247 - O jornalista e cientista político André
Singer coloca o dedo na ferida da imprensa, ao abordar o escândalo do
metrô em São Paulo. Será que haverá o mesmo ímpeto na luta contra a
corrupção, agora que os alvos são outros?
Às vésperas de o STF reiniciar as sessões sobre a ação penal 470,
notícias referentes ao cartel dos trens montado em São Paulo entre 1998 e
2008 colocam à prova o sentido republicano das instituições e grupos
sociais que têm se mobilizado contra a corrupção no último período.
Terão a mesma energia ou o ímpeto revelado irá esmorecer, agora que são outros os personagens na berlinda?
Observe-se a equivalência dos dois escândalos. Em um, acusa-se o
partido no poder federal de ter desviado algo em torno de R$ 30 milhões
para montar um esquema destinado a permanecer no governo em que se
encontra há dez anos. No segundo, fala-se em propinas da ordem de R$ 40
milhões para financiar o partido no Executivo estadual paulista há quase
duas décadas.
Ao que parece, movido pela convicção de que era necessário aplicar
punições exemplares a figuras do PT de modo a desencadear uma onda de
renovação moral no país, Joaquim Barbosa conseguiu imprimir ao
julgamento do mensalão um sentido de "Operação Mãos Limpas". Em alguma
medida teve êxito, como se pôde ver em junho, com a profusão de
bandeiras nacionais nas ruas.
Como os manifestantes são uma faixa da população que dialoga
intensamente com os meios de comunicação, cabe observar o comportamento
destes nas duas situações.
No caso dos petistas foi evidente, além da farta cobertura, a
simpatia ao procedimento radical de Barbosa. Já no que tange ao
"affaire" peessedebista, foi preciso que a Folha rompesse, uma semana
atrás, um verdadeiro muro de silêncio para que o assunto, praticamente
público há anos, alcançasse repercussão em outros veículos importantes
do sistema da grande mídia.
Mas tendo furado o bloqueio inicial, como seguirá o acompanhamento de
um roteiro que coloca o PSDB em situação dificílima? Exemplo: Geraldo
Alckmin afirma que é o primeiro interessado em apurar os fatos, mas
bloqueia a criação de CPI na Assembleia Legislativa. Em 2005, a denúncia
de Jefferson foi investigada por três CPIs no Congresso Nacional. Será o
governador objeto da mesma pressão midiática para aprovar uma?
Se, até o momento, não é explícito o envolvimento direto de altas
figuras do PSDB com propinas, registre-se que a tese do domínio do fato,
que acabou por prevalecer sob a batuta de Barbosa, prescinde de provas
materiais. Basta deduzir que estrutura de tal porte não poderia ser
desconhecida pelos que comandavam o aparelho de Estado para propor
condenações.
O Movimento Passe Livre já convocou manifestação a respeito do cartel
dos transportes para quarta-feira. Estarão lá as bandeiras
verde-amarelas?