para um déficit nominal zero se tiver condições para que a taxa de juros caia de forma expressiva”, declarou o ministro, para quem é motivo de temor uma eventual tentativa de se eliminar o déficit por meio de uma elevação ainda maior do superávit primário (economia de recursos feita pelo governo para abater a dívida pública).

“Eles já deviam ter feito isso quando foram governo e não fizeram. No primeiro mandato, fizeram superávit zero. No segundo, 3,70%, 3,75%. Nós estamos fazendo mais superávit primário, e eu acho que está de bom tamanho. Se você disser que vai fazer mais ainda, fico temeroso. E aí tem que me dizer de onde é que vai tirar”, disse Mantega.
De acordo com o ministro, os 4,25% de superávit praticados atualmente pelo governo Lula superam todos os superávits anuais obtidos pelos tucanos durante os oito anos da administração Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, a economia de recursos não ultrapassará esse patamar porque não é necessário. “É um dos maiores esforços que já se fez na nossa história”, afirmou.
O ministro da Fazenda defende “uma solução de mercado” para a Varig. O governo pode dilatar prazos, e o BNDES pode emprestar dinheiro à empresa que comprar, “desde que seja uma empresa saudavel”. Mantega, que acabou de deixar a presidência do BNDES para assumir como ministro da Fazenda, lembra que os diretores do BNDES podem ser punidos se emprestarem a empresas, que, por exemplo, não paguem impostos.

Paulo Henrique Amorim – Ministro, qual é a prioridade da política econômica para o ano eleitoral?

Guido Mantega – A prioridade da política econômica é permitir que o desenvolvimento finalmente se implante no Brasil. Nós já estamos na rota do crescimento. Esse crescimento já começou em 2004, e 2006 é o ano da consolidação desse crescimento. A economia brasileira está saudável, passa por um momento muito favorável, todas as estatísticas macroeconômicas estão equilibradas. Então, o que temos de garantir é que isso prossiga, inflação sob controle, que a dívida pública continue caindo, que continue a responsabilidade fiscal, porque o nosso objetivo é que a economia cresça, num padrão maior do que ela vinha crescendo no passado.

Paulo Henrique Amorim – Isso significa, ministro, que, por acaso, o sr. vai mudar a política fiscal ou que o Banco Central será convencido ou constrangido a acelerar a queda da taxa de juros?
Guido Mantega – A política fiscal é a mesma, uma política fiscal muito bem sucedida. Foi ela que nos deu esta segurança, esta garantia de responsabilidade que o governo demonstrou. Continuamos projetando um superávit primário de 4,25%, ou seja, o governo tem de economizar um dinheiro para poder pagar uma parte da dívida contraída no passado. E isto mostra aos credores, à sociedade, ao mercado, que é um governo responsável. Então, esta responsabilidade vai continuar.

Paulo Henrique Amorim – Mas também não será maior que 4,25%?

Guido Mantega – Não será maior que 4,25% porque não é necessário. É bom lembrar que 4,25% é um dos maiores esforços que já se fez na nossa história. Porque não é um ano de 4,25%. Só para você ter uma idéia da cifra, nós estamos falando de R$ 70 bilhões que têm de ser economizados. Ao longo da história, raro foi o momento em que quatro anos seguidos você fez mais de 4% de superávit primário. Então isso mostra que a responsabilidade fiscal veio para ficar. É uma conquista. Do ponto de vista da taxa de juros, é claro que o governo como um todo – e aí incluo o Banco Central, o Ministério da Fazenda, o presidente da República – todos queremos que as taxas de juros sejam as menores possíveis. Acho que é uma das anomalias com as quais ainda convivemos no Brasil, uma das poucas ainda que nos distinguem de outros países, que temos taxas de juros muito elevadas. E é claro que isso não é por prazer ou por divertimento das autoridades monetárias. Ninguém gosta de taxa de juros, salvo um ou outro que possa ter vantagem com ela. Então, há um esforço do governo em criar as condições para que as taxas possam cair. A taxa tem de cair, mas a inflação tem de ser mantida sob controle. Em hipótese nenhuma nós queremos que haja uma volta da inflação no país porque a inflação é um mal que atinge todos os segmentos da sociedade, principalmente os assalariados, aqueles que têm rendas fixas. Então, o Banco Central tem a incumbência de zelar pela inflação e ao mesmo tempo praticar a taxa de juros a mais baixa possível que viabilize essa inflação no seu patamar de acomodação. Então, não há nenhum conflito, nenhuma dúvida. Eu tenho um bom relacionamento com o Banco Central, eu converso com o Meirelles. Alguns jornais chegaram a dizer que houve uma desavença, um confronto, mas não houve confronto nenhum. Apenas houve a divulgação da ata do Copom que apresenta um ponto de vista mais cauteloso. E você sabe que os banqueiros sempre costumam ser mais cautelosos, sempre um pouco mais conservadores. Isso faz parte da liturgia do cargo. E eu fiz uma análise objetiva da situação da economia brasileira. A inflação, ela está sob controle.

Paulo Henrique Amorim – Ministro, muitas vezes eu o entrevistei na condição de economista da oposição e lhe perguntava o que achava da política econômica do governo Fernando Henrique. Agora, nós vamos nos colocar numa posição um pouco diferente e eu vou lhe perguntar sobre o que o sr. acha das idéias do economista e professor Yoshiaki Nakano, que aparentemente é o principal economista do candidato Geraldo Alckmin, que prega duas providências importantes, na minha opinião: o déficit nominal zero em dois anos e a redução acentuada do câmbio para facilitar as exportações. O que o sr. acha dessas duas idéias?

Guido Mantega – Em primeiro lugar, lembrar que o Yoshiaki é meu colega na Fundação Getúlio Vargas há mais de 20 anos. Somos pessoas do mesmo departamento. Além de tudo, ele é meu amigo pessoal. Mas eu devo dizer que o que ele está propondo é um pouco temerário. Porque ele quer fazer déficit nominal zero. Eu não sou contra o déficit nominal zero, desde que seja feito não com uma brutalidade sobre as despesas do Governo, sem cometer uma brutalidade como, por exemplo, acabando com o Bolsa Família, que é um programa social muito importante, que está tirando vários brasileiros da condição de miséria; sem que se reduza as despesas com saúde. Você pode até caminhar para um déficit nominal zero se você tiver condições para que a taxa de juros caia de forma expressiva. Porque o déficit nominal é a conta do primário mais a despesa com juros. Hoje, a despeja com juros é elevada. Então, se você conseguir reduzir essa despesa com juros, você pode até caminhar para uma taxa nominal próximo de zero. Agora, o que me preocupa é que o candidato Alckmin tem falado em aumentar o superávit primário. Se você quiser atingir o nominal zero aumentando o superávit primário, eu acho temerário. Primeiro, porque eles já deviam ter feito isso quando foram governo e não fizeram. O PSDB já governou o país durante oito anos. No primeiro mandato, eles fizeram o superávit zero, não fizeram superávit nenhum. No segundo mandato, foi feito um superávit de 3,70%, 3,75%. Nós estamos fazendo mais superávit primário, e eu acho que está de bom tamanho. Se você disser que vai fazer mais ainda, eu fico temeroso porque conheço bem as contas públicas. E aí tem que me dizer de onde é que você vai tirar, para a população saber. Tem que dizer: “População, esse governo está querendo acabar com o Bolsa Família”. São 8,5 milhões de famílias que se beneficiam. Você pode aumentar o superávit primário por aí. Ou então não vai dar aumento de salário mínimo. Ou então vai diminuir investimento. O investimento vai ser sacrificado. Nós não vamos ter investimentos em portos, rodovias, infra-estrutura. Isso tem um custo. Ao meu ver isso pode levar a uma recessão ou pode levar a uma perda de apoio que as famílias carentes do país têm. Eu fico muito temeroso com isso.

Paulo Henrique Amorim – Uma outra coisa é com relação ao câmbio. O José Serra, hoje candidato a governador, quando ele era aparentemente candidato à Presidência da República, chegou a falar em administração do câmbio. Agora o professor Nakano fala que é preciso promover uma acentuada desvalorização do Real. O que o senhor acha disso como governo?

Guido Mantega – Eu acho que você pode como candidato enunciar uma série de propósitos e metas e depois ter uma certa dificuldade em realizá-las. Ele precisa explicar melhor o que ele quer fazer. Porque eu também desejaria que houvesse uma desvalorização do Real. Mas desejar é uma coisa, outra coisa é como você procede, sem que você possa violentar os princípios de uma boa política cambial. Hoje nós estamos num país com câmbio flutuante. Me parece que é o melhor regime, justamente porque o governo anterior fez um outro câmbio que quase nos levou à bancarrota, que era um câmbio intervencionista, um câmbio fixo. Eu sou partidário de um câmbio flexível e acho que estamos numa situação de valorização do Real, em grande parte, por causa do sucesso que nós temos tido na área de comércio exterior. O Brasil está conseguindo exportar muito porque as empresas são competitivas e o produto brasileiro é bom. E com isso nós estamos trazendo muitos dólares no país. Nós temos uma injeção de dólar no país hoje de uns R$ 30 bilhões por ano. Está sobrando dólar no país. Você sabe, é aquela lei da oferta e demanda. É muita oferta de dólar, o dólar se desvaloriza e a demanda é pelo Real. Porque o Real rende mais. Você aplicar em dólar hoje não é uma boa opção no país.

Paulo Henrique Amorim – A Bolsa está a 40 mil pontos, não é?

Guido Mantega – A Bolsa está acima de 40 mil pontos. Com a ata do Copom, ela desceu. Então, não é fácil você fazer isso, a menos que você use algum estratagema, alguma artificialidade, da qual eu tenho receio. O que nós podemos fazer é estimular as importações e isso já está acontecendo. Se você tiver um superávit comercial menor, e nós não precisamos ter um superávit de R$ 45 bilhões, como tivemos no ano passado, há um equilíbrio maior entre a oferta e a demanda de dólar. Então, isso já está acontecendo, no primeiro trimestre as exportações cresceram 27% e as importações, 31%. Então, nós caminhamos para um superávit comercial de uns R$ 35 bilhões, que está de bom tamanho.

Paulo Henrique Amorim – Ministro, só para tocar num último assunto, não quero abusar da sua paciência. Nós estamos diante dessa questão gravíssima, que é a questão da Varig. O sr. já disse algumas vezes que o governo não gostaria de colocar a Varig num hospital. Acontece que há poucos dias o ministro da Defesa, Valdir Pires, disse que o presidente Lula gostaria de encontrar uma solução para a Varig. A ministra Dilma Roussef também tem falado em encontrar uma solução para a Varig. Qual é sua posição de ministro da Fazenda com relação à Varig?

Guido Mantega – Olha, de fato, há uma preocupação geral e do governo para encontrar uma solução porque a Varig é um patrimônio nacional, ela tem um papel importante. Agora, nós temos que levar em conta que a Varig teve uma gestão privada durante muitos anos e a situação dela é o resultado dessa gestão. Então, nós não podemos transferir agora para o Governo o ônus de consertar aquilo que foi feito por essa gestão privada. Então ela tem que ter uma solução de mercado, na minha opinião. É claro, no que o governo puder ajudar vai ajudar. Se ele puder dilatar algum prazo, se o BNDES puder dar um financiamento. Mas o BNDES pode financiar uma empresa saudável, então tem que ser alguém que vá fazer um investimento na Varig. Isso já está disponível desde que eu era presidente do BNDES. Se aparecer um grupo econômico disposto a investir na Varig, recuperá-la, mantê-la voando e precisar de um financiamento, o BNDES poderá fazê-lo. Agora, um financiamento direto para a Varig é impossível, a lei não permite, Paulo Henrique. O BNDES está submetido a rigorosos controles. Você não pode emprestar para uma empresa que não tenha Certidão Negativa de Débitos dos tributos. Os diretores do BNDES são responsáveis por isso e responderão perante a Justiça. Então a disposição de ajudar existe. Se houver alguma solução, nós a trilharemos. Agora, isso não passa por recursos do Tesouro, não passa por recursos do governo federal. Mas tudo o que nós pudermos fazer na área regulatória, na área de protelar alguma coisa, isso será feito porque a Varig é muito importante para o país.
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