São Paulo – Gravações divulgadas pela revista Carta Capital desta semana reforçam a existência de conexões entre o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), a revista Veja e o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso durante a Operação Monte Carlo da Polícia Federal.
A reportagem de Cynara Menezes mostra como a atuação de arapongas a serviço de Cachoeira resultou em notícias divulgadas pela semanal do Grupo Abril. Chamam atenção dois casos, que se somam à detecção de mais de duzentas chamadas telefônicas entre o diretor da sucursal de Brasília de Veja, Policarpo Júnior, e os integrantes do grupo do contraventor.
No primeiro áudio, que já circulava pela internet durante a semana, Cláudio Abreu, diretor da construtora Delta no Centro-oeste, comemora entrevista divulgada pela publicação defendendo que Demóstenes deixasse o DEM rumo ao PMDB para abrir caminho a uma indicação como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). “Você conseguiu?”, pergunta Cachoeira em uma conversa ao telefone. “Consegui”, responde Abreu, afirmando que a entrevista saiu na seção Páginas Amarelas, que abre a semanal.
Em outro áudio, o araponga Jairo Martins, do grupo do contraventor, revela como conseguiu que Veja se saísse com a capa “O poderoso chefão”, que aborda encontros do ex-ministro José Dirceu (PT) com políticos em um hotel de Brasília. O caso ficou famoso depois que um repórter da revista, Gustavo Ribeiro, tentou invadir o quarto de Dirceu. “Se era, como argumenta Veja, um trabalho jornalístico comum, por que se valer dos préstimos de um araponga serviçal de um contraventor?”, indaga Carta Capital.
Em texto divulgado em sua página na internet, o ex-ministro defende que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) aberta no Congresso para apurar as relações entre Cachoeira e o mundo político debruce sobre as conexões com o mundo jornalístico. Ele lamenta o silêncio da mídia tradicional em torno do tema, à exceção da TV Record.
“Há veículos de comunicação que gostam de confundir liberdade de imprensa com liberdade de empresa e de transformar essa mesma liberdade no direito de alguns poucos proprietários de veículos e de seus jornalistas mais próximos de fazerem o que bem entendem”, diz. “Liberdade não dá à imprensa salvo conduto para publicar mentiras sobre quem quer que seja e muito menos para agir em conluio com o crime, ou para praticar atividades ilegais. Numa democracia de verdade, ninguém pode estar acima da lei. Nem mesmo a mídia, por mais poderosa que seja, por mais imune que se imagine.”
Para Carta Capital, Veja faz lembrar o caso do magnata da mídia Rupert Murdoch. No ano passado, no Reino Unido, revelou-se que um de seus jornais, o News of The World, lançava mão de escutas telefônicas ilegais e de uma relação ilegal com a polícia para bisbilhotar a vida de personalidades e autoridades. As investigações mostraram um jogo de chantagem entre Murdoch e os dois principais partidos britânicos. Agora, pode-se decidir que Murdoch terá de se desfazer de todos seus veículos de comunicação na Grã-Bretanha.