EDINHO SILVA
O ministro Palocci sofre as consequências de um modelo de Estado arcaico, que não mais responde às demandas do Brasil para o século 21
Não quero com esse texto fazer nenhuma defesa cega do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. Ele tem esclarecimentos a dar para a nação brasileira e para os organismos do governo, e os dará.
Longe de ter a intenção de minimizar o seu livre-arbítrio, Palocci sofre as consequências de um modelo de Estado arcaico, que não responde às demandas do Brasil do século 21 e às exigências da sociedade civil existente.
O fato de Palocci ter uma empresa de assessoria e estabelecer contratos com a iniciativa privada não caracteriza nenhuma ilegalidade.
Portanto, da perspectiva legal, o então deputado federal não cometeu nenhum erro.
Mas quando a notícia da existência de sua empresa e do que ela faturou veio a público, presenciamos a reação da sociedade, por sinal, legítima; como presenciamos a tentativa de setores da oposição, de forma oportunista, de se utilizar do fato para investir em uma crise no governo Dilma Rousseff.
A inegável reação de setores da sociedade civil demonstra, em última análise, uma vontade de mudança; de haver reforma de regras, de normas, em que fique muito claro o que se pode e o que não se pode na atividade pública, que supere o antagonismo entre a flexibilidade normativa do Estado e o rigor interpretativo da sociedade civil.
Palocci é sujeito de seus atos, mas também objeto de relações entre o público e o privado, em que a complacência legal do Estado torna os indivíduos mais vítimas que vilões. Vítimas de aparato estatal envelhecido e débil, alimentado pelas conveniências do privado, inclusive por setores da mídia que temem, conservadoramente, reformas, e legitimado pela inércia e pela perplexidade casual da sociedade.
Mais uma vez, presenciamos em abundância a energia destinada à interpretação que falta na mobilização pelas reformas do Estado brasileiro. De forma hipócrita, dá-se preferência para o debate das consequências, e não das causas.
A inexistência de unidade social e política, muitas vezes incentivada pelos interesses imediatistas do privado, para implementar as reformas já gerou muitas baixas na vida política brasileira. Agora, estamos vendo sofrer um considerável desgaste um dos melhores quadros políticos de sua geração.
Tive a oportunidade de conhecer o militante Palocci, fundador de muitos diretórios do PT na região de Ribeirão Preto. Vi o dirigente do Sindicato dos Médicos organizar a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e lutar pelos direitos dos trabalhadores. Presenciei um vereador e deputado dedicado e visionário, um prefeito que entendeu a necessidade de inovar nas políticas públicas, referência para o Brasil.
O país deve a Palocci e a Guido Mantega o êxito da política econômica do governo Lula, que criou as condições para que o Brasil crescesse com justiça social. Uma bela biografia neste momento atingida.
E pior, por atos amparados pelo Estado. O episódio vivenciado por Palocci tem que deixar lições.
Penso, e tenho defendido, que o PT utilize o seu acúmulo político tirando as reformas do Estado brasileiro da carta de intenções, criando as condições para que sejam efetivadas, trazendo para as regras e normas aquilo que a sociedade civil já projetou, decidiu e incorporou à sua cultura política.
A armadilha continua ativada.
Qual liderança e qual partido político será o próximo?
EDINHO SILVA é presidente do PT no Estado de São Paulo e deputado estadual (PT-SP).
O ministro Palocci sofre as consequências de um modelo de Estado arcaico, que não mais responde às demandas do Brasil para o século 21
Não quero com esse texto fazer nenhuma defesa cega do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. Ele tem esclarecimentos a dar para a nação brasileira e para os organismos do governo, e os dará.
Longe de ter a intenção de minimizar o seu livre-arbítrio, Palocci sofre as consequências de um modelo de Estado arcaico, que não responde às demandas do Brasil do século 21 e às exigências da sociedade civil existente.
O fato de Palocci ter uma empresa de assessoria e estabelecer contratos com a iniciativa privada não caracteriza nenhuma ilegalidade.
Portanto, da perspectiva legal, o então deputado federal não cometeu nenhum erro.
Mas quando a notícia da existência de sua empresa e do que ela faturou veio a público, presenciamos a reação da sociedade, por sinal, legítima; como presenciamos a tentativa de setores da oposição, de forma oportunista, de se utilizar do fato para investir em uma crise no governo Dilma Rousseff.
A inegável reação de setores da sociedade civil demonstra, em última análise, uma vontade de mudança; de haver reforma de regras, de normas, em que fique muito claro o que se pode e o que não se pode na atividade pública, que supere o antagonismo entre a flexibilidade normativa do Estado e o rigor interpretativo da sociedade civil.
Palocci é sujeito de seus atos, mas também objeto de relações entre o público e o privado, em que a complacência legal do Estado torna os indivíduos mais vítimas que vilões. Vítimas de aparato estatal envelhecido e débil, alimentado pelas conveniências do privado, inclusive por setores da mídia que temem, conservadoramente, reformas, e legitimado pela inércia e pela perplexidade casual da sociedade.
Mais uma vez, presenciamos em abundância a energia destinada à interpretação que falta na mobilização pelas reformas do Estado brasileiro. De forma hipócrita, dá-se preferência para o debate das consequências, e não das causas.
A inexistência de unidade social e política, muitas vezes incentivada pelos interesses imediatistas do privado, para implementar as reformas já gerou muitas baixas na vida política brasileira. Agora, estamos vendo sofrer um considerável desgaste um dos melhores quadros políticos de sua geração.
Tive a oportunidade de conhecer o militante Palocci, fundador de muitos diretórios do PT na região de Ribeirão Preto. Vi o dirigente do Sindicato dos Médicos organizar a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e lutar pelos direitos dos trabalhadores. Presenciei um vereador e deputado dedicado e visionário, um prefeito que entendeu a necessidade de inovar nas políticas públicas, referência para o Brasil.
O país deve a Palocci e a Guido Mantega o êxito da política econômica do governo Lula, que criou as condições para que o Brasil crescesse com justiça social. Uma bela biografia neste momento atingida.
E pior, por atos amparados pelo Estado. O episódio vivenciado por Palocci tem que deixar lições.
Penso, e tenho defendido, que o PT utilize o seu acúmulo político tirando as reformas do Estado brasileiro da carta de intenções, criando as condições para que sejam efetivadas, trazendo para as regras e normas aquilo que a sociedade civil já projetou, decidiu e incorporou à sua cultura política.
A armadilha continua ativada.
Qual liderança e qual partido político será o próximo?
EDINHO SILVA é presidente do PT no Estado de São Paulo e deputado estadual (PT-SP).