12 junho 2011

Lula fatura eleição de aliados e espalha suas marcas pela AL



Ex-presidente vê "momento extraordinário" na região e compara onda progressista à liderada por Vargas e Perón

Petista exporta receitas para países vizinhos e mina a influência do venezuelano Hugo Chávez no continente

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

O discurso do "nunca antes" já não cabe "neste país".
Empolgado com as vitórias de aliados pela América Latina, o ex-presidente Lula adotou um novo mote: o continente vive um "momento extraordinário", sob inspiração do seu governo no Brasil.
Ele tem se empenhado para espalhar marcas pela região, desde estratégias de campanha até programas sociais como o Bolsa Família.
A nova vitrine do "lulismo de exportação" é o Peru, onde Ollanta Humala triunfou ao trocar o nacionalismo do venezuelano Hugo Chávez pelo esquerdismo moderado que alçou Lula ao poder.
A receita eleitoral incluiu assessores do PT, como Luís Favre, e a divulgação de uma "Carta ao Povo Peruano" inspirada na "Carta ao Povo Brasileiro", de 2002.
Agora, prevê a reciclagem de programas petistas e a criação de um órgão similar ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
"Se Ollanta for um fracasso, estamos derrotados", resumiu Lula após se encontrar com o aliado, na sexta-feira.
Ele chegou a convidar uma repórter do país vizinho a entrevistar ministros brasileiros para ter "um retrato fiel do que acontecerá no Peru".
A diferentes plateias, o petista tem se apresentado como líder de uma guinada à esquerda do continente, na contramão do que chama de "direitização da Europa".
"Os setores progressistas, em cinco décadas na América Latina, nunca estiveram no poder como estão agora", disse, ao lado de Humala.
Dois dias antes, ele comparou o momento atual à década de 50, quando os populistas Getúlio Vargas (Brasil) e Juan Perón (Argentina) ditavam as regras na região.
Num discurso semelhante ao que tem feito aos aliados latinos, Lula reivindicou um "milagre": a distribuição de renda com crescimento.
"Esse milagre aconteceu no Brasil e pode acontecer em qualquer país da América Latina", prometeu. "E, se algum de vocês se levantar de mau humor com a América Latina, ligue para mim!"

CHAVISMO
Na nova condição de ex-presidente, ele já foi recebido por outros ex-radicais que se elegeram ao imitar sua caminhada para o centro, como José Mujica (Uruguai) e Fernando Lugo (Paraguai).
Outro discípulo, Maurício Funes (El Salvador), venceu em 2009 depois de entregar sua campanha ao publicitário João Santana, que trabalhou com Lula e Dilma.
Embora o ex-presidente evite divergências públicas com Chávez, dois de seus assessores disseram à Folha que as vitórias dos "lulistas" minam a influência do modelo venezuelano, calçado no conflito permanente entre o governo e o empresariado.
O diagnóstico se alinha às crises enfrentadas por Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador), mais identificados com o chavismo.