José Roberto de Toledo, especial para o Estado
SÃO PAULO - Mateiros, no sudeste do Tocantins, era um vilarejo sem luz elétrica em 2000. Uma ponta de mapa na divisa com Maranhão, Piauí e Bahia, lugar esquecido e seco, sem plantação ou criação de valor. Dez anos depois, Mateiros é conhecida como a capital do Jalapão, o deserto mais cenográfico do Brasil. E um polo agrícola emergente.
Graças ao ecoturismo, e a dezenas de milhares de hectares plantados de soja, milho e arroz, a renda média de seus habitantes subiu de R$ 117 para R$ 1.110 por mês entre 2000 e 2010, um pulo de 1.667%, já descontada a inflação. Do 5.417.º lugar entre as cidades do Brasil, passou a ser a 53.º mais rica. Seu PIB per capita bateu em R$ 45 mil por ano.
Transformações tão revolucionárias são raras, mas em 95% dos municípios houve ganhos de renda reais na década passada. E eles foram proporcionalmente maiores entre as localidades mais pobres. Como consequência, a desigualdade de renda entre os municípios caiu 32%, ao longo dos últimos dez anos.
Em 2000, a renda média dos 1.110 municípios mais ricos era 4,7 vezes maior do que a dos 1.110 municípios mais pobres. Em 2010, segundo novos dados do Censo, essa proporção caiu para 3,2 vezes. Em moeda atualizada, a renda média dos 20% de municípios que compõem a base da pirâmide brasileira era de R$ 155 por habitante por mês em 2000. Por causa do crescimento da economia, das transferências governamentais à população pobre e dos aumentos sucessivos do salário mínimo, além da inflação, essa renda média dos municípios em situação mais precária pulou para R$ 263. Foi um ganho médio de R$ 108 por habitante.
Ao mesmo tempo, a renda dos 20% de municípios que estão no topo da pirâmide nacional variou de R$ 725 para R$ 839. Foram R$ 114 a mais no bolso dos seus moradores, mas, proporcionalmente, o salto da renda dos mais pobres foi quatro vezes maior. Encurtaram, portanto, as distâncias econômicas e sociais entre o topo e a base.
Como regra geral, quanto mais pobre o município, maior foi seu ganho de renda. E não é difícil entender o porquê. A base de comparação é tão pequena que injetar R$ 100 por mês por habitante equivale a um aumento de 78% na renda média dos 550 municípios que compõem os 10% mais pobres do País.