RICARDO CHAPOLA, FAUSTO MACEDO E FERNANDO GALLO -
Agência Estado
Cópia de e-mail em posse da Polícia Federal mostra que Jorge Fagali Neto,
apontado como lobista da multinacional francesa Alstom e intermediador de
propinas do cartel de trens, fez sugestões, no fim de 2006, sobre como o governo
estadual deveria agir no setor metroferroviário ao tucano Aloysio Nunes
Ferreira, então coordenador da campanha de José Serra (PSDB) ao comando do
Estado.
Uma dessas sugestões - a busca de dinheiro externo para obras de uma linha do
Metrô - acabou concretizada depois de Serra ser eleito e Aloysio assumir a Casa
Civil do Estado. A obra foi tocada por um consórcio que tinha a Alstom como
sócia.
Anexada nos autos da investigação sobre o cartel suspeitos de atuar nas
gestões do PSDB entre 1998 e 2008, a correspondência é de 26 de setembro daquele
ano eleitoral. Faltavam cinco dias para a votação e as pesquisas demonstravam
que Serra venceria no 1º primeiro turno, o que de fato ocorreu.
Na ocasião, além de coordenar a campanha de Serra, o hoje senador Aloysio era
secretário de Governo de Gilberto Kassab (PSD) na prefeitura paulistana.
Fagali é um dos 11 indiciados pela Polícia Federal por suspeita de
ilegalidades envolvendo contratos de energia da Alstom com o governo estadual.
Os investigadores afirmam que ele cometeu os crimes de corrupção, lavagem de
dinheiro e evasão de divisas. Fagali nega.
Antes de se transformar em consultor do setor metroferroviário, no qual a
Alstom também atua e é suspeita de formar cartel, ele havia sido secretário de
Transportes do governo Luiz Antonio Fleury Filho por um ano: em 1994. Fagali
sucedeu no cargo justamente Aloysio, que foi secretário de Transportes de Fleury
entre 1991 e 1993. Ou seja, Fagali e Aloysio se conhecem "há muitos anos", nas
palavras do próprio senador tucano, segundo quem o e-mail de 2006 foi apenas um
"alerta de um amigo" sobre a situação do setor metroferroviário naquele
momento.
O irmão do consultor, José Jorge Fagali, foi escolhido por Serra para
presidir o Metrô, estatal do governo, cargo que ocuparia entre os anos de 2007 e
2010.
Fagali, o consultor que mandou o e-mail com as sugestões para Aloysio, está
hoje com os ativos bloqueados na Suíça. São US$ 6,5 milhões travados pela
Justiça do país europeu por suspeita de lavagem de dinheiro.