15 março 2010

Brasil traz 'elemento novo' para processo de paz, dizem analistas no EUA

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva é recebido ao chegar ao aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv, Israel A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Oriente Médio em um momento de crise de credibilidade no processo de paz na região pode representar um elemento novo e positivo, mas tem poucas chances de obter algum avanço, dizem analistas nos Estados Unidos consultados pela BBC Brasil.
"É positivo que o presidente brasileiro esteja fazendo essa viagem, mostra que o mundo não está completamente indiferente", afirma o especialista em Oriente Médio Thomas Lippman, do Council on Foreign Relations, em Washington.

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"Mas nem o Brasil nem qualquer outro país do mundo está pronto para obter algum avanço no processo de paz no Oriente Médio", diz Lippman. "O processo de paz é um embuste, uma ficção." Lula chegou à região neste domingo para encontros com autoridades de Israel e dos territórios palestinos, menos de uma semana depois da conturbada passagem do vice-presidente americano Joseph Biden.
Crise em Jerusalém Durante a visita de Biden, na última terça-feira, o governo israelense anunciou a construção de 1,6 mil novas casas em assentamentos em Jerusalém Oriental.
O anúncio provocou constrangimento ao vice-presidente americano, que havia viajado justamente para tentar promover o início das negociações indiretas entre os dois lados, e gerou fortes críticas por parte dos Estados Unidos.
Em um telefonema ao primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse que o anúncio abalou a relação entre Estados Unidos e Israel e a confiança no processo de paz.
O congelamento dos assentamentos judaicos em territórios palestinos é uma das principais exigências das autoridades palestinas para a retomada das negociações.
Confiança Segundo o pesquisador Douglas Farah, do International Assessment and Strategy Center, a chegada de Lula logo após a visita de Biden pode ter um impacto positivo.
"O Brasil pode gerar um maior nível de confiança em todas as partes envolvidas no processo", diz.
"Os Estados Unidos não são vistos como um mediador imparcial por todos os lados. O Brasil, ao contrário, não tem uma relação tão próxima com Israel como a dos Estados Unidos", afirma Farah.
De acordo com o analista, o fato de Lula ter anunciado que vai dividir seu tempo igualmente entre Israel e os territórios palestinos, inclusive pernoitando em Belém, também deve contribuir para esse nível maior de confiança.
"Será visto como um gesto de solidariedade com os palestinos", diz Farah. "Mas também é importante ressaltar que o tempo de Lula à frente do governo está chegando ao fim, e isso pode ser interpretado mais como um gesto pessoal dele do que como uma postura do Brasil." Protagonismo A viagem de Lula é vista como mais um esforço do Brasil para ganhar maior protagonismo em grandes questões internacionais.
"Está relacionada à ambição global maior do Brasil. Mas o Brasil não tem muita experiência em lidar com questões multilaterais, será uma experiência nova", afirma Farah.
Segundo Lippman, "já era hora" de o Brasil começar a desempenhar um papel no mundo "proporcional a seu tamanho e sua importância".
No entanto, o analista reforça a opinião de que a visita não deverá trazer mudanças no processo de paz.
"Israel já deixou claro que não vai desistir da Cisjordânia, de Jerusalém Oriental, que não vai ceder", diz Lippman.
"É improvável que depois de uma conversa com Lula, Netanyahu decida mudar de ideia."
BBC Brasil