O Trofeu Anistia,
escultura de beija-flor que simboliza a liberdade, foi entregue ao
deputado Ariosto Holanda por Flamínio Araripe FOTO GENILSON JOSÉ DE LIMA |
Em sessão solene
na Câmara Municipal de Fortaleza na manhã desta sexta-feira foram homenageadas 28
personalidades que se destacaram na luta pela Anistia no Ceará. O evento foi
marcado pela constatação de que a anistia ampla, geral e irrestrita, não aconteceu
no Brasil e que a luta continua. “Torturadores precisam ser punidos como
aconteceu no Chile, Argentina e Uruguai”, disse o presidente da Associação
Anistia 64/68, Messias Pontes.
Nildes Alencar, Mesias Pontes, Acrísio Sena, Paes de Andrade, Dom Edmilson Cruz e Ariosto Holanda |
A sessão, proposta pela Associação Anistia
64/68 com requerimento do vereador Acrísio Sena, antecipa as comemorações do Dia
Municipal da Anistia, instituído para o dia 28 de agosto. Receberam o Trofeu
Anistia os deputados federais Ariosto Holanda e João Ananias, e os ex-deputados
Paes de Andrade e Iranildo Pereira, federais; Maria Luiza Fontenelle e Eudoro
Santana, estaduais. Familiares receberam a homenagem do ex-vereador e ex-deputado estadual Fausto Aguiar de Arruda, (in memoriam).
Messias Pontes lembrou que Ariosto Holanda trabalhou
junto ao então governador Tasso Jereissati para que a Lei Estadual da Anistia fosse
encaminhada à Assembleia Legislativa, engavetada na época e resgatada depois e
promulgada na gestão de Lúcio Alcântara no governo do Ceará. O deputado mantém
no Gabinete, em Brasília, dois funcionários que integravam a Comissão Nacional
de Anistia, Paulo Vidal e Rosa Simara, que cuidam dos processos de indenização
para os anistiados. “Paulo Vidal todo dia envia e-mail com informações sobre os
processos”, disse Messias.
Já o deputado João Ananias cedeu o
gabinete para a Comissão da Anistia. “Iranildo Pereira e Paes de Andrade eram
duas vozes em defesa da anistia e denúncia dos crimes da ditadura”, lembrou
Messias Pontes, que fez referência ainda ao apoio de Maria Luiza Fontenele e
Luiz Eduardo Cartaxo de Arruda, na luta. “A Lei da Anistia foi imposta pelos
militares a um Congresso manietado e precisa ser revogada. A Lei tirou muita
gente do cárcere e trouxe os que estavam no exílio, mas a tortura é considerada
nos fóruns internacionais crime de lesa-humanidade, imprescritível”, afirmou o
presidente da Associação Anistia 64/68.
Também foram homenageados Lourdes Miranda, Pádua
Barroso, advogada Wanda Rita Othon Sidou, (in memoriam), Nildes Alencar, Dom Aloísio
Lorscheider (in memoriam), Dom Antônio Batista (in memoriam), Dom Manoel
Edmílson da Cruz, padre Geraldinho, Horácio Frota, René Barreira,
Angélica Monteiro, Maria Duarte, Valda Albuquerque, Josenilde Cunha, Irmã
Imelda, Blanchard Girão, (in memoriam), Terezinha Bizerril, Antônio Carlos,
Luiz Edgard Cartaxo (in memoriam), Salmito Filho e o Instituto dos Arquitetos
do Brasil – Seção do Ceará.
Nildes Alencar |
Nildes Alencar, ex-presidente do Movimento Feminino pela Anistia, seção Ceará, criada em março de 1976, ocupou a
tribuna para dizer que a luta continua. "Vivemos o golpe militar de 1964.
Passamos por fortes sentimentos de perda, de revolta, frustração, enfrentamento,
fuga, exílio, banimento, tortura, morte, esconderijos, falsidade ideológica,
sequestros. Aprendemos, na dor, que se reconstroi para continuar. Fomos a
força, a esperança, a âncora dos presos políticos, dos banidos, dos exilados.
Fomos a sede das liberdades democráticas confinada no Movimento Feminino pela
Anistia. Fomos e somos as mulheres que têm no corpo e na alma o compromisso da
palavra e da ação para repetir com voz vibrante: A luta continua porque estamos
vivos e estamos fazendo história".
Dom Edmilson Cruz |
O bispo emérito
de Limoeiro do Norte, Dom Edmilson Cruz, disse que a tortura tira do homem a
sua própria alma, arranca do homem a sua humanidade, e o pior fica na alma do
torturador, que não é mais homem. Ele anunciou que suas palavras são palavras
de amor, provenientes da fé profunda que não se pode iludir, e aconselhou que é
preciso o perdão. “Não represália, não tortura, mas é preciso que se faça que
esse desalmado se torne meu irmão querido, e que todo esse esforço de amor à
verdade tenha por base a fé. É preciso uma atitude que resolva o problema.
Estamos vivos, e o Deus mais vivo em nós”.
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