A VERDADE APARECE, COM PROVAS.
Corretor desmente doleiro e Valério, com PROVAS
Brasília - Amparado em documentos da Bolsa de Valores, extratos bancários oficiais e outras provas, o investidor Enivaldo Quadrado, sócio da corretora Bônus Banval, mostrou nesta sexta-feira a Polícia Federal que nunca fez remessas ao exterior para o deputado federal José Dirceu (PT-SP), nem efetuou pagamentos, transferências ou outra operação financeira para o PT ou seu ex-tesoureiro, Delúbio Soares.
Todo o dinheiro que ele diz ter recebido do empresário Marcos Valério de Souza - cerca de R$ 6,5 milhões - foi aplicado em barras de ouro e outros ativos da Bolsa Mercantil e de Futuros (BMF), conforme os papéis apresentados.
O depoimento, que durou mais de seis horas - um dos mais longos até agora, foi considerado muito importante pela PF porque pode indicar que tanto o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, como o empresário Valério mentiram em seus depoimentos à CPI e às autoridades para obter vantagens. Toninho para reduzir a pena e Valério, para engordar a dívida que ele atribui ao PT. Os dois serão convocados a prestar novo depoimento.
"Ele falou de forma convincente e calçado em documentação. Não vimos nenhum vestígio de remessas ao exterior", afirmou um delegado que atua no caso.
A PF desconfia de que a versão de Barcelona pode ter sido engendrada pelo seu advogado, Ricardo Sayeg, para tirar proveito da crise ética por que passa o País em favor do cliente, condenado a 25 anos de prisão em vários processos por sonegação de impostos, crimes contra o sistema financeiro e formação de quadrilha.
Sayeg é também advogado de José Carlos Batista, sócio da corretora Guaranhuns, também acusada de fazer remessas ilegais em associação com Barcelona.
Laranja
Quadrado confirmou à PF que atuou como "laranja" para Valério, para o qual fez três saques, no montante de R$ 650 mil, na agência do Banco Rural da Avenida Paulista, em São Paulo. Os saques, conforme destacou, seriam porque Valério não queria viajar transportando dinheiro. Neste mesmo período, ele teria se interessado em comprar a Bônus. O investidor explicou que fez os saques para agradar ao empresário, porque a Banval atravessava dificuldades financeiras e ele pretendia vendê-la a Valério, ao qual fora apresentado meses antes pelo líder do PP, deputado José Janene (PR).
Barcelona acusou a Banval de realizar operações de remessas de dinheiro, para fins de lavagem, conhecidas como "esquenta-esfria", a fim de produzir recursos de caixa dois, em favor de Dirceu. Valério, por sua vez, informou ao Ministério Público Federal que fez repasses de R$ 3,5 milhões para petistas indicados por Delúbio Soares. "Vim aqui mostrar e desmontar essas mentiras", disse Quadrado à imprensa, ao final do depoimento.
Triangulação
Pelos documentos apresentados, os recursos confiados por Valério a Banval foram entregues para a empresa de investimentos Natimar Negócios Intermediações Ltda, escolhida pelo próprio empresário, entre as clientes da Banval, para centralizar suas aplicações. Com título que lhe permite atuar na BMF, a Banval agasalha várias empresas de investimentos sob seu guarda-chuva, entre elas a Natimar, escolhida por Valério, que enviava seus recursos por meio das suas empresas 2S e Rogério Tolentino Associados. A triangulação desse tipo de investimento parece esquisita, mas segundo a PF é assim mesmo que funciona no mercado.
Na hora do retorno do investimento, conforme revelou Quadrado, Valério dava o sinal indicando nomes para que a Banval fizesse as transferências de dinheiro de resgate dessas aplicações. Ele prometeu entregar até a próxima quarta-feira a lista completa dos beneficiados, mas a PF já confirmou que entre eles não há os nomes de Dirceu, Delúbio, PT, parlamentares ou prepostos do partido.
Vannildo Mendes
http://www.estadao.com.br/nacional/noticias/2005/ago/26/220.htm