Paulo Moreira Leite, Blog: Paulo Moreira Leite
"O início da propaganda política, hoje, abre uma etapa decisiva da campanha eleitoral de 2014.
Minha opinião é que o horário político irá permitir a Dilma Rousseff ampliar suas intenções de voto. As últimas pesquisas já mostraram que a presidente está em recuperação junto ao eleitorado. Conforme o DataFolha, ela cresceu 6 pontos na avaliação positiva — e diminuiu 6 pontos na negativa. Estes novos números não apareceram nas intenções de voto, o que é estranho mas pode ser compreensível. O mesmo eleitor que passou a reconhecer méritos no seu governo ainda quer mais um tempo para traduzir essa opinião em intenção de voto. Resta ver como essa melhora de avaliação será traduzida nos próximos levantamentos.
Outro aspecto envolve uma espécie de compensação. Não se trata, apenas, de um maior tempo na TV, o que só costuma ajudar quem tem o que mostrar.
Não vamos nos iludir. Vivemos num país onde a sociedade não tem direito aos serviços de um jornalismo plural e equilibrado, capaz de respeitar os fatos e retratar a realidade do país de forma isenta. O Brasil está entre as dez maiores economias do mundo, conheceu progressos sociais aplaudidos em toda parte mas tenta-se manter sua população no cativeiro da informação dirigida, da opinião sob encomenda, do pensamento único e da análise unilateral.
Empenhados abertamente em impedir uma quarta vitória consecutiva do bloco Lula-Dilma, que realizou pequenas, quem sabe ínfimas, mas necessárias mudanças numa estrutura de quase cinco séculos, nossos jornais, revistas e emissoras de TV inverteram a fórmula consagrada no lançamento do Plano Real por um ministro do PSDB. Mostram o que é ruim e escondem o que é bom.
Foi possível assistir a uma amostra da postura padrão de nossas emissoras na entrevista de Dilma Rousseff ontem, ao Jornal Nacional. Num esforço para prestar contas a 55,7 milhões de brasileiros que lhe deram seu voto há quatro anos — desculpe, mas não acho que uma presidente é igual a garota propaganda de marca de sabonete — Dilma ouviu questões quilométricas e foi recriminada porque não dava respostas curtas. Várias vezes teve a palavra cortada pelos entrevistadores, a tal ponto que foi obrigada a continuar uma resposta na pergunta seguinte. Chegou a ser advertida de que deveria guardar tempo porque os jornalistas queriam mudar de assunto antes do programa acabar.
Ouve falar que é preciso investir em educação mas não teve direito a saber o que é Pronatec nem tem um balanço do Pro Uni.
O jornalismo em vigor na maioria das emissoras brasileiras mudou o caráter do horário político. Ele oferece, hoje, informações sobre seu país que o noticiário padrão só apresenta de forma distorcida ou simplesmente omite.
É ali que se pode encontrar o contraponto ao pensamento único.
Tenho certeza de que muitos eleitores serão surpreendidos com novidades que irão aparecer durante a propaganda política. Irão descobrir um país que desconheciam.
Muitas pessoas acham o horário político uma chatice insuportável — eu concordo muitas vezes — mas convém lembrar: é só ali que candidatos a governar o país têm direito a palavra sem restrições de qualquer natureza. Seu limite é o tempo, que varia conforme a representatividade eleitoral de cada um, o que é um critério bastante razoável, vamos combinar.
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Mas não se conformam, o que só revela a dificuldade de conviver num ambiente no qual a população tem o direito de ouvir, sem intermediários, a voz daqueles que são representantes dos poderes soberanos da nação."