ANA FLOR
DE PORTO ALEGRE
JEAN-PHILIP STRUCK
DE SÃO PAULO
A Polícia do Rio Grande do Sul prendeu nesta sexta-feira um sargento da Brigada Militar suspeito de vazar dados sigilosos de políticos gaúchos.
Segundo a Folha apurou, entre eles estão o ministro Tarso Genro e um candidato ao Senado que não é do PT.
César Rodrigues de Carvalho é suspeito de receber propina de contraventores que exploram máquinas caça-níqueis na região metropolitana de Porto Alegre.
Durante as investigações, o Ministério Público chegou até o nome de Carvalho, que durante dois anos ficou lotado na Casa Militar do Palácio Piratini, sede do governo estadual, hoje ocupado por Yeda Crusius (PSDB).
Segundo o promotor de justiça criminal de Canoas Amilcar Fagundes Macedo, o sargento acessava o sistema de informações integradas do Estado. O Ministério Público suspeita que ele utilizava as informações com fins eleitorais.
O promotor afirmou que, por meio do sistema, Carvalho fez mais de 1.200 consultas sobre políticos, partidos e bicheiros, e pode ter acessado dados fiscais estaduais e processos em andamento na Justiça, inclusive os que estão sob sigilo. No sistema não constam dados da Receita Federal e nem de outros órgãos federais.
Além de políticos, ele acessou dados de um oficial da Aeronáutica e de seus colegas de inteligência na Casa Militar, segundo a promotoria.
De acordo com Macedo, o sargento era investigado havia três meses, quando começou a acessar dados de investigações com as quais não tinha ligação.
Macedo negou que a operação Agregação, como foi chamada, tenha sido deflagrada com algum interesse político, e rechaçou qualquer ligação com os problemas na Receita Federal envolvendo a quebra de sigilo fiscal de dirigentes tucanos.
Ele, no entanto, disse acreditar que o sargento tenha sido coagido.
"Eu não acredito que ele tenha feito isso por sua livre vontade", afirmou.
CONTRAVENÇÃO
Além do acesso aos dados, o sargento é suspeito de receber propina de contraventores que exploram caça-níqueis na grande Porto Alegre.
A promotoria afirma que Carvalho informava aos contraventores as datas das operações que seriam realizadas para apreender as máquinas e as investigações e até mesmo dados das investigações.
Ainda segundo o promotor Macedo, o sargento utilizava veículos oficiais da Casa Militar para coletar o dinheiro dos contraventores.
O promotor afirma que ainda não sabe a totalidade dos dados acessados pelo sargento.
A Folha tentou entrar em contato com o advogado de Carvalho, mas ele não foi localizado. A reportagem também tentou falar com o comando da Brigada Militar, para que comentasse o episódio, mas não conseguiu.