07 outubro 2010

Emilio Canalha

O saudoso escritor José Saramago numa de suas últimas visitas ao Brasil fazia troça com a chegada do e-mail em seu dia a dia, dizendo que brincava com sua mulher referindo-se a novidade virtual - o Emilio. Assim se referia a companheira: “Já avistastes o Emilio?”. Hoje, outubro de 2010, no inicio de primavera Brasil, somos invadidos por uma novidade que equivocadamente foi batizado como “e-mail falso”. Não é bem isso o que tem acontecido. Não estamos sendo agredidos por “e-mails falsos” no singular ou plural, já que ele é bem verdadeiro. O seu conteúdo sim é repleto de falsidades, covardias e perfídias. Para o querido Saramago nada mais lembrava trevas do que o nome Salazar, que o remetia a um passado tenebroso. Para nós, a maioria dos brasileiros com mais de quarenta anos, nada mais aterrorizante do que lembrar que um dia fomos governados por um nefasto presidente por nome Emilio Garrastazu Médici, que traz a luz da atualidade cenas de muita dor e humilhação. Sendo assim em homenagem ao indispensável escritor de língua portuguesa, sugiro uma simbiose da palavra Emilio usada no genérico, rebatizando o tormento que insulta nossa memória como sendo Emilio Canalha.

Quem é Emilio Canalha nesse espetáculo de luzes e trevas? É aquele instrumento torpe, aparentemente inominável, que tripudia sobre o direito sagrado da vida ou sobre o privilégio de uns poucos que um dia ousaram lutar contra a tirania dos Médicis, Pinochets ou Vilelas. Além disso, Emilio Canalha é usado clandestinamente visando tumultuar a consciência de milhares de inocentes, desprovidos de defesa, que lutam bravamente procurando o melhor significado para suas vidas, ou enfrentam a pior de todas as formas com que a morte se apresenta – a fome. Emilio Canalha deve ser atacado com todas as armas porque nada é mais revolucionário do que a informação, como diriam os poetas de todas as línguas.

Jair Alves – dramaturgo – outubro de 2010