16 setembro 2014

Empresariado de Ponta Grossa propõe cassar voto de cidadãos e eliminar leis trabalhistas


Por Davis Sena FilhoBlog Palavra Livre

 

FIOR TEM NOSTALGIA DO BRASIL COLÔNIA E QUER O FIM DE DIREITOS DE CIDADANIA.

Ao contrário do filme “De volta para o futuro”, sucesso do cinema na década de 1980, os empresários ou os endinheirados da cidade de Ponta Grossa, no Paraná, resolveram “viajar” pela máquina do tempo, e, diferentemente da maioria das pessoas normais que tem curiosidade de saber sobre o futuro de suas vidas, o que é uma evidência de ordem racional, a classe dominante de Ponta Grossa resolveu voltar ao passado, especificamente ao Brasil Colônia do século XVIII, quando apenas as pessoas do sexo masculino, de peles brancas e proprietárias de terras e de escravos tinham o direito de votar em seus candidatos e representantes.

 

Contudo, inacreditavelmente e de forma surreal, a diretoria da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (Acipg), com a aquiescência de seus associados diversificados em 21 setores, apresentou documento aos candidatos a prefeito convidados para debater na entidade empresarial, com propostas e reivindicações da importante categoria empresarial, que ora se encontra muito preocupada com os programas de transferência de renda do Governo Federal, em parceria com os estaduais, e, obviamente, com a participação também das prefeituras municipais, como é o caso de Ponta Grossa.

 

Dentre as inúmeras reivindicações de homens e mulheres que atuam no segmento empresarial pontagrossense, duas chamaram a atenção pelos seus conteúdos perversos: 1) a redução de direitos trabalhistas; e 2) o impedimento de cidadãos cadastrados em programas sociais, a exemplo do Bolsa Família, de votar em eleições. Inacreditável! Além de ser inconstitucional, apenas pessoas consideradas criminosas e condenadas em terceira instância perdem o direito ao voto. Muita gente pensa assim. Basta qualquer pessoa acessar a internet, ver televisão, ler jornais e revistas e ouvir debates políticos e empresariais.

 

Entretanto, não me lembro de uma entidade oficial de uma categoria, mesmo sendo empresarial e privada, colocar essas barbaridades no papel, como o fez a Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa. Tal atitude de essência elitista e ordinariamente de interesse mercantil deixou as pessoas sensatas e que tem consciência do passado de escravidões deste País indignadas.

 

As propostas da Acipg são tão descaradas e infundadas que faz muita gente pensar como uma categoria empresarial de uma cidade paranaense importante elege e segue uma diretoria sem qualquer consciência social, sensibilidade política e conhecimento de história, ao ponto de apresentar documentalmente e, portanto, oficialmente, reivindicações e propostas que retiram direitos trabalhistas conquistados nos tempos do estadista Getúlio Vargas, bem como, inacreditavelmente, propõe que cidadãos brasileiros, trabalhadores e honrados, percam o direito de votar porque estão cadastrados em um dos programas sociais do Governo Federal, atualmente administrado por políticos trabalhistas do PT.

 

O “documento” dos empresários de Ponta Grossa é tão horroroso, draconiano e fora da realidade que atingiu em cheio o candidato a prefeito do PT, Péricles Holleben de Mello, que sofreu uma arritmia cardíaca por ter ficado irritado e deveras surpreso com tanta ignomínia e sordidez por parte de indivíduos ricos, mas completamente insensatos e egoístas. O político teve de ser hospitalizado, pois se alterou com tais pleitos formulados por empresários. Não é para menos.

 

E como não se sentir mal ao lidar com tamanha falta de sensibilidade, senso moral e crítico, além da total ausência de solidariedade por parte de empresários ricos? Cidadãos donos dos meios de produção e que deveriam, no mínimo, ter noção do que é correto e incorreto, bem como do que é justo e injusto — questões inalienáveis no que tange à condição humana, pois inerentes à sua existência e sobrevivência.

  

Fatores importantes de vida que, definitivamente, os inquilinos da Casa Grande de Ponta Grossa e também de todo o Brasil jamais levam em conta, porque o que lhes interessa é que o mundo seja para poucos, para que uma minoria possa se locupletar, a viver como os “nobres” escravocratas do Brasil Colônia, a ter acesso a tudo o que é de bom e melhor, em todos os setores e segmentos da vida, pois talvez acreditam, por intermédio de suas consciências vazias e corações de pedra, ser muito natural que milhões de pessoas vivam mal e a burguesia opulenta, de caráter patrimonialista e nepotista, viva como uma verdadeira diva sectária, a ter mucamas a abaná-la enquanto ela se refestela em sua própria iniqüidade.

 

Haja paciência para tanta infâmia e falta de discernimento. Afinal, estamos no terceiro milênio, em pleno século XXI e não mais nos tempos do Brasil Colônia, apesar de saber que a nossa burguesia é colonizada e subserviente ao estrangeiro, pois portadora de um gigantesco e indescritível, porque inenarrável complexo de vira-lata. A Casa Grande perversa, covarde e feroz como um leão quando se trata de oprimir e prejudicar os mais pobres. Por seu turno, subalterna, pusilânime e entreguista quando se depara com os mais fortes, a exemplo dos governos e das classes ricas dos países desenvolvidos. Êita burguesia chinfrim!

 

A verdade é que a cartilha da Acipg apresentada aos candidatos criminaliza a pobreza, pois, irremediavelmente, preconceituosa. Por sua vez, o direito ao voto é universal, conforme reza a Constituição de 1988. O presidente da associação de empresários, Nilton Fior, deveria ter mais consciência, e, se não a tem, poderia consultar pessoas que pudessem lhe aconselhar a não apresentar uma cartilha tão sectária e elitista para os candidatos, mesmo os de direita. Fior deveria respeitar os direitos civis da sociedade, que, em maioria, não deve concordar em perder direitos que levaram séculos para se transformarem em conquistas sociais e cívicas.

 

Cassar votos de cidadãos com plenos direitos civis é repetir o passado ditatorial do Brasil, País que foi vítima de um golpe civil-militar em 1964. Entidades empresariais maiores e mais poderosas que a Acipg conspiraram e financiaram os militares e os órgãos de repressão da ditadura. Passados 30 anos da redemocratização do Brasil, a cúpula empresarial de Ponta Grossa apresenta oficialmente uma cartilha (documento) que cassa o direito ao voto de cidadãos brasileiros, além de reivindicar a retirada de direitos trabalhistas. É o fim da picada. Realmente, tem setores da sociedade brasileira que são assustadores, pois ainda vivem em mundo paralelo, sem o brilho da luz. Ponta Grossa e seu povo não merecem essa gente. É isso aí.