21 novembro 2014

Lula afirma que, para a oposição, a eleição não acabou

Por Cristiane Agostine | Valor
FOZ DO IGUAÇU (PR)  -  O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou nesta quinta-feira a oposição ao governo federal e a imprensa e disse que a disputa eleitoral ainda não acabou. Lula defendeu a presidente Dilma Rousseff e afirmou que o segundo mandato de sua sucessora será uma "surpresa", mas ponderou que Dilma terá de fazer "o melhor governo" do país. O ex-presidente tem demonstrado que pretende continuar na vida pública e influenciar os rumos do país.
"Tenho a conviccão de que aqueles que estão atacando a presidente Dilma - e parece que as eleições não acabaram ainda - vão ter uma surpresa com o segundo mandato. Vão ter uma surpresa extraordinária porque ela sabe que ela tem que fazer o melhor governo desse país", disse o ex-presidente, ao discursar em um evento promovido pela Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu (PR). "Ela sabe que daqui a quatro anos vai ter que escolher qual é a imagem que quer deixar, depois de uma mulher governar este país oito anos. E tenho certeza de que, se eu conheço a nossa presidente, ela vai dar um show no segundo mandato", afirmou.
O ex-presidente tem participado ativamente de reuniões políticas em São Paulo e em Brasília, com mi nistros e parlamentares do PT e de partidos da base aliada. Lula tem atuado como uma espécie de consultor e articulador polític o informal do governo. Só neste mês, o ex-presidente teve dois longos encontros com Dilma em Brasília, para discutir os rumos do segundo mandato, a escolha dos novos ministros -- especialmente o da Fazenda -- e os desdobramentos da Operação Lava-Jato, que tem desgastado o governo federal.
Ao defender Dilma, Lula lembrou das dificuldades enfrentadas em seu primeiro mandato (2003-2006), marcado pelo escândalo do mensalão. "Não foi fácil. Tentaram até falar em impeachment para mim. Eu disse a eles: 'Vocês querem impeachment? Nós vamos disputar é na rua. Vamos para a rua conversar com o povo", afirmou. "Eles têm que aprender a respeitar o resultado das urnas. Na democracia ganha quem tiver mais voto. As pessoas precisam parar de achar que democracia só existe quando eles governam o país."
Lula disse ainda que Dilma é vítima do preconceito de classe, por promover políticas públicas à população mais carente. "O ódio demonstrado contra a presidente Dilma não é porque em nenhuum momento ela prejudicou o sistema financeiro, empresário. O ódio é exatamente porque a filha do pequeno agricultor está virando doutora neste país. É exatamente porque um catador de papel já não anda mais de cabeça baixa como se fosse um cidadão de quinta categoria", disse o ex-presidente petista, sendo muito aplaudido.
Em novos ataques à imprensa, o ex-presidente afirmou que a "televisão brasileira prefere mostrar as coisas que não deram certo nesse país" e que a "a imprensa tem predileção para anunciar desgraça".
Em alguns momentos, o ex-presidente discursou como se ainda estivesse no cargo. Ao lado do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), Lula contou que está negociando desde o ano passado a mudança no pagamento dos royalties a cidades que têm hidrelétricas. O ex-presidente quer que a população afetada diretamente pelas hidreléticas, como a comunidade indígenas, ribeirinhos e pescadores, sejam os responsáveis por receber e administrar a compensação financeira, tirando os recursos das mãos dos prefeitos.
Lula sinalizou que pretende se manter atuante nos rumos do governo e, em tom de brincadeira, disse que tem pedido em suas orações por mais alguns anos de vida. "Tenho conversado com Deus todo dia. O céu pode ser muito bom, mas quero ficar na terra mais um pouco. Pode ir levando quem você quiser, mas me deixa aqui um pouco mais, porque acho que nós temos coisa para fazer neste país", afirmou.