16 maio 2011

Churrasco da Gente Diferenciada reúne 4 mil pessoas em Higienópolis e é ato inédito no Brasil

Sim, 4 mil pessoas. Pelo menos. Explico o número. O ato de ontem em Higienópolis teve 4 momentos: concentração na praça Villaboim, encontro na frente do shopping Higienópolis, caminhada na avenida Angélica e aglomeração final na frente do Pão de Açúcar, na esquina das ruas Sergipe e Angélica, onde seria a estação de metrô combatida por parte da população do bairro –e apoiada pelo movimento de ontem. Esses 4 momentos, juntos, duraram pelo menos 6 horas (entre 14h e 20h). Em nenhum minuto dessas 6 horas o ato ficou esvaziado. Conheço algumas pessoas que só foram na Villaboim, porque tinham compromissos ou moravam perto. Outros tantos não se animaram a seguir andando até a Angélica e foram pra casa do shopping. Muitos ficaram pouco no local da estação, tinham outros compromissos ou já estavam cansados. Por outro lado, muita gente, ao saber pela internet, telefonemas ou SMS que o ato estava legal, chegou mais tarde, quando o povo já estava no Pão de Açúcar. Tinha muita gente ’nova ’, moradores inclusive, aparecendo pro churrascão quando já era noite.
Aqui era só o começo da concentração no shopping

Com esses dados na mão, conversei com amigos jornalistas acostumados a cobrir manifestações dos mais variados tipos. A conclusão é unânime. Em português claro, ali não tinham só 600 pessoas, como diz a PM, NEM FUDENDO. Vale lembrar que a Folha só divulga números da PM. E os outros jornais falaram em cerca de mil pessoas mas, mesmo assim, não participaram do churrasco de ontem só mil pessoas NEM FUDENDO.

Tradicionalmente a Policia Militar joga os números reais de participantes (muito) pra baixo. E seus palpites sempre são um chute, não há critério científico algum. Aliás é bom lembrar que a única vez em que houve algum critério científico na aferição de pessoas em eventos no Brasil foi nos comícios das Diretas Já, quando eram feitas fotos aéreas, calculados o números de pessoas por metro quadrado e a renovação de público X números de horas de duração do evento, entre outros fatores. Hoje em dia, é tudo chute puro. E palpite por palpite, me desculpem, mas confio mais no meu e no dos meus amigos jornalistas do que no da PM ou no de outros jornalistas –mal-humorados. Enfim, levando-se em consideração os fatores do começo do texto (4 momentos, duração etc) as estimativas de participantes, feitas por quem esteve lá o dia todo e já esteve em dezenas de manifestações, giraram entre 3 e 5 mil pessoas. Fechei então na média, 4 mil pessoas no Churrascão da Gente Diferenciada.
Aqui o povo subindo a Angélica, quando muita gente já tinha ido embora, e muita gente nem tinha chegado ainda. Foram só 600 pessoas ao longo do dia todo. Ã-hã..

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IMPORTANTE, EMOCIONANTE E INÉDITO

O Churrasco de ontem foi IMPORTANTE porque trata de duas das questões centrais nessa cidade: primeiro a absurda falta de transporte público, principalmente metrô (isso sem falar no absurdo da passagem de ônibus a 3 reais) e segundo tocou na ferida do preconceito contra pobre por boa parte da população não-pobre, especialmente em bairros mais tradicionais como Higienópolis (cidade da higiene, em latim). Pior, há um enorme preconceito contra metrô e transporte público em geral, como se só pobre precisasse de metrô…

Por essas e outras levei alguns cartazes prontos (e cartolinas em branco, muito bem preenchidas pelo pessoal) para, de forma bem-humorada, denunciarmos o preconceito do bairro. A ideia era “representar a associação de moradores”. O cartaz que mais apareceu em fotos e TV dizia “Só ando de metrô em NY, Londres e Paris”. Mas o meu favorito, que mais sorrisos amarelos de vizinhos causou ao longo do dia, é criação do genial Edson Monteiro, amigo de quase duas décadas, que dizia: “Minha empregada que venha a pé!! ”. VEJA GALERIA NO PÉ DO POST.

O churrasco de ontem foi EMOCIONANTE por vários motivos. Por provar que uma mobilização da Internet pode chegar as ruas; por juntar ricos e pobres em torno de uma causa nobre como o metro; pela civilidade absoluta dos participantes, moradores e policia; pelo bom humor; pela ocupação do espaço público… enfim, só quem esteve lá pra saber do que estou falando… foi demais.

O churrasco de ontem foi INÉDITO principalmente porque não tinha nenhuma liderança. Ninguém comandava aquilo. A CET chegou pra mim e um amigo no começo da noite e perguntou quem era o organizador, queria negociar o desimpedimento da avenida Angelica. “Não tem organizador, e por isso é legal”, respondemos. “Legal pra vocês”, respondeu o homem, indo embora. Nenhum partido político ou sindicato estava lá. Pequenos grupos de outros movimentos (passe livre, bicicletada, etc) compareceram, mas ninguém comandou o ato. Ninguém era de ninguém no melhor dos sentidos. Foi a coisa mais espontânea e bonita que eu já vi em Sao Paulo. Tomara que tenham muitos outros como esse, por muitos outros motivos, e que sejam atos igualmente livres e sem liderança. E igualmente importantes e emocionantes.

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Esse cartaz saiu até na Globo (SPTV)

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O momento da criação que causaou a ira de alguns moradores...

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“Metrô em Higienópolis só com entrada social e de serviço”

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Adoro o colega Fernando Barros e Silva (de vermelho, ao fundo), na mesma foto que eu com a camiseta da fAlha. Enfim, foi um ato plural


http://desculpeanossafalha.com.br/