Emir Sader* - Sociólogo e cientista político brasileiro.
- Depende do tipo de governo que ele faça e do tipo de candidato que tenha -
Um esporte favorito da imprensa mercantil é tentar passar como realidade seu desejo de que Lula não seja capaz de transferir sua extraordinária popularidade a Dilma. Primeiro, diziam, Dilma não decolaria. Fracassaram: mais além das manipulações, há um evidente empate técnico nas pesquisas, sem que outro candidato cresça, impondo o caráter plebiscitário da eleição.
Em segundo, se trataria de buscar casos de dificuldade de transferência de votos por presidentes com popularidade. Nesse caso, a ginástica tem que ser bem maior. O Chile sempre foi a referência do Serra e dos tucanos, inclusive porque os governos da Concertação nunca saíram do modelo herdado de Pinochet, a tal ponto que a abertura escancarada da sua economia lhes impede de participar do Mercosul ou de outros projetos de integração regional, como o Banco do Sul, entre outros. Serra pregava o modelo de privatização chilena da Previdência e a precarização laboral advindas ambas do governo de Pinochet, como o modelo que pretende seguir. Esse modelo foi derrotado. A derrota é a de um modelo de referência tucana, incapaz de transferir sua popularidade a um péssimo candidato – o ex-presidente democrata cristão Eduardo Frei.
No caso da Colômbia, se trata do aliado privilegiado dos EUA na região, Alvaro Uribe, representante claro da extrema direita no continente, com dificuldade de eleger o seu sucessor, ex-ministro do governo, supostamente com popularidade, até que foi espetacularmente superado por um candidato opositor.
Uma das tantas viuvinhas do FHC na mídia mercantil faz essas comparações para tentar encher-se de esperança de que Lula não elege seu sucessor. Só que escolhe mal – como sempre – os critérios de comparação. Nenhum desses governantes se assemelha com as orientações do governo brasileiro. Bachelet e Uribe estão muito mais para FHC do que para Lula.
Teria que tomar como critério os governantes que privilegiam a integração regional e as políticas sociais. Nesse caso, a referência obrigatória não são Bachelet ou Uribe, mas Tabaré Vasquez, ex-presidente do Uruguai. Tabaré, como Lula, rompeu com a sequência de governos neoliberais no seu país, integrou o Uruguai nos processos de integração regional, privilegiou as políticas sociais e terminou seu mandato com um extraordinário apoio popular.
O que dizia a direita de lá? Que Tabaré não conseguiria eleger seu sucessor, ainda mais por que a Frente Ampla escolheu um ex-militante clandestino na luta contra a ditadura – um ex-Tupamaro, Pepe Mujica – como candidato à sua sucessão. A inovação radical de um personagem assim, se dizia, impediria dar continuidade ao governo de Tabaré. Por aqui, os corvos - aqueles mesmos que querem enterrar a “farsa” (sic) do Mercosul - torciam pelo retorno da direita.
Mujica ganhou espetacularmente, assumindo que tinha mudado as formas de luta, mas que nunca tinha mudado de campo, seguia fiel ao campo popular. Silêncio total da imprensa tucana nas lições a tirar, porque não favorecem as abordagens viciadas dos militantes dos partidos da imprensa (não são mais jornalistas, porque a partir do momento em que a executiva da Força Serra Presidente disse que são partidos de oposição, passaram todos a ser militantes desse partido e não mais jornalistas profissionais). Poderiam fazer comparações de Tabaré com Lula, de Mujica com Dilma, da direita derrotada na sua tentativa de retornar ao poder com o bloco tucano-demista. Mas, quando a realidade contradiz os desejos das viuvinhas, melhor recolher-se no silêncio contrito do desespero serrista.
Mas essa é a grande comparação. Tabaré elegeu Mujica, como Lula pode eleger Dilma. Depende do tipo de governo que foi feito. FHC não elegeu Serra, pelo governo que fez e pelo candidato que escolheu. Tabaré elegeu seu sucessor, pelo governo que fez e pelo candidato que foi escolhido pela Frente Ampla. Lula pode eleger seu sucessor, pelo governo que fez e pela candidata escolhida para sucedê-lo – Dilma.
Sei que é duro comparar a realidade com os sonhos desvairados de retorno tucano e das viuvinhas que telefonavam todo dia para o Planalto para falar com o presidente. Mas a realidade é implacável com as avaliações equivocadas. Deveriam, os corvos, tirar lições dos seus desvairados projetos de derrubar Lula em 2005, para que não recebam a realidade de volta como bumerangue a chocar contra suas cabeças deformadas pelas lentes elitistas com que tentam enxergar o mundo.
* Graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, mestre em filosofia política e doutor em ciência política por essa mesma instituição. Foi professor de Filosofia e Ciência Política da USP. Foi também pesquisador do Centro de Estudos Sócio Econômicos da Universidade do Chile e professor de Política na Unicamp. Atualmente, é professor aposentado da Universidade de São Paulo e dirige o Laboratório de Políticas Públicas (LPP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde é professor de sociologia. É autor de "A Vingança da História", entre outros livros.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/
- Depende do tipo de governo que ele faça e do tipo de candidato que tenha -
Um esporte favorito da imprensa mercantil é tentar passar como realidade seu desejo de que Lula não seja capaz de transferir sua extraordinária popularidade a Dilma. Primeiro, diziam, Dilma não decolaria. Fracassaram: mais além das manipulações, há um evidente empate técnico nas pesquisas, sem que outro candidato cresça, impondo o caráter plebiscitário da eleição.
Em segundo, se trataria de buscar casos de dificuldade de transferência de votos por presidentes com popularidade. Nesse caso, a ginástica tem que ser bem maior. O Chile sempre foi a referência do Serra e dos tucanos, inclusive porque os governos da Concertação nunca saíram do modelo herdado de Pinochet, a tal ponto que a abertura escancarada da sua economia lhes impede de participar do Mercosul ou de outros projetos de integração regional, como o Banco do Sul, entre outros. Serra pregava o modelo de privatização chilena da Previdência e a precarização laboral advindas ambas do governo de Pinochet, como o modelo que pretende seguir. Esse modelo foi derrotado. A derrota é a de um modelo de referência tucana, incapaz de transferir sua popularidade a um péssimo candidato – o ex-presidente democrata cristão Eduardo Frei.
No caso da Colômbia, se trata do aliado privilegiado dos EUA na região, Alvaro Uribe, representante claro da extrema direita no continente, com dificuldade de eleger o seu sucessor, ex-ministro do governo, supostamente com popularidade, até que foi espetacularmente superado por um candidato opositor.
Uma das tantas viuvinhas do FHC na mídia mercantil faz essas comparações para tentar encher-se de esperança de que Lula não elege seu sucessor. Só que escolhe mal – como sempre – os critérios de comparação. Nenhum desses governantes se assemelha com as orientações do governo brasileiro. Bachelet e Uribe estão muito mais para FHC do que para Lula.
Teria que tomar como critério os governantes que privilegiam a integração regional e as políticas sociais. Nesse caso, a referência obrigatória não são Bachelet ou Uribe, mas Tabaré Vasquez, ex-presidente do Uruguai. Tabaré, como Lula, rompeu com a sequência de governos neoliberais no seu país, integrou o Uruguai nos processos de integração regional, privilegiou as políticas sociais e terminou seu mandato com um extraordinário apoio popular.
O que dizia a direita de lá? Que Tabaré não conseguiria eleger seu sucessor, ainda mais por que a Frente Ampla escolheu um ex-militante clandestino na luta contra a ditadura – um ex-Tupamaro, Pepe Mujica – como candidato à sua sucessão. A inovação radical de um personagem assim, se dizia, impediria dar continuidade ao governo de Tabaré. Por aqui, os corvos - aqueles mesmos que querem enterrar a “farsa” (sic) do Mercosul - torciam pelo retorno da direita.
Mujica ganhou espetacularmente, assumindo que tinha mudado as formas de luta, mas que nunca tinha mudado de campo, seguia fiel ao campo popular. Silêncio total da imprensa tucana nas lições a tirar, porque não favorecem as abordagens viciadas dos militantes dos partidos da imprensa (não são mais jornalistas, porque a partir do momento em que a executiva da Força Serra Presidente disse que são partidos de oposição, passaram todos a ser militantes desse partido e não mais jornalistas profissionais). Poderiam fazer comparações de Tabaré com Lula, de Mujica com Dilma, da direita derrotada na sua tentativa de retornar ao poder com o bloco tucano-demista. Mas, quando a realidade contradiz os desejos das viuvinhas, melhor recolher-se no silêncio contrito do desespero serrista.
Mas essa é a grande comparação. Tabaré elegeu Mujica, como Lula pode eleger Dilma. Depende do tipo de governo que foi feito. FHC não elegeu Serra, pelo governo que fez e pelo candidato que escolheu. Tabaré elegeu seu sucessor, pelo governo que fez e pelo candidato que foi escolhido pela Frente Ampla. Lula pode eleger seu sucessor, pelo governo que fez e pela candidata escolhida para sucedê-lo – Dilma.
Sei que é duro comparar a realidade com os sonhos desvairados de retorno tucano e das viuvinhas que telefonavam todo dia para o Planalto para falar com o presidente. Mas a realidade é implacável com as avaliações equivocadas. Deveriam, os corvos, tirar lições dos seus desvairados projetos de derrubar Lula em 2005, para que não recebam a realidade de volta como bumerangue a chocar contra suas cabeças deformadas pelas lentes elitistas com que tentam enxergar o mundo.
* Graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, mestre em filosofia política e doutor em ciência política por essa mesma instituição. Foi professor de Filosofia e Ciência Política da USP. Foi também pesquisador do Centro de Estudos Sócio Econômicos da Universidade do Chile e professor de Política na Unicamp. Atualmente, é professor aposentado da Universidade de São Paulo e dirige o Laboratório de Políticas Públicas (LPP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde é professor de sociologia. É autor de "A Vingança da História", entre outros livros.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/