Por Bernardo Joffily
O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) foi eleito presidente da Câmara na noite desta quarta-feira (28), por 258 votos, contra 243 para seu adversário, o oposicionista José Thomaz Nonô (PFL-AL). A eleição é vista pela unanimidade dos observadores como a mais importante vitória dos partidários do governo Lula desde fevereiro passado.
O cálculo oposicionista
Foi na madrugada de 15 de fevereiro que a oposição conservadora, polarizada pelo PSDB e o PFL, começou a partir para a ofensiva — por ironia, em outra eleição para a presidência da Câmara, em que descarregou seus votos em Severino Cavalcanti (PP-PE).
Sete meses depois, foi a mesma oposição que requereu a cabeça de seu eleito, com base em denúncia publicada na revista Veja, baluarte semanal oposicionista. Era a sua chance de consolidar a ofensiva com uma conquista institucional.
Pelo menos, foi este o cálculo que a oposição fez. Mas deu errado.
Raposices da imprensa anti-Lula
Um movimento de reversão iniciou-se na quinta-feira passada, e em seis dias achou o nome, reuniu os apoios e venceu, numa batalha provocada pela oposição, que escolheu a sua hora e o seu lugar.
A imprensa anti-Lula enfatiza hoje que a vitória de Aldo deu-se por apenas 15 votos, apesar do empenho do governo, e depois de um primeiro turno empatado, 182 a 182. Age como a raposa de La Fontaine, a desdenhar as uvas. E veja que raposices não lhe faltam.
Essa imprensa já esqueceu, ou pretende que seu público esqueça, o que publicou nestes seis dias. Como exemplo expressivo, cite-se a análise "Lula lança seu próprio Severino", de Fernando de Barros e Silva, editor da seção "Brasil" da Folha de S. Paulo (23/9). Segundo o texto, o lançamento de Aldo, "o ex-ministro que nunca saiu do baixo clero [...] parece piada. Parece provocação. É provável que seja só incompetência -mais uma."
Não era.
Cesar ameaça com "inviabilização"
Aldo Rebelo assumiu a presidência de uma Câmara cuja imagem pública se encontra em seu pior momento em 182 de vida parlamentar brasileira. Num momento em que tramitam na Casa processos de cassação de 15 deputados por quebra do decoro parlamentar. A atividade legislativa está travada desde maio. E o prazo para uma reforma política que vigore já nas eleições de 2006 extingue-se amanhã (30), sem que se tenha mudado as regras que desembocaram nos escândalos de corrupção e na crise política.
Assume também em meio a uma luta política que está longe de ter se encerrado com a eleição de ontem. Ao fim da votação, o candidato derrotado, que reassumiu a primeira vice-presidência da Casa, cumprimentou o vencedor mas comentou que “o governo e os deputados que estão para ser cassados vão dormir mais tranquilos”.
Já o prefeito do Rio de Janeiro e candidato presidencial do PFL, Cesar Maia — do alto dos seus 5% de intenção de voto — escreveu que o resultado de quarta-feira "significa a completa inviabilização do processo legislativo". E profetizou que "paradoxalmente a vitória é a derrota", pois a oposição passou de "minguados 130 votos" para "explícitos 243 votos".
"Um alagoano tranquilo"
O novo presidente da Câmara assume com a consciência de que a "inviabilização" sugerida por Cesar Maia penalizaria em primeiro lugar o Brasil. Por isso lembrou, interrompido por aplausos, que "acima do governo e da oposição está o país, está o povo, está a sociedade brasileira, está a necessidade de restabelecer o ambiente de negociação, de diálogo, de pacificação dos espíritos, na sociedade e na Casa".
Ao discursar antes da eleição, Aldo apresentou-se como "um alagoano tranquilo", homem do diálogo e da conciliação. E advertiu seus 512 pares de que "ou esta Casa busca ampla unidade em torno da sua agenda, do seu caminho, das suas propostas, ou nos digladiaremos e nos fragilizaremos numa briga inútil de facções"
O futuro dirá se este apelo será ouvido.
Em pauta a reforma política
A agenda do novo presidente da Câmara começa hoje (29), na primeira reunião com os líderes partidários, sobre a reforma política — prioridade assumida ainda durante a campanha-relâmpago que precedeu a votação de ontem. O objetivo é discutir um calendário de votações para a reforma. Ninguém acredita que o tema avance antes da data fatal de sexta-feira, mas há a alternativa de dilatar o prazo através de emenda constitucional.
Sobre o momentoso assunto das punições, afirmou que "terei coragem para enfrentar os processos que atingem deputados, para condenar quem tiver culpa, mas também terei coragem e isenção para defender quem não tiver culpa, porque a Casa deve ter coragem de agir com equilíbrio e com justiça". Lembrou ainda que não cabe ao presidente, mas aos órgãos da Câmara e ao seu Plenário decidir sobre a questão.
Com agências