22 setembro 2011

Os Protestos Contra a Corrupção

Nos primeiros dias de julho, o correspondente no Brasil do jornal espanhol El País escreveu um artigo que teve larga circulação. Seu título era uma pergunta: “Por que os brasileiros não reagem?”Para o autor, seríamos um mistério. Como, passados seis meses do início do governo Dilma, com dois ministros demitidos, “ambos caídos sob os escombros da corrupção política”, não teríamos o fenômeno, “hoje em moda no mundo”, dos indignados? Por que não irrompe um movimento “capaz de limpar o país das escórias de corrupção que abraçam hoje todas as esferas do poder?”.Se voltasse agora ao tema, sua perplexidade seria maior. Pois já são quatro os ministros que saíram em meio a questionamentos sobre sua conduta no cargo.
Todos, de uma forma ou outra, se comportaram de maneira inconveniente, mesmo se não seria justo dizer que sucumbiram “sob os escombros da corrupção” (para repetir uma expressão curiosa do jornalista, que sugere que a corrupção teria “desmoronado”, ou seja, sido destruída).

Aceitar carona no avião de empresários (ou usar um motorista da Câmara dos Deputados para funções domésticas) não é correto, mas está longe de ser evidência de andar abraçado com “as escórias da corrupção”.
Não só aumentaram os casos de ministros flagrados fazendo coisas erradas como dezenas de funcionários graduados de diversos órgãos foram demitidos, muitos por suspeita de práticas criminosas. Alguns acabaram detidos e fotografados no xilindró.
Mais combustível, portanto, para os indignados. Que deveria encontrá-los ainda mais dispostos a se indignar, pois essa “moda” não terminou de julho para cá. Pelo contrário. Até em Wall Street, onde menos se esperaria vê-los, surgiram indignados.
O pasmo do correspondente deveria crescer se ele se lembrasse que, neste setembro, foram muitas as iniciativas de mobilizar as pessoas para ir às ruas protestar contra a corrupção. A começar pelo 7 de Setembro, quando a oportunidade parecia ótima: transformar a comemoração do aniversário do Grito do Ipiranga no dia do “grito contra os corruptos”.
A contabilidade do que ocorreu revela quão pequena foi a adesão ao chamamento dos organizadores. Embora falem em 30 mil manifestantes, até eles admitem que 25 mil eram de Brasília (onde a irritação era grande, dado o caso Jaqueline Roriz).
Ou seja, nos outros lugares onde estavam convocados protestos - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre - teriam sido apenas 5 mil pessoas, uma média de 1,25 mil por cidade. O que é pouco.
Para quem esperava uma Praça Tahir, uma decepção. A mobilização foi modesta e fugaz.
Não foi por eles não saberem usar a ferramenta básica dos indignados mundo afora: as redes sociais. Tanto no 7 de Setembro, quanto nos dias a seguir, muita gente se utilizou delas para disseminar ideias e convocar pessoas.
A mídia deu a esses esforços espaço maior do que seu tamanho justificava. Tornaram-se assunto dos principais jornais, a televisão os cobriu, seus organizadores deram entrevistas às rádios e portais. Mas não adiantou.
Há quem continue a apostar que os indignados vão surgir. São os que insistem em analogias sem sentido, torcendo para que os protestos de agora ganhem corpo e reproduzam o que foram, nos anos 1980, as manifestações em favor das eleições diretas e, nos 1990, o impeachment de Collor.
O problema é que as movimentações atuais carecem de algo essencial. O ambiente pode lhes ser propício. Há estímulos internacionais. A mídia as trata com simpatia. Seus organizadores conhecem os instrumentos para provocá-las.
Mas falta povo. E continuará a faltar-lhes enquanto forem claramente identificadas com a elite conservadora e os políticos da direita.
O povo é contra a corrupção. Mas não é a favor de quem apenas por conveniência empunha a bandeira de acabar com ela. E continua a confiar em que o governo (no qual votou há menos de um ano) a enfrente.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi