Correio do Brasil
Diante da subida de Dilma no último Datafolha, restaria para a oposição de direita restaria torcer pela quebra da economia ou para que protestos como os de junho irrompam durante a Copa do Mundo – e deixar que as corporações de mídia façam seu trabalho.
Quem apostou na derrocada da presidenta Dilma Rousseff errou feio. Quem achou que os protestos de junho inviabilizariam sua recondução à presidência da República estava iludido. Levantamento Datafolha divulgado neste domingo, 11/8, mostra que Dilma, apenas dois meses depois dos protestos, recuperou prestígio e segue na liderança, com 35% das intenções de voto, contra 26% de Marina Silva, 13% de Aécio Neves e 8% de Eduardo Campos.
O avanço da presidenta decorre, basicamente, de quatro fatores. 1) Durante os protestos, chamou para si a responsabilidade e propôs a realização de uma reforma política ampla, que desse conta da maioria das reivindicações populares; 2) em seguida aos protestos, abriu sua agenda para os movimentos sociais organizados; 3) o governo mostrou-se sólido e deu continuidade às pautas que vinha tocando, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida; 4) a Economia segue o curso programado, com juros baixos, inflação sob controle, emprego elevado. Se continuar assim, Dilma pode alcançar 40% já no próximo levantamento.
Marina Silva também avançou e, nesse ponto, precisamos recordar o princípio que rege esta série de análises, desde o primeiro texto, publicado no início do ano. Insisto em dizer que os fiéis da balança de 2014 serão a Mídia e os Evangélicos, a mesma combinação explosiva que levou as eleições de 2010 para o segundo turno. A partir da análise constante desses dois fatores foi possível antecipar, via twitter, o resultado da pesquisa (em 9/8 tuitei 35-Dilma, 25-Marina, 12/13-Aécio e 5/6-Eduardo).
Estava claro que Marina Silva cresceria porque sua militância está permanentemente mobilizada por conta da validação das assinaturas para a criação da Rede Sustentabilidade. De modo que seu nome tem sido veiculado com regularidade, ao mesmo tempo em que a ex-ministra, ela mesma evangélica, conta com o apoio significativo de grupos dessa religião. Até outubro, quando deverá estar filiada a algum partido, Marina deve crescer, podendo alcançar 30%.
Quanto ao candidato tucano, era de se esperar a queda de 17% para 13%, já que ele deixou de aparecer com a mesma freqüência nos meios de comunicação de massa e postergou a agenda de viagem aos estados. Quem não se mexe e não aparece não é lembrado.
Por fim, com relação a Eduardo Campos o que se pode dizer, além de lamentarmos sua movimentação precipitada, é que dificilmente reunirá os apoios que lhe garantam sustentação para ultrapassar os dez pontos percentuais. A sinuca de bico é a seguinte: não haveria espaço dentro da base governista para uma dissidência deste porte e, caso resolvesse mudar de lado, ou mesmo procurar uma terceira via, teria de se despir justamente das virtudes que lhe transformaram no governador mais bem avaliado do país.
Em março, quando esta série começou a ser publicada, dividimos o período que nos separa das eleições em três momentos: o primeiro seria de março/13 a outubro/13, quando todos os partidos devem estar constituídos e aqueles que pretendem se candidatar a cargos de deputado, senador, governador e presidente precisam estar devidamente registrados em suas agremiações. O segundo período seria aquele compreendido entre outubro/13 e março/14, quando termina o prazo para desincompatibilização de cargos públicos, o que deixará o cenário praticamente definido. E o terceiro e último período seria o que transcorre de março/14 até outubro/14, quando ocorrem as articulações finais e tem início a campanha propriamente dita.
Do jeito que a coisa anda, Dilma segue como favorita, com grandes chances de levar a contenda no primeiro turno. Tem a seu favor um sem número de indicadores que mostram que o país melhorou, entre os quais o crescimento do IDH – que passou de “muito baixo” para “alto” desde a redemocratização – e a redução de 80% da desigualdade na última década. De modo que para a oposição de direita restaria torcer pela quebra da economia ou para que protestos como os de junho irrompam durante a Copa do Mundo – e deixar que as corporações de mídia façam seu trabalho.
Marcelo Salles é jornalista. No Twitter é @marcelosalles.