Ex-presidente receberá cerca de R$ 200 mil por participação em eventos
Petista foi contratado pela coreana LG; para assessor, seu papel é animar vendedores e "trabalhar autoestima"
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
Dois meses depois de deixar o Planalto com popularidade recorde, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estreia hoje no circuito de palestras para executivos.
Segundo fontes do mercado e do PT, ele cobrará o cachê mais alto do país: cerca de R$ 200 mil por participação em eventos de negócios.
A fala inaugural será em São Paulo, em feira da coreana LG Electronics. Lula e a empresa não quiseram divulgar as cifras do contrato.
"Sem dúvida, ele será o palestrante com o valor mais alto do Brasil", diz Priscila David, diretora da agência Palavra Speakers Bureau, que representa estrelas do ramo como jornalistas de TV e ex-presidentes do Banco Central.
De acordo com ela, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também liderou o mercado de palestras após deixar o governo. Hoje, seu cachê chegaria a R$ 150 mil.
AUTOESTIMA
O diretor do futuro Instituto Lula, Paulo Okamoto, disse que o chefe cobrará o preço de um "líder que é respeitado em todo o mundo".
"Lula é uma figura global, tem muita credibilidade. Ele vai contar sua experiência e trabalhar a autoestima do pessoal", afirmou.
"Este é o papel de um ex-presidente, animar as coisas. Lula ajudou os brasileiros e ainda tem muito a contribuir com as causas da paz e da democracia. Ele quer elevar a autoestima do país."
O assessor já negocia palestras nos próximos meses, no Brasil e no exterior. "Estamos sendo procurado por empresas que querem animar os vendedores, se posicionar no mercado e ouvir o que o Lula tem a dizer."
Segundo Okamoto, Lula usará o dinheiro para "dar conforto à família" e "continuar fazendo política" sem o salário do governo. Ele já recebe R$ 13 mil mensais do PT.
A criação do instituto e do memorial sobre a trajetória do petista devem ser bancados por doadores privados.
O contrato com a LG inclui palestra de 40 minutos, fechada à imprensa, e jantar com clientes e diretores.
"Lula é uma figura global e representa o crescimento da economia brasileira nos últimos anos", exaltou o gerente-geral de marketing da empresa, Humberto de Biase.
A empresa anunciará produtos da linha branca (eletrodomésticos), de olho na ascensão da classe C.
AMIGOS COREANOS
O petista mantém boas relações com a fabricante desde a Presidência. Ele participou da inauguração da segunda fábrica do grupo em Taubaté (SP), em julho de 2005. No discurso, tratou os executivos como "nossos amigos coreanos da LG".
Apesar da proximidade com Lula, a empresa teve embates em 2009 com o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, que é filiado à CUT.