Documentos obtidos com exclusividade pelo Correio mostram como o governo Arruda partilhou 2.982 postos de trabalho comissionados entre parlamentares em troca de apoio. Barganha custava R$ 4,36 milhões por mês
Ana Maria Campos e Lilian Tahan:
A mesada era apenas uma parte do estímulo oferecido aos políticos no Distrito Federal. Deputados distritais, federais e senadores tinham direito a manter pendurado na estrutura do governo um exército de cabos eleitorais.
Todos os detalhes do fatiamento da administração pública entre os apadrinhados de aliados do ex-governador José Roberto Arruda (sem partido) eram controlados em planilhas sob a responsabilidade do então chefe da Casa Civil, José Geraldo Maciel, escalado para a missão de manter uma boa relação com a base política.
O Correio teve acesso com exclusividade aos registros dos dados armazenados no computador de Maciel apreendido durante a Operação Caixa de Pandora. Mantidos em sigilo no Inquérito nº 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), os documentos esmiuçam um esquema de partilha do poder com base em critérios inventados para atender a uma hierarquia que estabelece gradações entre os aliados.
A apreensão revela que havia uma distribuição de cargos meticulosamente sistematizada. Os apadrinhados exerciam função de encarregados, secretários administrativos, gerentes, chefes de núcleos, assessores de secretarias, administrações regionais e fundações vinculadas ao GDF.
Para atendê-los, o governo tem um leque de cargos cujos salários variam entre R$ 421 e R$ 9.315. A base aliada a Arruda na Câmara Legislativa e no Congresso Nacional foi responsável pela indicação de 2.982 servidores na administração do DF. Juntos, esses funcionários representavam um custo mensal aos cofres públicos de R$ 4,36 milhões.
As planilhas de Maciel indicam que a Secretaria de Saúde, uma das pastas mais importantes da administração, estava totalmente loteada entre nomeações de protegidos dos distritais Dr. Charles (PTB) e Paulo Roriz (DEM) e do deputado federal Augusto Carvalho (PPS). Criada para defender os direitos humanos, a Secretaria de Justiça e Cidadania era uma mina de favores políticos.
A pasta estava sob o controle dos deputados Raimundo Ribeiro (PSDB), que indicou 131 nomes, Benício Tavares (PMDB), com 16 aliados na área de defesa dos portadores de necessidades especiais, Alírio Neto (PPS), com 24 assessores, Cristiano Araújo (PTB), com 18 apadrinhados, além do senador Gim Argello (PTB), que conseguiu empregar nove pessoas.
Na tabela do governo, que tem como data de criação 6 de janeiro de 2009, consta um ranking no qual é possível avaliar o poder de barganha de cada aliado. No quadro, a deputada Eliana Pedrosa (DEM) — que à época era secretária de Desenvolvimento Social na gestão Arruda — aparece como primeira colocada.
No período documentado, a distrital tinha 318 empregados sob sua ingerência. A maior parte, 221 nomeados, na própria Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest). Em seguida, 87 na Secretaria de Trabalho. Somados, os salários dos cabos eleitorais de Eliana consumiam meio milhão de reais ao mês.
Rôney Nemer (PMDB), um dos investigados na Operação Caixa de Pandora como suposto beneficiário de mesada em troca de apoio a Arruda, conseguiu negociar a contratação de 252 pessoas, com gasto de folha de pessoal da ordem de R$ 318 mil. É o segundo colocado. Ele tinha aliados principalmente no Recanto das Emas, seu reduto eleitoral, e na Agência de Fiscalização (Agefis) do governo. Nemer dirigiu a Agefis em 2008.
Paulo Roriz (DEM), que chefiava a pasta de Habitação em janeiro de 2009, surge como terceiro no ranking dos cabos eleitorais. Com 167 nomeações, ele ganhava em número de servidores na estrutura do GDF do distrital Raimundo Ribeiro (PSDB), considerado o maior aliado de Arruda. À época, o tucano estava na Câmara, mas ficou à frente da Secretaria de Justiça(1) durante um ano e meio na gestão do amigo.
Ribeiro conseguiu emplacar 153 funcionários ao custo mensal de R$ 296,7 mil, enquanto Paulo Roriz representava, a cada 30 dias, o gasto de R$ 225 mil. Também citado no escândalo do pagamento de propina, Benedito Domingos (PP) era o quarto mais bem aquinhoado. Indicou 167 pessoas, o equivalente a uma despesa mensal de R$ 172 mil.
Correio Braziliense
Ana Maria Campos e Lilian Tahan:
A mesada era apenas uma parte do estímulo oferecido aos políticos no Distrito Federal. Deputados distritais, federais e senadores tinham direito a manter pendurado na estrutura do governo um exército de cabos eleitorais.
Todos os detalhes do fatiamento da administração pública entre os apadrinhados de aliados do ex-governador José Roberto Arruda (sem partido) eram controlados em planilhas sob a responsabilidade do então chefe da Casa Civil, José Geraldo Maciel, escalado para a missão de manter uma boa relação com a base política.
O Correio teve acesso com exclusividade aos registros dos dados armazenados no computador de Maciel apreendido durante a Operação Caixa de Pandora. Mantidos em sigilo no Inquérito nº 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), os documentos esmiuçam um esquema de partilha do poder com base em critérios inventados para atender a uma hierarquia que estabelece gradações entre os aliados.
A apreensão revela que havia uma distribuição de cargos meticulosamente sistematizada. Os apadrinhados exerciam função de encarregados, secretários administrativos, gerentes, chefes de núcleos, assessores de secretarias, administrações regionais e fundações vinculadas ao GDF.
Para atendê-los, o governo tem um leque de cargos cujos salários variam entre R$ 421 e R$ 9.315. A base aliada a Arruda na Câmara Legislativa e no Congresso Nacional foi responsável pela indicação de 2.982 servidores na administração do DF. Juntos, esses funcionários representavam um custo mensal aos cofres públicos de R$ 4,36 milhões.
As planilhas de Maciel indicam que a Secretaria de Saúde, uma das pastas mais importantes da administração, estava totalmente loteada entre nomeações de protegidos dos distritais Dr. Charles (PTB) e Paulo Roriz (DEM) e do deputado federal Augusto Carvalho (PPS). Criada para defender os direitos humanos, a Secretaria de Justiça e Cidadania era uma mina de favores políticos.
A pasta estava sob o controle dos deputados Raimundo Ribeiro (PSDB), que indicou 131 nomes, Benício Tavares (PMDB), com 16 aliados na área de defesa dos portadores de necessidades especiais, Alírio Neto (PPS), com 24 assessores, Cristiano Araújo (PTB), com 18 apadrinhados, além do senador Gim Argello (PTB), que conseguiu empregar nove pessoas.
Na tabela do governo, que tem como data de criação 6 de janeiro de 2009, consta um ranking no qual é possível avaliar o poder de barganha de cada aliado. No quadro, a deputada Eliana Pedrosa (DEM) — que à época era secretária de Desenvolvimento Social na gestão Arruda — aparece como primeira colocada.
No período documentado, a distrital tinha 318 empregados sob sua ingerência. A maior parte, 221 nomeados, na própria Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest). Em seguida, 87 na Secretaria de Trabalho. Somados, os salários dos cabos eleitorais de Eliana consumiam meio milhão de reais ao mês.
Rôney Nemer (PMDB), um dos investigados na Operação Caixa de Pandora como suposto beneficiário de mesada em troca de apoio a Arruda, conseguiu negociar a contratação de 252 pessoas, com gasto de folha de pessoal da ordem de R$ 318 mil. É o segundo colocado. Ele tinha aliados principalmente no Recanto das Emas, seu reduto eleitoral, e na Agência de Fiscalização (Agefis) do governo. Nemer dirigiu a Agefis em 2008.
Paulo Roriz (DEM), que chefiava a pasta de Habitação em janeiro de 2009, surge como terceiro no ranking dos cabos eleitorais. Com 167 nomeações, ele ganhava em número de servidores na estrutura do GDF do distrital Raimundo Ribeiro (PSDB), considerado o maior aliado de Arruda. À época, o tucano estava na Câmara, mas ficou à frente da Secretaria de Justiça(1) durante um ano e meio na gestão do amigo.
Ribeiro conseguiu emplacar 153 funcionários ao custo mensal de R$ 296,7 mil, enquanto Paulo Roriz representava, a cada 30 dias, o gasto de R$ 225 mil. Também citado no escândalo do pagamento de propina, Benedito Domingos (PP) era o quarto mais bem aquinhoado. Indicou 167 pessoas, o equivalente a uma despesa mensal de R$ 172 mil.
Correio Braziliense