14 setembro 2010

Ministério Público apura se carros de Yeda foram usados em busca de propina








GRACILIANO ROCHA
DE PORTO ALEGRE


A investigação sobre um esquema clandestino de espionagem supostamente operado por assessores da governadora Yeda Crusius (PSDB-RS) voltou a elevar a temperatura política após o Ministério Público realizar, hoje, uma operação de busca nos carros usados pela segurança da tucana.

A Promotoria investiga se o sargento César Rodrigues de Carvalho, lotado na Casa Militar e pivô do escândalo de espionagem, utilizou veículos da segurança de Yeda para recolher propina de contraventores na região metropolitana de Porto Alegre.


A busca comandada pelo promotor Amílcar Macedo, autorizada pela Justiça, gerou uma reação forte da governadora, que acusou a Promotoria de realizar "ações espetaculosas".

No site de microblog Twitter, a tucana anunciou que vai ingressar ações contra agentes do Ministério Público gaúcho ou do Tribunal de Justiça que promoverem abusos.

"Cenas preparadas e programadas, com ações espetaculosas acompanhadas por dezenas de repórteres e câmeras de TV têm que ter um basta", escreveu Yeda.

A busca foi tensa. Com a ordem judicial em mãos, Macedo chegou ao Palácio Piratini (sede do governo gaúcho) e teve de esperar por mais de uma hora.

Só após a chegada do comandante-geral da Brigada Militar, João Carlos Trindade, e de um representante da Procuradoria-Geral de Justiça, o promotor foi levado à garagem onde ficam os carros da segurança.

Pelo menos quatro veículos correspondem aos que aparecem em imagens gravadas durante a investigação que levou à prisão de Carvalho por suspeita de receber dinheiro de donos de caça-níqueis em troca de proteção.

A defesa do sargento nega as acusações.

Carvalho também acessou dados de adversários políticos no sistema Consultas Integradas, usado pela Secretaria de Segurança Pública.

Entre os espionados estão o candidato do PT ao governo, Tarso Genro, e dirigentes petistas.

Hoje, o secretário estadual de Transparência, Francisco Luçardo, admitiu que houve acessos "abusivos" do sistema, mas isentou a governadora, que, segundo ele, foi "surpreendida".

O governo anunciou também nesta segunda-feira mudanças na estrutura da Casa Militar. O tenente-coronel Marco Quevedo, que comanda o órgão, deverá deixar o cargo e ir para a reserva, segundo Luçardo.