08 março 2012

Pesquisa em São Paulo


A recente pesquisa do Datafolha sobre a sucessão na prefeitura de São Paulo é interessante por vários motivos. 

Do ponto de vista jornalístico, foi uma iniciativa louvável. É sempre bom ouvir o que pensam as pessoas sobre a eleição que se avizinha e avaliar como suas intenções de voto se estruturam a cada momento.
A lamentar, somente, é que nossa imprensa seja tão parcimoniosa no uso das pesquisas de opinião na cobertura política. (Mas a culpa talvez seja de Dilma - como foi de Lula até outro dia. Se enfrentasse problemas de popularidade, podemos apostar que a mídia estaria inundada por elas.)
Pesquisas de oportunidade são perfeitamente normais. Eventos relevantes produzem efeitos imediatos na opinião pública - ainda mais quando são amplificados pelo destaque que recebem dos meios de comunicação - e não há nada de errado em querer conhecê-los.
É preciso, naturalmente, ter consciência que o momento de realização da pesquisa afeta os resultados. Seria contraditório fazer um levantamento de opiniões para medir o impacto de um “fato novo” e ignorar o caráter conjuntural dos números.
No caso da pesquisa do Datafolha, por exemplo. Faz sentido dizer, como afirma o jornal que a encomendou, que ela mostra que o anúncio da candidatura de Serra fez com que ele fosse “catapultado” de 21% para 30% das intenções de voto? Ou que “após assumir candidatura, Serra subiu 9 pontos percentuais”?
Seria admissível estampá-lo se houvesse cuidado em contextualizar o levantamento - embora sejam modos de se referir a resultados de pesquisa que a imprensa dos países desenvolvidos evita há muito tempo, pois induzem a interpretações equivocadas.
É fato sabido e ressabido que os resultados de pesquisas de intenção de voto dependem do contexto de informação em que são realizadas. A literatura de ciência política está cheia de evidências a respeito.
No Brasil, pelas características da legislação que regula o acesso dos partidos aos meios de comunicação, vemos isso em todo ano eleitoral. O primeiro semestre, quando os candidatos aparecem na televisão e no rádio estrelando a mídia partidária em regime de exclusividade, é sempre marcado por sobes e desces.
Sobe quem estava no ar nos dias que antecederam a pesquisa, e provoca a queda dos demais. Nas semanas seguintes, no entanto, será de outro a “janela” e a vez de subir. E assim vão, trocando posições na “corrida”, até que, com a proximidade do pleito, a informação fica mais homogênea e as intenções de voto se estabilizam.
Fazer uma pesquisa sobre o voto na eleição de São Paulo enquanto é máxima a exposição de um só candidato pode não ser errado. Mas é necessário nunca esquecê-lo na discussão do resultado.
As mil pessoas ouvidas pelo Datafolha, quinta e sexta passadas, tinham vivido uma semana em que Serra havia sido a palavra mais ouvida no noticiário político da cidade. Nenhuma surpresa, portanto, que se lembrassem, principalmente, dele.
Se levarmos isso em conta, não seria equivocado interpretar a pesquisa de forma inversa: ao invés de “catapultas”, o resultado mostrava que Serra, apesar da superexposição, tinha ido a apenas 30% das intenções de voto.
Isso não pode ser considerado bom. Ele permanece em um patamar modesto, mesmo com toda a discussão sobre sua entrada no páreo e apesar de seu currículo - e de ser conhecido por 100% dos eleitores da cidade.
Mas, pelo que vimos nas reações à pesquisa, muita gente achou que não era ruim para Serra: afinal, estava “na frente”.
A questão é o que significa “estar na frente”, a esta altura e nesse nível.
Era de imaginar que, depois de quase 30 anos de uso de pesquisas na moderna democracia brasileira, já tivéssemos aprendido a lição que o resto do mundo sabe de cor. Ao analisá-las, o que importa não é o ponto de partida das candidaturas, mas o ponto a que podem chegar.
Ao que parece, é assim que pensam PT e PMDB, o que fez com que resolvessem se apresentar à cidade com nomes de futuro. O PSDB, ao contrário, prefere a outra aposta e só acredita em quem começa bem - como em 2010. Daquela vez, se deu mal. Quem sabe, funcione agora - embora não seja isso que as pesquisas sugerem.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi