04 fevereiro 2010

MENSALÃO DO DEM:Dinheiro para suborno foi obtido com sobrinho de Arruda

Dinheiro para suborno foi obtido com sobrinho de Arruda
Em depoimento, esta tarde, na Polícia Federal, Antonio Bento, funcionário aposentado da Companhia de Energia de Brasília, disse que recebeu de Rodrigo Arantes, sobrinho e secretário-particular do governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal, os R$ 200 mil que entregou hoje pela manhã em um restaurante da cidade ao jornalista Edson Sombra, uma das testemunhas-chaves do caso do Mensalão do DEM.

Bento foi preso por agentes federais durante o ato de entrega do dinheiro. Sombra havia contado com antecedência à polícia que estava em curso uma tentativa de suborná-lo comandada diretamente por Arruda. Em meados de janeiro último, Sombra recebeu em casa a visita do deputado distrital Geraldo Naves (DEM), atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Legislativa.

Segundo Sombra contou à polícia, Naves lhe deu um bilhete escrito por Arruda e adiantou qual era a oferta dele. Em troca de R$ 3 milhões, Sombra deveria dizer que haviam sido manipulados os vídeos gravados por Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do governo, onde aparecem Arruda e deputados que o apóiam embolsando dinheiro. Foi Sombra que convenceu Durval a denunciar o mensalão do DEM.

No bilhete, já de posse da polícia, Arruda escreveu frases soltas e algumas siglas. A primeira frase diz: "Sei que tentou evitar". Sombra acha que Arruda quis dizer que ele, Sombra, tentara impedir Durval de detonar o escândalo. Siglas escritas por Arruda: BRB e CEB. BRB é Banco Regional de Brasília. Ali, adiantou o deputado Naves, a Arte Prodúção, empresa de Sombra, ganharia uma conta garantida de R$ 450 mil.

CEB quer dizer Companhia de Eletricidade de Brasília. Sombra deve à CEB mais de R$ 500 mil da época em que arrendou uma emissora de rádio que pertenceu ao ex-senador Luiz Estevão de Oliveira. A dívida seria perdoada ou renegociada, disse-lhe o deputado Naves. Na sequência, Sombra foi visitado pelo jornalista Welligton Moraes, assessor de comunicação de Arruda. Comentou com ele:

- Diz pro Arruda que não dá para negociar com um intermediário tão amador como é esse Geraldo Naves.

Como prova do amadorismo de Naves, deu a Welligton o original do bilhete que Arruda lhe enviara. Guardou uma copia. Passados alguns dias, Wellington voltou a procurar Sombra para dizer que o intermediário da negociação agora seria ele. Os dois conversavam quando outra pessoa bateu na porta de Sombra: Antonio Bento.

- Neguinho, o governador mandou que eu negociasse com Sombra - foi logo avisando Bento. "Neguinho" é como amigos de Wellington se referem a ele.

A escolha de Bento para negociar com Sombra fazia sentido. Bento trabalhou de graça na campanha de Arruda para governador. Esperava depois ser nomeado para um cargo em comissão. Arruda ofereceu-lhe um cargo cujo salário era de R$ 2 mil mensais. Bento preferiu aceitar a oferta de Sombra, que é dono do jornal quinzenal O Distrital, e o empregou como "gerente comercial para o mercado privado".

Bento renovou a Sombra a proposta de suborno feita por Arruda, segundo ele. Aproveitou para repetir até os palavrões que disse ter ouvido de Arruda a respeito da crise política instalada no Distrito Federal. O que Bento não sabia ficou sabendo esta tarde: seu encontro com Sombra foi gravado em vídeo pelo próprio Sombra. O vídeo está com a Polícia Federal.

Da semana passada para cá, Bento foi três ou quatro vezes à Granja de Águas Claras, residência oficial do governador do Distrito Federal. Câmeras de segurança instaladas na entrada da granja registraram as chegadas e saídas de Bento.
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