22 maio 2010

Carta de Obama louvava acordo com o Irã

Americano escreveu a Lula que "uma decisão do Irã de enviar 1.200 quilos de urânio para fora do país geraria confiança"

Correspondência foi enviada antes da visita de Lula a Teerã, que aceitou trato nas exatas condições descritas pelo presidente dos EUA

Reuters

O presidente dos EUA, Barack Obama, em evento nos jardins da Casa Branca; seu governo impulsiona na ONU sanções contra o Irã

DA REDAÇÃO

Trechos obtidos pela agência Reuters de carta enviada semanas atrás pelo presidente dos EUA, Barack Obama, a seu colega Luiz Inácio Lula da Silva confirmam a versão divulgada nos últimos dias pelo governo brasileiro de que o acordo Brasil-Irã-Turquia atendia a demandas da Casa Branca.
O acordo firmado na segunda em Teerã prevê que o Irã enviará, no prazo de um mês, 1.200 quilos de seu urânio pouco enriquecido à Turquia.
Em até um ano, o país persa receberia, em troca, 120 kg de urânio enriquecido a 20%, índice adequado para uso médico, mas não para fins militares.
O trato é reedição de acordo semelhante proposto em outubro passado pela AIEA (agência atômica da ONU), que na ocasião não foi aceito pelo Irã porque o país se negava a enviar urânio para fora do seu território e exigia que a troca fosse simultânea.
Brasil e Turquia conseguiram fazer o país persa desistir de ambas condições.
"De nosso ponto de vista, uma decisão do Irã de enviar 1.200 quilos de urânio de baixo enriquecimento para fora do país geraria confiança e diminuiria as tensões regionais por meio da redução do estoque iraniano", escreveu Obama na carta, segundo a Reuters.
"O Irã continua a rejeitar a proposta da AIEA e insiste em reter seu urânio de baixo enriquecimento em seu próprio território até a entrega do combustível nuclear", continua.
O presidente americano afirma ainda que, "para iniciar um processo diplomático construtivo, o Irã precisa transmitir à AIEA um compromisso construtivo de engajamento, através dos canais oficiais, algo que não foi feito até o momento".
Ontem, o governo iraniano afirmou que comunicará a AIEA oficialmente do acordo na próxima segunda, dentro do prazo previsto no ato de assinatura no início da semana.
Apesar de indicar na carta que veria um acordo como o fechado pelo Brasil com bons olhos, o governo americano reagiu com ceticismo ao anúncio da segunda e, no dia seguinte, apresentou ao Conselho de Segurança da ONU uma proposta de resolução, respaldada por Rússia e China, para novas sanções a Teerã.

Perplexo
A reação americana deixou Lula "perplexo", segundo relato de um interlocutor próximo ao presidente. O mesmo interlocutor afirmou que Lula está disposto a cobrar de forma mais dura os EUA se não cederem na intenção de impor novas sanções ao país persa.
Anteontem, após manter o silêncio por alguns dias enquanto esperava que as reações ao acordo com Teerã "amadurecessem", o presidente brasileiro já subiu o tom contra os EUA ao afirmar que o entendimento desagradou a "gente que não sabe fazer política se não tiver o inimigo".
Ontem, Lula recebeu uma ligação do presidente do Líbano, Michel Suleiman, que o cumprimentou pelo acordo firmado com Teerã.
O Líbano, onde a milícia xiita Hizbollah, ligada ao Irã, participa do governo, controla hoje a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU.
O país, ao lado de Brasil e Turquia, forma o bloco minoritário das nações que resistem a sanções -anteontem, o chanceler francês garantiu que as punições têm o apoio dos demais 12 membros do conselho.
A expectativa é que as sanções, que preveem maiores restrições a vendas de armas a Teerã e bloqueiam transações financeiras suspeitas de favorecer o programa nuclear, entre outras restrições, sejam votadas no início do próximo mês.
Anteontem, o vice-presidente do Parlamento iraniano disse que a aprovação de novas sanções levaria o país a recuar do acordo com o Brasil.

Com a Sucursal de Brasília e agências internacionais