Por Luiz Edgard Cartaxo de Arruda Junior. Memorialista
Em Abril
de 2009 no Jornal O Povo
No apagar das luzes do ano passado a
Câmara municipal e boa parte da midia lúcida gastou tempo e espaço com matérias
do mais alto valor sobre a formação da cidade de Fortaleza. Depois do recesso
parlamentar muitos edis prometeram voltar ao tema.
O dia do aniversario de Fortaleza é 13, não é porque 13 é o número do partido
da prefeita Luizianne Lins o PT, como querem desvirtuar alguns desatinados mal
intencionados estreitos de fala grossa dizendo que em vez da Câmara Municipal e
Prefeitura discutirem a data do aniversario da cidade deveriam, era pensar em
fazer viadutos e tapar buracos. Pois, segundo eles, pensar nisso é pura perda
de tempo, é discutir o sexo dos anjos, dá relevância ao que não mercê, etc.
Estão redondamente enganados, e
enganando, é preciso não deixar passar nenhuma oportunidade para aprofundar,
estudar, repensar, conhecer, discutir Fortaleza, sua cidadania aprender,
reafirmar e concretizar a história da cidade com respeito à formação de sua
geografia física e humana os caminhos e rotas que levaram a sua concretude. E
claro ter seus pontos, marcos e ícones históricos delineados.
A data do aniversário de Fortaleza
ser dia 13 de abril se deve ao fato do capitão-mor Manoel Francês ter
apresentado ao infante dom João IV desenho singelo de uma vila no novo mundo da
América. O Infante diante à visão do traço singelo do riacho Pajéu, fortim,
pelourinho, arvores, igreja, câmara e cadeia, casario, palhoças,
uma caravela na enseada do Mucuripe... Ficou tão embevecido e sensibilizado com
o mapa que denominou a vila de Nova Lisboa. Não pegou.
Mas, é de grande significado esse
"primeiro" nome europeu para Fortaleza e sua história: uma vila nesta
esquina do mundo com o belo nome nativo de Marajaitiba que significa
rincão das palmeiras , "promovida" na pena do Rei a Nova Lisboa.
Isso se deu a 13 de abril no ano da graça de 1726. Daí então o aniversaria de
Fortaleza ser nessa data. Para referendar o consenso histórico disso é bom
lembrar retrato na parede da memória de 1968 pelo Centro Acadêmico de Arquitetura,
cruzamento da Av. 13 de maio com Av. da Universidade. O desenho do mapa da vila
de Fortaleza, feito em 1726, foi reproduzido no paredão do Museu da UFC.
Portanto a imagem esta gravada no histórico do inconsciente coletivo de nossa
cidadania. É o nosso primeiro grafite.
Depois da ditadura militar de 1964 a
1985 atendendo convite do Governo, da Secretaria de Cultura do Ceará
através de Augusto Pontes, eu e Sergio Marques fizemos a maquete do desenho de
Manoel Frances exposta no Museu do Ceara. É veiculada na programação da TV
Assembléia e disputa salutarmente com o bode Yoiô o titulo de mais apreciada
peça daquele equipamento. Se a memória da cidade desejar, podemos fazer a
reprodução em maquete também da requintada pintura de Fortaleza, aliás
"Siara" do celebre pintor holandês Frans Post, no Museu da
Cidadania e ou Memorial de Fortaleza.
Todo debate nas audiências públicas
da Câmara Municipal, imprensa e Tvs sobre as origens e a formação de Fortaleza,
nas casas, rodas e bares da vida é de suma importância. Abre precedente para
ampliar o conceito até do cerimonial da comemoração do aniversario de
Fortaleza, da sua cidadania... Afinal, se a razão do dia 25 de julho (ninguém
disse ainda que esse novo dia proposto para ser o aniversario de Fortaleza
também seja número de partido político no caso o PFL, agora demo) de 1604, é as
pedras que encontraram no morro da barra do Ceará. Elas já eram do conhecimento
do gênio de Raimundo Girão que registrou lá até balas de canhão. Ninguém nega
que o fortim existiu. Mas, sabem que não vingou. É só mais um ícone histórico.
O precedente é bom para vislumbrar,
a ampliação do estudo das comemorações da cidade. Se for para fazer anos a
partir de um marco do processo civilizatório e, como dizem quanto mais velhos
seja melhor para o turismo e para a historia. Então é fazer jus ao marco zero
sendo assim Fortaleza existe a partir de 3 de Fevereiro de 1500 quando o
navegador espanhol Vicente Yanéz Pinzón, “o maior navegador de todos os
tempos”, ergueu uma cruz de madeira no alto do Castelo Encantado na enseada do
Mucuripe que segundo Alencar significa: Morro da Solidão. Onde Iracema ia
derramar lagrimas de saudade do amado estrangeiro. Mais do que: Mocó roedor,
também pode ser traduzido como: enseada da gargalhada. O certo é que o mais
bonito dessa história toda é o comandante da nau Capitania "Nina" da
esquadra de Colombo Vicente Pinzón deslumbrado do alto mar, ver retratado nas
dunas a silueta de um "rostro hermoso" , onde fundeou ancoras no dia
de Nossa Senhora da Consolação e assim deixou escrito nos seus relatórios. Hoje
impossível de vislumbrar devido aos espigões de concreto que ocultam suas dunas
e com elas o Rostro Hermoso que encantou Pinzón, de onde se conclui que o nome
de Fortaleza Bela de hoje tem como precursor seu sinônimo no primeiro nome que
Fortaleza teve antes da chegada dos portugueses.
Já o mapa mundi do Almirantado
feito pela pena do grande Leonardo da Vinci sinaliza esse porto. E a palavra
Mocuripe é a primeira expressão tupi na cartografia marítima do
Eldorado na época das grandes navegações. Mais também a bem da verdade tudo
isso não deixa de ser só mais um marco ou ícone e ponto histórico.
O dia do aniversario de Fortaleza é
13 de Abril por causa do Pajéu, da água "uma civilização se constrói a
margens de rios" afirma Capistrano de Abreu. É doce a água do Pajéu, a do
rio Ceará não. Fortaleza é antes um Refugio que um Forte. Para haver sequer
esboço de cidade tem que haver mais que forte e soldados têm que ter civis tem
que ter mais que cruz tem que existir missas.
Devemos perceber a importância
histórica e turística para Fortaleza do entendimento desse ícone marco
civilizatório que é a cruz de Pinzon fincada no alto do Castelo Encantado.
Atenção antes de Pedro Álvares Cabral chegar aos mares da Bahia e defrontar-se
com o monte Pascoal a 21 de abril data do achamento do Brasil.
Na busca por vestígios
arqueológicos, voluntariamente ando fazendo excursões a fim de localizar ao
menos um ícone, um dos pregos da cruz que Vicente Pinzon deixou aqui nos idos
1500, dois meses antes de Cabral avistar a Terra de Santa Cruz. Não tomou posse
da terra impedido pelo Tratado de Tordessilhas.
Pinzon deixou a cruz na certa como
paga a doce água que levou daqui. No cerne, é bom o propósito de fazer registro
dos ícones e marcos e pontos históricos e geográficos da cidade. A Fortaleza
marítima de Vicente Pinzon é um. Tem outro a Fortaleza açoriana conquistada por
terra por um Capitão Mor do mato o exterminador de índios Pero Coelho.
E na trilha também a Fortaleza dos jesuítas, padre Luis Filgueiras e padre
Francisco Pinto em 1607. Antes de todas à Fortaleza Marajaitiba. Depois a
Fortaleza com George Gartmam, Hendrik Huss em 26 de outubro de 1637, em 1641,
os holandeses foram substituídos por Gedion Morris, que trouxe o pintor Franz
Post para pintar o rostro hermoso de Vicente Pinzon? Fortaleza se
concretiza com Companhia das Índias Ocidentais do holandês Mathias Beck é a
Fortaleza protestante calvinista e flamenga.
Referencias mais antigas os
navegantes guerreiros Vikings estiveram nestes verdes mares bravios deixaram
inúmeras inscrições rupestres nos monólitos da terra da luz.
Assim como ficaram também de testemunho
as inscrições dos antigos comerciantes e navegantes fenícios do hoje
Líbano. Para não falar da passagem das naves chinesas que aqui estiveram
e a prova é o DNA de algumas tribos indígenas daqui, similares a dos amarelos.
Afinal sim a Fortaleza bela é realmente a esquina do mundo. A de vangloriar a
convergência de ventos e correntes marítimas, que abrigaram nessa esquina a
raça de ouro dos náufragos sobreviventes do Continente perdido de Atlântida,
menciona alfarrábios e lendas encontradas por Capistrano de Abreu. Seus
descendentes são os cabeças chatas de hoje.
Fizeram esse porto de nômades,
aventureiros, retirantes, viajantes, conquistadores desse imenso Brasil de
norte a sul, do Paraguai ao Acre e digo mais se um terço (1/3) tivesse
sobrevivido a seca, haveria mais cearenses que japoneses espalhados por esse
mundo de meu deus. Daqui fomos ocupar o Paraguai, povoar o sul, construir
Brasília a ponte Rio Niterói a Transamazônica... E São Paulo para alguns é a
maior cidade do interior do Ceará.
Não é só a Fortaleza de 13 de abril
ou 25 de julho que merece marco. Também a de 10 de abril de 1649 do engenheiro
Ricardo Caar que fez o forte de Shoonenborch na foz do Pajéu. Assim como a
Fortaleza de Martins Soares Moreno em 20 de Janeiro de 1612 com seus inúmeros
fortes. O Forte de São Sebastião no mesmo lugar do Forte de São Tiago. A
Fortaleza Refugio acolhendo os que escaparam da Confederação dos Karriris.
A Fortaleza de 17 de março de 1823
denominada pelo Império de Nova Bragança, também não pegou. A Fortaleza
atrelada ao Grão-Pará, ao Maranhão e Pernanbuco... E a dos reinos de além mar
com bandeiras de todas as cores, até as sem pátria dos 7 mares preta e branca
das tíbias e caveira de corsários e piratas nas areias de Iracema foram
fincadas.
Há muitas leituras para o cerimonial
da história da capital do Ceará e podemos falar até da Fortaleza da Liberdade
por Dragão do Mar o primeiro porto livre dos grilhões da escravidão na América
abaixo da linha do Equador é o porto de Fortaleza, retratada na magnífica
estatua colosso sobre o portal do Parque da Liberdade esquecida pela historia,
apagada da memória pela Cidade da Criança. É outro dia 25, que deve ser
resgatado só que esse março é de 1884 e fruto de uma greve vitoriosa pela
liberdade do homem liderada por Francisco Jose do Nascimento codinome Chico da
Matilde vulgo Dragão do Mar. É a razão primeira para Fortaleza ser chamada de
Terra da Luz. Há outra Fortaleza Libertária justamente um século antes da
revolução russa de 1917 seguida pela Confederação do Equador de 1824 que
destronaram o Império de Portugal desse chão sagrado. A Fortaleza aprisionada
com Barbara de Alencar. A Fortaleza Confederada do Equador republicana e
fuzilada de Tristão Gonçalves, padre Mororo, Carapinima, Pessoa Anta... cujos
sobreviventes seguiram Abreu Lima para forjar os ideais de Simon Bolivar.
E existem inclusive Fortalezas
que não são belas a Fortaleza da peste do dia dos mil mortos. A Fortaleza dos
campos de concentração dos flagelados da seca... A Fortaleza prostituída pela
guerra com os norte americanos e suas garotas coca-colas.
A conhecida Fortaleza hospitaleira. E a Fortaleza migrante eterna pelo êxodo de
retirantes, errantes libertários tangidos pelo sol, visionários famintos de
toda sorte, por todo o mundo, de todo jeito.
Tem a Fortaleza da 1ª Academia
Literária brasileira. Fortaleza da Belle Epoque, da Padaria Espiritual, que
décadas antes da filha bastarda e antropofágica Semana de Arte Moderna de 1922,
degustava em fornadas literárias o sublime pão da sabedoria nos Cafés da Praça
do Ferreira. A Fortaleza ocupando em guerra o Paraguai levando a bandeira do 26
até a batalha de Aquidaban onde perdeu a vida Solano Lopés. A mesma Fortaleza
de outras bandeiras desbravadoras, expansionistas ocupou o Norte fazendo o
Acre.
A Fortaleza ocupada pelos
messiânicos do Pe. Cícero. A Fortaleza onde se aquartelou forças que destruíram
com bombardeio aéreo (usado pela primeira vez contra civis) a comunidade
igualitária do Caldeirão. É por essas que Santos Dumont suicidou-se. A
Fortaleza do povo revoltada que derrubou a oligarquia Acioly e destruiu belos
jardins que ainda hoje não foram recuperados. A Fortaleza na ll Grande
Guerra com a mais numerosa das forças da FEB e com o maior número de baixas às
do nosso exercito da Borracha que movia a vitoria do Exercito Aliado contra as
forças do Eixo e de quebra ocupava a Amazônia.
A Fortaleza da bela musica clássica
genuinamente brasileira de Alberto Nepomuceno e Jacques Klein até Humberto
Teixeira. A Fortaleza berço da primeira escola de arte primitiva do mundo com
Chico da Silva até o maior abstracionista do Brasil Antonio Bandeira sem
esquecer Barrica e Raimundo Cela.
Se você quiser, até há
uma Fortaleza aérea com o ultimo vôo de Antoine de Saint-Exupéry autor do
Pequeno Príncipe e o vôo de Pinto Martins o primeiro que cruzou o equador para
não falar de Antonio Justa que fez o helicóptero. E uma Fortaleza alegre,
faceira, brejeira e moleca que vaiou o sol nessa terra da luz, em plena guerra
mundial.
Graças que há muitas datas na
Fortaleza bela para acalentar esse ufanismo sadio. Discuti-las, revive-las é o
que faz renascer, fortalecer e sedimentar e engrandecer nossa consciência
histórica e cidadã.
Vamos em frente, que atrás vem gente.