Você confia em quem se intitula exterminador da raça humana?
Você confiaria a guarda de seu filho a esse sujeito?
Você confia nesse sujeito para lhe representar no governo?
Eu não confio nem a guarda do meu cachorrinho a esse sujeito.
Bornhausen conta porque falou"raça" e escolhe a sua esquerda
Jorge Bornhausen: malabarismos
Por Bernardo Joffily
O banqueiro e senador Jorge Bornhausen (SC) acusou o golpe. Com mais de um mês de atraso, viu-se na necessidade de escrever um artigo ("Raça, segundo são João", publicado nesta quinta-feira, 29, na seção "Tendências e Debates" do jornal Folha de S. Paulo), para dar explicações sobre sua frase-confissão em 26 de agosto passado, em um seminário no Ciesp, entidade patronal dos industriais paulistas.
Alguém perguntou se Bornhausen não estava "desencantado" com a crise política no Brasil. "Desencantado? Pelo contrário. Estou é encantado, porque estaremos livres dessa raça pelos próximos 30 anos", exultou o dirigente pefelista, baixando a guarda e confessando o que lhe ia no íntimo, talvez por se sentir à vontade em um colóquio onde estava certos de que não haveria infiltrações da referida "raça".
Quem é a "raça" de Bornhausen?
Ocorre que durante este mais de um mês o palpite infeliz correu o Brasil e o mundo. "Minha profecia [...] teve espantosa repercussão", admite Bornhausen na Folha.
Conforme a versão do presidente do PFL, "os tais indesejáveis que nos envergonham", que ele chama "grandes malandros", agora, "passando por vítimas, acusam-me de reacionarismo explícito, de ter profetizado um castigo de 30 anos não para eles, mas para as esquerdas em geral".
De fato a resposta veio, pronta e indignada, dos mais numerosos segmentos da esquerda brasileira e mesmo do exterior. Por sua contundência e repercussão — como a internet ajuda nestas horas! —, destacou-se o artigo de Emir Sader, "O ódio de classe da burguesia brasileira" (clique aqui para ver). O portal Vermelho pronunciou-se no editorial "Bornhausen escancara ódio da direita" (clique aqui para ver).
Obrigado a se explicar
O tom preconceituoso do comentário — "vamos nos ver livre dessa raça" — agravou a saia-justa do senador de impoluta ascendência ariana, embora, a bem da verdade, a intenção não fosse tanto exprimir preconceito racial e sim preconceito de classe e de ideologia.
Eis portanto o senador Bornhausen obrigado a se explicar por escrito. Contorce-se em malabarismos. Diz que usou o "dessa raça"... "espontaneamente, sem premeditação". Cita o lexicólogo Antenor Nascentes e também são João Batista (in Evangelho de Mateus), na tentativa de consertar o estrago. Alega que respondeu de "bate-pronto". Argumenta que usou "raça" mas "não como designação preconceituosa de etnia, ideologia, religião, caracteres".
Boa pergunta, senador...
Mas o trecho mais esclarecedor do artigo de Bornhausen é onde ele explica que não pretendeu atacar "o pensamento socialista" e nem "a esquerda brasileira". A essa altura o presidente do PFL, com a autoridade que sua biografia lhe confere, assevera que "os setores de maior representatividade da esquerda brasileira já estão na oposição". E passa aos exemplos: Leonel Brizola, mais os deputados Roberto Freire (PPS-PE) e Fernando Gabeira (PV-RJ).
Pobre Brizola, há de ter se contorcido no túmulo por mais essa expiação de um equívoco localizado de fim de vida: ser invocado em defesa de Jorge Bornhausen, e ainda dessa frase! A propósito, note-se que o PDT fundado por Brizola, apesar do assédio que sofreu, e do que foi dito em contrário na imprensa, nesta quarta-feira (28) não sufragou o candidato de Bornhausen à presidência da Câmara dos deputados, José Thomaz Nonô (PFL-AL). No primeiro turno, votou fechado em Alceu Collares (RS); e no segundo, concentrou-se em Aldo Rebelo (PCdoB-AL).
Quanto a Freire e Gabeira, estão bem vivos. Vivíssimos. E de fato, não é de hoje que têm votado em uníssono com a bancada pefelista. Bem merecem que Bornhausen enalteça sua "autenticidade", seu caráter "emblemático", sua "coerência e honestidade", e conclua o parágrafo indagando: "Não são esquerda?". Boa pergunta, senador...
Bornhausen há de ser mesmo um especialista na matéria. É filho de uma rica família oligárquica, os Konder-Bornhausen, que mandou e desmandou em Santa Catarina de 1906 até a Revolução de 30, e recuperou o comando sob a ditadura militar. Seguindo essa tradição familiar, filiou-se à UDN, depois fundou a Arena, o PDS e o PFL. Foi governador biônico sob a ditadura e ministro de Fernando Collor de Mello. Com essa ficha, amigo internauta, cabe alguma dúvida sobre qual é a "raça" da qual Jorge Bornhausen quer se ver "livre"?