"Em 2010, foi tudo pela Dilma. Agora, é tudo pelo PT". É dessa forma que o novo presidente do PT, o deputado estadual Rui Falcão (SP), resume a tática partidária para as eleições municipais de 2012. A estratégia e as candidaturas passarão pelo crivo do ex-presidente Lula, admite. Falcão confirma que o PT terá candidato à prefeitura de São Paulo, onde a vitória é vista como "precondição" para romper a hegemonia do PSDB no governo estadual em 2014. A ampliação de prefeituras petistas em todo o país, segundo ele, também ajudará a manter Dilma no Planalto a partir de 2014. Cuidadoso, deixou claro que o PT não irá menosprezar aliados, mas começa desde já o esforço para viabilizar candidaturas próprias.
PERFIL: Novo presidente do PT é ligado ao grupo de Marta Suplicy e a José Dirceu
PERFIL: Novo presidente do PT é ligado ao grupo de Marta Suplicy e a José Dirceu
A eleição do senhor irá apaziguar setores insatisfeitos do PT, que reclamavam de ter caído no "vazio" nos primeiros meses do governo Dilma?
RUI FALCÃO: No primeiro escalão, o PT está muito bem situado, temos os ministérios da Saúde e das Comunicações, que antes não estavam conosco. No segundo escalão, há outros partidos que compõem a base aliada e que têm suas demandas nos estados. É questão de tempo, para o governo analisar e compatibilizar as demandas. O "vazio" que você cita é natural. Foi fruto, por um lado, do momento, de início do governo e, por outro lado, do nosso presidente (José Eduardo Dutra) ter ficado doente e não ter conseguido se engajar mais.
Parte do PT está insatisfeita com a conduta da equipe econômica.
FALCÃO: Neste fim de semana, o diretório aprovou resolução - sem questionamento dos vários grupos representados - dizendo que concorda com a orientação que o governo vem dando à política geral e à política econômica. O combate à inflação não implica em arrochar salários, promover desemprego ou recessão.
A resolução do diretório fala em pressões inflacionárias "propagandísticas". O PT vê uso político da situação?
FALCÃO: Um dos componentes da inflação é a expectativa futura. Ficar batendo que o governo vai perder o combate contra a inflação, ou que a inflação fugirá do controle, gera expectativas negativas. O melhor é ter tranquilidade. No segundo semestre haverá acomodação de preços.
O PT se fortalecerá com Dilma?
FALCÃO: Tínhamos diálogo com Lula e temos com Dilma. Não é porque o presidente não é mais o Lula que o partido vai fazer mais exigências. O PT se fortalece mais se o governo continuar agindo tão bem, porque a popularidade do governo se transfere para o PT.
E a volta de Delúbio Soares não abala a credibilidade?
FALCÃO: O diretório, por 60 votos contra 15, com duas abstenções, autorizou que ele se filie. Vamos esperar um pouco, fazer pesquisas e ver se isso teve repercussão negativa na sociedade, e qual foi a extensão. Nossa decisão não representou qualquer tipo de anistia. Foi uma decisão pautada pelo princípio de que não temos penas perpétuas. Nesses seis anos, ele teve um comportamento compatível com alguém que foi do PT. Isso não apagou os erros que cometeu. E foi punido pelos erros políticos que cometeu, com a pena mais grave do partido, a expulsão.
Ele também é acusado de participar de um esquema de desvio de recursos públicos. Para usar uma frase do Delúbio, acha que o caso já virou uma "piada de salão"?
FALCÃO: Essa avaliação só se pode fazer como fato concreto se o STF vier a condená-lo. Até o momento, ele é réu, tem direito a ampla defesa.
Como é sua relação com a presidente, especialmente devido à turbulência nas eleições?
FALCÃO: Minha relação com ela é muito boa. Não há afastamento nem atrito. Eu a conheci nos anos 70, militamos juntos. Eu participei de toda a campanha, não é verdade que tenha sido alijado. Fiquei até o último dia, participei da posse e recebi um abraço afetuoso dela, celebrando a vitória. E aquela versão da campanha de que eu havia tirado dados de um computador é fantasiosa, não existiu. Estou processando o autor da calúnia, civil e criminalmente.
Como o PT fará para tirar a reforma política do papel?
FALCÃO: Caminhamos para a possibilidade de votar a reforma, ainda que não tenha a amplitude que o PT pretende. O financiamento público de campanha tem consenso em quase todos os partidos. O voto em lista vai mobilizar a sociedade.
Por quê?
FALCÃO: A lista é a única maneira de permitir uma maior representação das mulheres e das etnias. Hoje existe um sub-representação flagrante desses setores, mesmo com exigências de 30% nas chapas. Essa possibilidade vai aumentar o interesse das entidades e das mulheres, que são formadoras de opinião.
A população confiará aos partidos a tarefa de montar as listas? Não é cheque em branco?
FALCÃO: Mas hoje temos as listas dos banqueiros e empreiteiros, das quais a sociedade não participa. Há dominância desses setores na composição do parlamento. O representante deve ser devedor do representado. Mas acaba sendo devedor do financiador. Esse é problema.
A criação do PSD muda o cenário político nacional e paulista. Como o PT analisa esse quadro?
FALCÃO: Vários futuros integrantes do PSD declaram que querem compor com a base da Dilma. Se for assim, é positivo, amplia nossa base no Congresso. Mas o fundador disse que apoiaria o ex-governador Serra em São Paulo. Isso pode ensejar movimentos futuros nos quais o partido, mesmo dando sustentação no Congresso, pode ter um caminho eleitoral que o coloca na oposição. O PSD agora não é nada, nem partido é ainda.
Em São Paulo, um dos últimos "bastiões" do PSDB, como o PT vai se organizar?
FALCÃO: Já há um movimento estadual e municipal. Quanto antes o PT definir a tática e arregimentar alianças, maiores as chances de sucessos em 2012. E o sucesso em 2012 é precondição para, em 2014, tentar quebrar a supremacia tucana no governo estadual. Na definição da tática, os companheiros vão avaliar que, em 2010, foi tudo pela eleição da Dilma. Era a tática correta, também para aumentar nossa força no Senado e dar maior sustentação a ela. Agora, é tudo pelo PT, fortalecer o PT. O que não significa desprezar aliados. A orientação geral deverá ser a de fortalecer o PT nas eleições de 2012, para criar condições de reeleger a Dilma em 2014 e conquistar novos espaços.
A decisão passa pelo Lula?
FALCÃO: Para todas as decisões do PT, devemos ouvir a opinião do presidente Lula.