Sem experiência anterior, ela encarou uma dura campanha eleitoral. E saiu consagrada com os mais de 55 milhões de votos que a tornaram a primeira mulher escolhida para assumir a Presidência do brasil
Delmo Moreira e Hugo Marques/ Foto: Uly Martins
Nenhum brasileiro, em 2010, foi tão observado, teve a vida tão perscrutada, as ideias e intenções tão esmiuçadas, os nervos tão publicamente testados. Também nenhum brasileiro se dedicou mais a conseguir adesões, conquistar confiança e convencer pessoas. O ano de 2010 teve a cara de Dilma Rousseff. Nos quatro meses da campanha eleitoral que a levou à Presidência da República com mais de 55 milhões de votos, Dilma fez 55 viagens, por 35 vezes arrastou multidões em caminhadas e carreatas pelo País, concedeu 117 entrevistas, subiu em 28 palanques para discursar, participou de 61 encontros com representantes de algum setor da sociedade e ainda enfrentou nove debates – alguns ferozes – com adversários. O tamanho da exposição pública certamente correspondeu ao tamanho da gana de exercer uma função pública. Mas nem sempre esse equilíbrio entre vontades e exigências serviu de consolo na rotina pesada dos compromissos. Dilma, esgotada ao final do primeiro turno, por várias vezes se queixou a assessores do ritmo e do ardor “desumanos” da campanha. Mas seguiu jogando o jogo.
“Um líder como Lula nunca estará longe de seu povo. Baterei muito
à sua porta e tenho certeza deque a encontrarei sempre aberta”
PARCERIAS
A presidente eleita agradece o apoio de Lula e recebe orientações de Antônio Palocci,
futuro ministro da Casa Civil, antes de tenso debate na tevê
Dilma é a Brasileira do Ano. E lutou por isso como ninguém. Ela vem de uma geração que se formou acalentando sonhos coletivos. Para jovens que tiveram uma trajetória semelhante à dela, colocar interesses e problemas individuais à frente dos projetos políticos era quase uma ofensa. Naquela turma, os chamados “desvios pequeno-burgueses” equivaliam aos pecados veniais. A desistência ao apostolado do combate à ditadura, ao pecado mortal. A felicidade final não estava nos céus, mas na ponta de um destino – o mundo mais justo. A violência dos anos do regime militar e as trapaças naturais do tempo trataram, aos poucos, de rebaixar ambições. Dilma não escapou disto. Houve um curto e pouco conhecido período de sua vida em que imaginar um ano como 2010 seria pura insanidade. Foi a fase menos pública de Dilma.
CAMPANHA
55 viagens, 117 entrevistas e 28 comícios em apenas 4 meses
Corria o ano de 1974 e o regime dos generais dava ares de que duraria para sempre. Ernesto Geisel havia assumido a Presidência da República, mas ninguém ainda falava em distensão política, nem sequer lenta e gradual. Um ano antes, Dilma, recém-libertada do presídio político em São Paulo, tinha mudado de cidade e pensava em mudar muito mais. Passara a morar com os sogros, em Porto Alegre, para ficar perto do companheiro, Carlos Franklin Paixão Araújo, preso político que cumpria pena na prisão instalada numa ilhota no meio do rio Guaíba. Ela precisava de uma profissão para seguir em frente e assim ingressou na Faculdade de Economia da UFRGS (úrguis, como pronunciam os gaúchos). Não conseguiu aproveitar nenhuma matéria feita antes na Federal de Minas Gerais e teve que se integrar à turma do primeiro ano. Poucos colegas sabiam do passado recente de Dilma. Para a maioria, ela era uma das tantas alunas mais velhas (tinha 27 anos numa classe de calouros), quase sempre bancárias ou funcionárias públicas, que buscavam a faculdade para melhorar de colocação em seus empregos e não gostavam de confusão. Arredia e sabendo que era vigiada, ela não se misturava aos grupos de alunos empenhados em reacender as manifestações de protesto que haviam sido reprimidas no início da década. Dilma, segundo lembram antigos colegas, só estudava.
A faculdade de economia era um dos centros do novo movimento estudantil, que sucedia a geração de 68, da qual Dilma fez parte. Uma turma de garotos de barbicha e cabelos compridos começava a agitar o Daeca (Diretório Acadêmico da Economia, Contábeis e Atuariais), que ocupava duas salas amplas, contava com um bom caixa e dispunha de equipamentos para produzir panfletos. O feio prédio de três andares da faculdade tinha uma localização estratégica para os estudantes. Ficava na avenida João Pessoa, que seria escolhida como palco das passeatas de 76/77, de frente para o edifício onde funcionavam o restaurante universitário, a Casa do Estudante e o Diretório Central da UFRGS.
EM AÇÃO
No Rio, entrevista coletiva e, em São Paulo, visita à
União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis
Muitas vezes Dilma passou pelo saguão de pé-direito alto da faculdade sem se deter nos cartazes que convocavam para atos em defesa da reconstrução da UNE ou para estreias de aguerridos grupos teatrais. Ela alcançava a grande porta central de madeira escura, descia dois degraus até o portão de ferro e virava à direita, galgando a leve ladeira da avenida. Após a primeira esquina, chegava à calçada da praça Argentina, onde os estudantes costumavam se concentrar antes dos atos públicos. Dilma seguia em frente. Mais dois quarteirões e já estava nas ruas estreitas do centro de Porto Alegre, caminhando entre a multidão atarefada e indiferente às pretensões estudantis. Em 1976, quando, após os anos do sufoco, os alunos da UFRGS organizaram sua primeira passeata, nascia Paula, a única filha de Dilma. Nesta época, já estagiária da Fundação de Economia Estatística, Dilma era tão discreta, aplicada e disposta a construir vida nova que conseguiu escapar de uma razia dos órgãos de segurança que caçavam comunistas no quadro funcional desse órgão ligado ao governo do Estado. Dilma acabaria demitida da fundação num outro processo de caça às bruxas, três anos mais tarde.
“A igualdade de oportunidades entre homens e mulheres é um princípio essencial da democracia”
Aos 62 anos, essa economista, que por um tempo chegou a pensar que poderia levar uma existência comum, centrada apenas nos interesses de sua família, foi colocada em definitivo na história do Brasil. É a presidente de número 36, primeira mulher a ocupar o cargo, eleita 25 anos depois do fim da ditadura que combateu. A exemplo de Lula quando assumiu a Presidência, ela também diz que “não pode errar”. Enquanto trabalha duro na estruturação do novo governo e espera o dia da posse que mudará para sempre sua vida, Dilma tem passado a maior parte do tempo na Granja do Torto, que adotou de vez como escritório de transição. Raramente fica no gabinete do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), ocupado por Lula no período da reforma do Palácio do Planalto.
SUPEREXPOSIÇÃO
Um ano surpreendente para quem chegou
a pensar em levar uma vida comum
Às margens do ribeirão do Torto, a granja fazia parte do projeto original dos modernistas que planejaram Brasília. Localizada próximo à Asa Norte, foi imaginada como uma área capaz de abastecer a futura cidade (de, no máximo, 200 mil habitantes, conforme o projeto) com ovos e frangos. Como tudo o mais em Brasília, virou outra coisa. A Granja do Torto é a casa de campo oficial da Presidência, uma chácara, com uma pequena floresta, lago com tablado de madeira para pescar e um belo pomar, viveiro natural para bandos de tucanos. Nela moraram os ex-presidentes João Goulart e João Figueiredo. Este criou cavalos ali. Já Lula usou a granja para promover encontros, churrascos e as famosas festas juninas. Dilma aproveita suas trilhas estreitas, fazendo caminhadas enquanto conversa com convidados. Companhias não faltam nessas últimas semanas.
EXPERIÊNCIAS
Testando a mira antes da indicação como candidata
e recebendo apoio de artistas e intelectuais no Rio
A temporada no Torto vem permitindo mais informalidade para o trabalho de Dilma. Mesmo recebendo gente o tempo inteiro (em geral ela cumpre cinco audiências diárias), a presidente eleita tem dispensado batom e maquiagem, usa roupas leves, às vezes, jeans. Só muito raramente recepciona algum convidado trajando tailleur. A mudança para o Torto obrigou a equipe de transição a se deslocar diariamente para lá. Helena Chagas, futura ministra das Comunicações, despacha com Dilma todas as manhãs. Também quase todos os dias está na Granja o futuro ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, que se transformou num dos principais confidentes de Dilma. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, escolhido para permanecer no cargo, é outra presença frequente.
“Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa.
Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa e de culto”
A presidente eleita gosta de ficar acordada até tarde quando tem uma boa conversa para espichar. “Vem aqui no Torto que a gente entra noite adentro conversando”, falou recentemente ao telefone a uma autoridade do governo Lula que ela estava interessada em manter na função. Este telefonema, na verdade, começou de outro jeito, com uma frase que já está virando marca de Dilma junto a seus assessores: “Preciso falar com Vossa Excelência”, disse ela. Conforme reproduziu à ISTOÉ a autoridade convocada, a conversa seguiu bem-humorada: “Quero seu conjunto de ideias. Me passa suas obras completas recentes.” Dilma pediu que o interlocutor lhe enviasse “textos interessantes” sobre “temas cultos”: “Antes você me mandava coisas assim, agora não manda mais nada”, reclamou.
DOIS TEMPOS
Já eleita, participa da sessão de posse do presidente e do
vice-presidente do Tribunal de Contas da União (no alto).
E a infância passada em Belo Horizonte (acima)
“Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome.
A erradicação da miséria é uma meta que assumo”
No CCBB, o gabinete de Dilma fica no segundo andar, com vista para o Lago Sul. Os assessores decoraram as salas com inúmeras fotos dela em parceria com Lula inaugurando obras do PAC. Ali há escritórios para os principais coordenadores de sua campanha presidencial e futuros ministros, como Antônio Palocci e José Eduardo Cardozo. No primeiro andar funciona o gabinete do vice-presidente Michel Temer. Membros da equipe de transição contam que ela é rígida com as tarefas que repassa e exigente no cumprimento dos prazos. “Mesmo assim demonstra grande afabilidade”, diz um deles.
Com frequência, Dilma vai ao Palácio da Alvorada para se aconselhar com Lula. As reuniões acontecem quase sempre à noite, algumas vezes durante um jantar. Ela tem sido extremamente atenciosa com o presidente que deixa o cargo. Orientou os subordinados e todos os ministros nomeados que tenham cuidado de não fazer nenhum pronunciamento ou movimentação passíveis de sugerir que ela está “passando por cima” de Lula. “Só vou começar a governar no dia 1º. Não quero ocupar o espaço que é do presidente Lula”, disse ela no início da semana passada. A Brasileira do Ano está determinada a brilhar mesmo é em 2011.
Luiz Inácio Lula da Silva - Brasileiro da década
ISTOÉ
Delmo Moreira e Hugo Marques/ Foto: Uly Martins
Nenhum brasileiro, em 2010, foi tão observado, teve a vida tão perscrutada, as ideias e intenções tão esmiuçadas, os nervos tão publicamente testados. Também nenhum brasileiro se dedicou mais a conseguir adesões, conquistar confiança e convencer pessoas. O ano de 2010 teve a cara de Dilma Rousseff. Nos quatro meses da campanha eleitoral que a levou à Presidência da República com mais de 55 milhões de votos, Dilma fez 55 viagens, por 35 vezes arrastou multidões em caminhadas e carreatas pelo País, concedeu 117 entrevistas, subiu em 28 palanques para discursar, participou de 61 encontros com representantes de algum setor da sociedade e ainda enfrentou nove debates – alguns ferozes – com adversários. O tamanho da exposição pública certamente correspondeu ao tamanho da gana de exercer uma função pública. Mas nem sempre esse equilíbrio entre vontades e exigências serviu de consolo na rotina pesada dos compromissos. Dilma, esgotada ao final do primeiro turno, por várias vezes se queixou a assessores do ritmo e do ardor “desumanos” da campanha. Mas seguiu jogando o jogo.
“Um líder como Lula nunca estará longe de seu povo. Baterei muito
à sua porta e tenho certeza deque a encontrarei sempre aberta”
PARCERIAS
A presidente eleita agradece o apoio de Lula e recebe orientações de Antônio Palocci,
futuro ministro da Casa Civil, antes de tenso debate na tevê
Dilma é a Brasileira do Ano. E lutou por isso como ninguém. Ela vem de uma geração que se formou acalentando sonhos coletivos. Para jovens que tiveram uma trajetória semelhante à dela, colocar interesses e problemas individuais à frente dos projetos políticos era quase uma ofensa. Naquela turma, os chamados “desvios pequeno-burgueses” equivaliam aos pecados veniais. A desistência ao apostolado do combate à ditadura, ao pecado mortal. A felicidade final não estava nos céus, mas na ponta de um destino – o mundo mais justo. A violência dos anos do regime militar e as trapaças naturais do tempo trataram, aos poucos, de rebaixar ambições. Dilma não escapou disto. Houve um curto e pouco conhecido período de sua vida em que imaginar um ano como 2010 seria pura insanidade. Foi a fase menos pública de Dilma.
CAMPANHA
55 viagens, 117 entrevistas e 28 comícios em apenas 4 meses
Corria o ano de 1974 e o regime dos generais dava ares de que duraria para sempre. Ernesto Geisel havia assumido a Presidência da República, mas ninguém ainda falava em distensão política, nem sequer lenta e gradual. Um ano antes, Dilma, recém-libertada do presídio político em São Paulo, tinha mudado de cidade e pensava em mudar muito mais. Passara a morar com os sogros, em Porto Alegre, para ficar perto do companheiro, Carlos Franklin Paixão Araújo, preso político que cumpria pena na prisão instalada numa ilhota no meio do rio Guaíba. Ela precisava de uma profissão para seguir em frente e assim ingressou na Faculdade de Economia da UFRGS (úrguis, como pronunciam os gaúchos). Não conseguiu aproveitar nenhuma matéria feita antes na Federal de Minas Gerais e teve que se integrar à turma do primeiro ano. Poucos colegas sabiam do passado recente de Dilma. Para a maioria, ela era uma das tantas alunas mais velhas (tinha 27 anos numa classe de calouros), quase sempre bancárias ou funcionárias públicas, que buscavam a faculdade para melhorar de colocação em seus empregos e não gostavam de confusão. Arredia e sabendo que era vigiada, ela não se misturava aos grupos de alunos empenhados em reacender as manifestações de protesto que haviam sido reprimidas no início da década. Dilma, segundo lembram antigos colegas, só estudava.
A faculdade de economia era um dos centros do novo movimento estudantil, que sucedia a geração de 68, da qual Dilma fez parte. Uma turma de garotos de barbicha e cabelos compridos começava a agitar o Daeca (Diretório Acadêmico da Economia, Contábeis e Atuariais), que ocupava duas salas amplas, contava com um bom caixa e dispunha de equipamentos para produzir panfletos. O feio prédio de três andares da faculdade tinha uma localização estratégica para os estudantes. Ficava na avenida João Pessoa, que seria escolhida como palco das passeatas de 76/77, de frente para o edifício onde funcionavam o restaurante universitário, a Casa do Estudante e o Diretório Central da UFRGS.
EM AÇÃO
No Rio, entrevista coletiva e, em São Paulo, visita à
União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis
Muitas vezes Dilma passou pelo saguão de pé-direito alto da faculdade sem se deter nos cartazes que convocavam para atos em defesa da reconstrução da UNE ou para estreias de aguerridos grupos teatrais. Ela alcançava a grande porta central de madeira escura, descia dois degraus até o portão de ferro e virava à direita, galgando a leve ladeira da avenida. Após a primeira esquina, chegava à calçada da praça Argentina, onde os estudantes costumavam se concentrar antes dos atos públicos. Dilma seguia em frente. Mais dois quarteirões e já estava nas ruas estreitas do centro de Porto Alegre, caminhando entre a multidão atarefada e indiferente às pretensões estudantis. Em 1976, quando, após os anos do sufoco, os alunos da UFRGS organizaram sua primeira passeata, nascia Paula, a única filha de Dilma. Nesta época, já estagiária da Fundação de Economia Estatística, Dilma era tão discreta, aplicada e disposta a construir vida nova que conseguiu escapar de uma razia dos órgãos de segurança que caçavam comunistas no quadro funcional desse órgão ligado ao governo do Estado. Dilma acabaria demitida da fundação num outro processo de caça às bruxas, três anos mais tarde.
“A igualdade de oportunidades entre homens e mulheres é um princípio essencial da democracia”
Aos 62 anos, essa economista, que por um tempo chegou a pensar que poderia levar uma existência comum, centrada apenas nos interesses de sua família, foi colocada em definitivo na história do Brasil. É a presidente de número 36, primeira mulher a ocupar o cargo, eleita 25 anos depois do fim da ditadura que combateu. A exemplo de Lula quando assumiu a Presidência, ela também diz que “não pode errar”. Enquanto trabalha duro na estruturação do novo governo e espera o dia da posse que mudará para sempre sua vida, Dilma tem passado a maior parte do tempo na Granja do Torto, que adotou de vez como escritório de transição. Raramente fica no gabinete do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), ocupado por Lula no período da reforma do Palácio do Planalto.
SUPEREXPOSIÇÃO
Um ano surpreendente para quem chegou
a pensar em levar uma vida comum
Às margens do ribeirão do Torto, a granja fazia parte do projeto original dos modernistas que planejaram Brasília. Localizada próximo à Asa Norte, foi imaginada como uma área capaz de abastecer a futura cidade (de, no máximo, 200 mil habitantes, conforme o projeto) com ovos e frangos. Como tudo o mais em Brasília, virou outra coisa. A Granja do Torto é a casa de campo oficial da Presidência, uma chácara, com uma pequena floresta, lago com tablado de madeira para pescar e um belo pomar, viveiro natural para bandos de tucanos. Nela moraram os ex-presidentes João Goulart e João Figueiredo. Este criou cavalos ali. Já Lula usou a granja para promover encontros, churrascos e as famosas festas juninas. Dilma aproveita suas trilhas estreitas, fazendo caminhadas enquanto conversa com convidados. Companhias não faltam nessas últimas semanas.
EXPERIÊNCIAS
Testando a mira antes da indicação como candidata
e recebendo apoio de artistas e intelectuais no Rio
A temporada no Torto vem permitindo mais informalidade para o trabalho de Dilma. Mesmo recebendo gente o tempo inteiro (em geral ela cumpre cinco audiências diárias), a presidente eleita tem dispensado batom e maquiagem, usa roupas leves, às vezes, jeans. Só muito raramente recepciona algum convidado trajando tailleur. A mudança para o Torto obrigou a equipe de transição a se deslocar diariamente para lá. Helena Chagas, futura ministra das Comunicações, despacha com Dilma todas as manhãs. Também quase todos os dias está na Granja o futuro ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, que se transformou num dos principais confidentes de Dilma. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, escolhido para permanecer no cargo, é outra presença frequente.
“Zelarei pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa.
Zelarei pela mais ampla liberdade religiosa e de culto”
A presidente eleita gosta de ficar acordada até tarde quando tem uma boa conversa para espichar. “Vem aqui no Torto que a gente entra noite adentro conversando”, falou recentemente ao telefone a uma autoridade do governo Lula que ela estava interessada em manter na função. Este telefonema, na verdade, começou de outro jeito, com uma frase que já está virando marca de Dilma junto a seus assessores: “Preciso falar com Vossa Excelência”, disse ela. Conforme reproduziu à ISTOÉ a autoridade convocada, a conversa seguiu bem-humorada: “Quero seu conjunto de ideias. Me passa suas obras completas recentes.” Dilma pediu que o interlocutor lhe enviasse “textos interessantes” sobre “temas cultos”: “Antes você me mandava coisas assim, agora não manda mais nada”, reclamou.
DOIS TEMPOS
Já eleita, participa da sessão de posse do presidente e do
vice-presidente do Tribunal de Contas da União (no alto).
E a infância passada em Belo Horizonte (acima)
“Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome.
A erradicação da miséria é uma meta que assumo”
No CCBB, o gabinete de Dilma fica no segundo andar, com vista para o Lago Sul. Os assessores decoraram as salas com inúmeras fotos dela em parceria com Lula inaugurando obras do PAC. Ali há escritórios para os principais coordenadores de sua campanha presidencial e futuros ministros, como Antônio Palocci e José Eduardo Cardozo. No primeiro andar funciona o gabinete do vice-presidente Michel Temer. Membros da equipe de transição contam que ela é rígida com as tarefas que repassa e exigente no cumprimento dos prazos. “Mesmo assim demonstra grande afabilidade”, diz um deles.
Com frequência, Dilma vai ao Palácio da Alvorada para se aconselhar com Lula. As reuniões acontecem quase sempre à noite, algumas vezes durante um jantar. Ela tem sido extremamente atenciosa com o presidente que deixa o cargo. Orientou os subordinados e todos os ministros nomeados que tenham cuidado de não fazer nenhum pronunciamento ou movimentação passíveis de sugerir que ela está “passando por cima” de Lula. “Só vou começar a governar no dia 1º. Não quero ocupar o espaço que é do presidente Lula”, disse ela no início da semana passada. A Brasileira do Ano está determinada a brilhar mesmo é em 2011.
Luiz Inácio Lula da Silva - Brasileiro da década
ISTOÉ