03 maio 2011

Júlio de Sá Bierrenbach, ministro aposentado do STM, afirma que atentado ao Riocentro deixou de ser investigado para proteger altos oficiais








Jailton de Carvalho, Extra



"Trinta anos depois do atentado do Riocentro, um dos casos mais emblemáticos da fase final da ditadura militar, o ministro aposentado do Superior Tribunal Militar (STM) Júlio de Sá Bierrenbach sustenta que a investigação foi abafada para inocentar altos oficiais vinculados ao crime. O ministro aponta o dedo para o general Octávio Medeiros, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e até para o ex-presidente João Baptista de Figueiredo, já falecido. "Figueiredo, na ocasião, declarou que (os militares envolvidos no atentado) não estavam subordinados a ele. Estavam subordinados ao ministro do Exército. Mas aí faço uma pergunta: o Iº Exército não estava subordinado ao presidente da República?" O atentado ocorreu em 30 de abril de 1981. Reportagens publicadas pelo GLOBO na semana passada mostram que a agenda do sargento Guilherme Pereira do Rosário - um dos autores do ataque, morto na explosão - revela a rede de terror envolvida no episódio, mas jamais foi usada nas investigações.

















O caso Riocentro completou 30 anos. O senhor acha que falta muita coisa ainda para ser esclarecida? O que faltou apurar?






JÚLIO BIERRENBACH: Deram um jeito no espaço e no tempo. Primeiro, ao insistir em que a bomba não estava no colo do sargento. Era um absurdo. Depois deram um jeitinho no tempo com a emenda constitucional de 1985. Deixaram de botar o parágrafo segundo da emenda, que limitava a coisa ao período da Anistia concedida pelo (presidente João) Figueiredo até 1979. Quando o Hélio Bicudo era presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, me convidou para ir a Brasília prestar declarações. Tinha 12 representantes lá, e tudo isso veio à baila. É desagradável. A decisão do meu tribunal no segundo inquérito foi completamente errada, um absurdo (o STM incluiu o atentado entre os casos protegidos pela Lei de Anistia).



Por que era absurdo?






BIERRENBACH: A segunda vez em que o caso foi julgado, baseado na emenda votada pelo Congresso em 1985. O período era o mesmo, até 1979. E o Riocentro foi depois de 79.



Ou seja, o caso Riocentro não foi alcançado por essa emenda?






BIERRENBACH: Não, absolutamente, a emenda não protegia (os responsáveis) pelo caso do Riocentro.



Então o senhor acha que deveria haver punição?






BIERRENBACH: Deviam julgar, deviam apurar. Ninguém apurou nada. Não apuraram porque não quiseram apurar. É pena você não ter em mãos o meu livro ("Riocentro: quais os responsáveis pela impunidade?"). Eu cito as declarações do Figueiredo).”



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