30 agosto 2013

Moda é cultura


As pessoas se expressam de diferentes maneiras e a moda faz parte dessa forma de se mostrar.

Não é difícil, olhando a vestimenta das mulheres do século 19, perceber seu papel na sociedade e distinguir as desigualdades nas classes sociais. A moda traduz muito da vida e cultura da história de um povo, assim como a gastronomia. Basta pensar na nossa culinária, na judaica e, por que não, nos Estados Unidos e seus hambúrgueres.

A cadeia produtiva da moda é gigantesca: dos botões aos zíperes. Das costureiras às fábricas têxteis. Das pequenas confecções aos ateliês dos famosos. Das vendedoras aos estilistas. São milhares de pessoas dinamizando a economia e criando empregos.

A moda também gera símbolos. Marcas que, de tão importantes, se tornam até sinônimo da cultura do país. Atraem turistas, agregam valor a outros produtos e se, combinadas com gastronomia, música, monumentos, potencializam uma imagem positiva e contribuem para o "soft power" do país.

No Brasil começamos a entender recentemente esse poder da moda. As "fashion weeks" se consolidaram graças ao esforço de alguns e toda a cadeia produtiva se beneficia.

No Ministério da Cultura o maior instrumento de fomento é a Lei Rouanet. Mas a moda não conseguia captar. O que faltava? Apresentar projetos de acordo com as previsões da lei. O MinC estabeleceu quatro critérios para aceitar projetos: promover internacionalização (impacto na imagem Brasil), ter simbologia brasileira (mostrar raízes e tradição), formar novos profissionais (estilistas ou na cadeia produtiva), ou ainda preservar acervos.

O primeiro a apresentar projeto com base nesses critérios foi Pedro Lourenço, jovem estilista já com reputação para participar da Semana da Moda em Paris.

Como ministra, chamei para mim a decisão, pela simbologia de quebrar um paradigma na afirmação que moda é cultura; por entender a importância da repercussão de um brasileiro estar nesse desfile (cobertura midiática), abertura e interesse pela nossa indústria da moda e para a construção de uma imagem de um Brasil criativo, moderno e atraente. Queremos um Brasil que transcenda o país do Carnaval, sol e biquíni.

Pedro Lourenço é beneficiado, assim como Herchcovitch ou Ronaldo Fraga? Certamente, pela exposição que terão. Entretanto, sem esses criadores, e outros que agora virão (espero as estilistas que trabalham com rendas nordestinas), nós não teremos condição de projetar nossas milhares de confecções charmosas que, com o tempo, darão alegria a tantas mulheres como quando hoje compram algo "francês".

Essa marca/país nasceu depois de enorme esforço da França na promoção de seus criadores (subsídios e exposições nos principais museus) e da genialidade de alguns deles: Dior, Chanel, Lacroix, Saint Laurent, para citar alguns. Exposições com esses ícones "vendem" o país.

A porta está aberta. Muitos passarão, sem tanto estardalhaço, para ampliar a marca Brasil, aumentar investimentos, exportar nossos produtos, gerar emprego e renda para brasileiros.

Torço para que os nossos, que agora podem sair fortalecidos pelo apoio no incentivo fiscal propiciado pela Rouanet, consigam patrocinadores, concretizem seus sonhos, mas, mais que isso, se consagrem símbolos de um Brasil pujante, criativo e iluminado.

Todos seremos beneficiados.

MARTA SUPLICY é ministra da Cultura. Senadora licenciada (2011-2018), foi prefeita de São Paulo (2001-2004) e ministra do Turismo (2007-2008) 

Fonte: Folha de S. Paulo

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Distorções eleitoreiras

Preservar o passado e olhar para a frente. Este é o maior significado do lançamento do PAC das Cidades históricas, ocorrido dia 20, na bela São João Del-Rey. Quando assumi o Ministério da Cultura, há um ano, a presidente Dilma Rousseff se comprometeu com o investimento de R$ 1 bilhão na recuperação das Cidades históricas. Entregamos um rigoroso plano que contempla 44 cidades e anunciamos R$ 1,6 bilhão, no curso de três anos, além mais de uma linha de financiamento de 300 milhões para moradores. É o maior volume de investimento já disponibilizado para o IPHAN em toda a sua trajetória.

Das obras selecionadas, 119 podem ser licitadas imediatamente porque seus projetos estão prontos (esta dificuldade costuma travar prefeituras) e foram minuciosamente acompanhados pelo IPHAN e Ministério do Planejamento. Um museu, uma igreja, um centro histórico são expressões do que uma sociedade, ou melhor, o poder daquela época decidiu homenagear.

Num olhar mais moderno, a continuidade histórica passa a interagir com nossas raízes, e povos que não as preservam deturpam sua história e desperdiçam saberes que contribuem para melhor compreensão de quem somos. Esta preocupação social no usufruto do bem histórico se acentua e passa a fazer parte da estratégia de desenvolvimento do país, ouvindo a sociedade, suas necessidades e críticas. Novos usos e significados serão criados a partir da apropriação do passado canalizado para expansão do conhecimento e melhoria da qualidade de vida das pessoas. Este será o grande desafio das cidades contempladas.

Já incorporando esta mentalidade, o PAC 2 recupera, entre as 425 obras, 24 estações ferroviárias para serem centros culturais ou bibliotecas. Casas particulares tombadas poderão ser beneficiadas, recebendo financiamento para sua conservação e para terem sustentabilidade, se os donos quiserem adaptá-las para livrarias, pousadas ou restaurantes. Nove das mais importantes fortalezas brasileiras, valioso patrimônio com enorme potencial turístico, serão contempladas. Entre elas estão os fortes Nossa Senhora dos Remédios, em Fernando de Noronha, e São Marcelo, em Salvador.

Dando continuidade a esta estratégia, 11 edificações integrantes dos campi de universidades públicas também estarão entre as restauradas. O governo federal, por meio do PAC do Ministério do Turismo, está investindo outros R$ 19 milhões em sinalização nas Cidades históricas.

Indignação e distorções eleitoreiras fazem parte do jogo.

Por que Minas para o lançamento do plano? Porque o estado detém um acervo valiosíssimo, que atualmente contabiliza 20% do número de bens tombados pela União. Por que em São João Del-Rey? Porque foi a cidade onde a presidente Dilma assumiu, na sua campanha, compromisso com o projeto de recuperação das Cidades históricas.

Ataques desproporcionais e descabidos aparecem quando a ação presidencial é forte e o golpe é sentido.

Na vida, a gente aprende com o passado, mas faz acontecer para a frente.

Marta Suplicy é Ministra da Cultura

Fonte: O Globo


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