03 fevereiro 2010

ENTREVISTA COM DEPUTADO RUI FALCÃO PT-SP

Quem é o deputado Rui Falcão
Jornalista e advogado, foi eleito com 183.364 votos, para seu terceiro mandato como deputado do PT. O primeiro mandato no Parlamento paulista ocorreu em 1990 a 1994 e o segundo em 1995 a 1999. Exerceu a liderança do partido em 1995. Foi eleito deputado federal em 1999. Em janeiro de 2001, licenciou-se do mandato para assumir o cargo de secretário de Governo da cidade de São Paulo, na gestão da prefeita Marta Suplicy.
Foi eleito em 2006, para tomar posse em março de 2007, para o cargo de deputado estadual em São Paulo, sendo o mais votado da coligação PT/PC do B, e o quarto mais votado do Estado de São Paulo com 183.364 votos.

P - Deputado Rui Falcão, como o Sr. está vendo a administração Serra/Kassab em SP?
R - Vejo-a como a vêem 72% do povo paulistano segundo o último levantamento do Datafolha: uma das piores que a cidade e o Estado já tiveram. Na Capital,quase todas as conquistas do governo Marta vêm sendo destruídos por Kassab: na educação,com o sucateamento dos CEUs; nos transportes, com a desvalorização do bilhete único e com a desativação dos corredores; no descaso com os programas sociais; no abandono da periferia etc.
Serra não faz diferente: aumenta o número de praças e o preço das tarifas dos pedágios, os mais caros do País. Mais recentemente, instalou pedágio na saída da Castelo para o Rodoanel, na prática um pedágio urbano. Também na segurança, a violência corre solta, com a elevação dos índices de criminalidade. São Paulo virou um estado-presídio: cadeias superlotadas e um terço da população carcerária do Brasil. Com tantos problemas, o governador parece ter desistido de uma gestão concreta e passou a se dedicar à virtual: destinou mais de R$ 200 milhões para propaganda em 2010, bem menos do que planeja para combate a enchentes ou reforma de escolas, por exemplo.

P - As enchentes em SP poderiam ter sido evitadas, ou ter menor impacto para a população se o governo Serra se empenhasse?
R - O drama das enchentes é emblemático. Ainda prefeito, Serra cancelou licitação para a construção de piscinões no Anhangabaú, com US$ 164 milhões do BID contratados pela gestão da prefeita Marta. Agora, diante das constantes inundações, Kassab avisa que vai licitar a obra. Na área do saneamento, que abrange também o tratamento de resíduos sólidos (lixo), só houve algum avanço em virtude dos recursos do PAC do governo federal. Mas como o atraso é grande, o abastecimento de água, a coleta e o tratamento de esgoto ainda têm baixa cobertura no Estado. Na região metropolitana da Baixada, por exemplo, a média da coleta de lixo não chega a 60%; em Cubatão, é de 24%, fruto de 30 anos de abandono que a atual prefeita, Márcia Rosa, do PT, luta agora para recuperar o atraso. Ao mesmo tempo, quase nada se faz pela despoluição de nossos rios, especialmente do Tietê. O desassoreamento é insuficiente e há anos o tucanato gasta dinheiro com projetos de despoluição que nunca se concretizam. É nesse contexto que, aqui na Capital, tem sido necessária a intervenção da Defensoria Pública e do Ministério Público para que a Sabesp fizesse algo pelas milhares de famílias prejudicadas pelas últimas enchente do rio Tietê, que mantêm os bairros do Jd. Pantanal e Jd. Romano debaixo de esgoto.

P - O cenário político nacional, com escândalos do DEM, escândalos dos governos do PSDB nos estados, RS, PB, vai enfraquecer a candidatura do Serra?
R - A corrupção do demo-tucanato já é bem conhecida, ainda que a grande mídia se esforce por blindá-lo. O mensalão tucano em Minas Gerais; o “panetonegate” de Arruda – que, por sinal, era cotado como vice de Serra para as eleições de 2010; o desvio de mais de 40 milhões de reais do Detran gaúcho sob governo da tucana Yeda Crusius, tudo isso já é conhecido pelo eleitor.
O que tem sido a “gota d’água” mesmo é a própria gestão Serra em São Paulo, uma versão revista e atualizada do que aprendera com FHC quando ministro do Planejamento e da Saúde: arrocho salarial do funcionalismo público; dilapidação do patrimônio do Estado, reduzindo os instrumentos para se fazer políticas públicas; e gastos excessivos com publicidade, promovendo uma gestão fictícia, que não traz avanços sociais ao povo.

P - FHC tentará puxar votos para o Serra ou vai ficar escondido?
R - Não será FHC quem se esconderá, ele que será escondido! Ninguém tem saudades do neoliberalismo, dos apagões, do salário mínimo de miséria, das privatizações a preço de banana, das três crises econômicas que quebraram o Brasil, da corrupção que não era punida. Hoje em dia, não estamos na perfeição, mas melhoramos muito, demais. FHC sabe disso.

P - Qual é o programa de Serra, seus planos de governo? Eles existem?
R - Como eu disse, os planos de governo de Serra são os planos de FHC. Isso não é coincidência: ele foi seu ministro duas vezes, tendo participado das decisões mais importantes em torno das privatizações e do desmonte do Estado. Quase não havia política social nos anos FHC; não há política social no governo de Serra e com certeza não haverá se ele for eleito. Aliás, até o ano passado os tucanos chamavam o Bolsa Família, que hoje atende a mais de 11 milhões de famílias carentes no Brasil inteiro, de “bolsa esmola”. Só “mudaram de idéia" na véspera das eleições, por puro oportunismo.

P - Acredita que ele vai manter os programas sociais e o PAC do governo Lula?
R - Não só não acredito, como nem ele mesmo acredita. Você viu a entrevista recente que o senador Sérgio Guerra concedeu à revista Veja? Ele foi bem claro: "vamos acabar com o PAC". E não só com o PAC. O senador disse que vão mexer com o câmbio e que promoveriam um verdadeiro arrocho nos gastos públicos. Esses gastos não são que nem os deles, que vão para os bolsos dos amigos. São para o povo: vai do investimento em infra-estrutura aos programas de combate às desigualdades sociais. O Bolsa Família é um deles. Não temo só pelo PAC, temo pelo Bolsa Família também.
P – Por que Serra não quer comparação entre os governos Lula e FHC?
R - O Serra não quer comparar por dois motivos: primeiro porque ele representa o governo FHC. É o governo dos “inempregáveis”, do desemprego estrutural, enquanto o nosso é o dos 11 milhões de empregos em 7 anos; é o governo das três crises econômicas que nos renderam ao FMI, enquanto o nosso é o que conduziu com crescimento previsto de 5% do PIB o país durante a pior crise da história do capitalismo; é o governo que vendeu o patrimônio do país a preço de banana, enquanto o nosso é aquele em que a Petrobrás adquire empresas no exterior e descobre o Pré-Sal, uma fonte de riqueza que servirá aos programas de distribuição de renda e à melhoria da educação.
O segundo motivo é que, justamente por serem dois projetos de país antagônicos, um não pode complementar o outro. O povo não pensa que nem Sérgio Guerra, que acha que ser de esquerda é desmontar o Estado e destruir os programas de promoção da igualdade social. Serra não é capaz de dar continuidade ao legado de Lula, aprimorando-o, justamente porque a única coisa que saberia fazer é destruí-lo.

P - Você está no 3º mandato na Assembléia, teve mais um na Câmara Federal e foi Secretário de Governo na gestão Marta. Conhece bem o eleitor paulistano. Por que os bairros centrais votaram em peso a favor do PSDB em 2008? SP é o berço do PT e também o bastião da direita, reduto do PSDB, um estado no qual Lula só ganhou uma vez, em 2002. A que se deve essa aversão ao progresso e desenvolvimento do país: à grande mídia ou à herança atávica da Revolução de 32?
R - A herança de 1932 motiva mais as elites que a opinião pública. É cristalino que a grande mídia joga a favor de Serra. Essa mídia tem suas idéias propagadas e defendidas por estratos da nossa composição social que deseja manter o statu quo, em que as desigualdade sociais sustentam os privilégios de classe.

P - A chance de a ministra Dilma chegar a presidência é real? Por quê?
R - Não precisa ser petista para entender que Dilma é a mulher mais bem qualificada para ao mesmo tempo dar continuidade ao legado de Lula e para encabeçar um projeto de governo que possibilite avançar nesses 7 anos. Ela é a coordenadora do PAC e conhece em profundidade todos os programas do Governo Federal. Além disso, Dilma é uma mulher com uma longa história de luta a favor da democracia. Ela lutou contra a ditadura arriscando sua própria vida pela libertação do povo. Com esta trajetória, e com o papel que as mulheres, cada vez mais, vêm desempenhando com sucesso na vida pública, ela tem tudo para ser uma grande presidente. Depois de um operário, teremos a primeira mulher a governar o Brasil.
Gabinete Rui Falcão - Av.Pedro Álvares Cabral, 201 - Sala T109 - São Paulo – SP - Cep.:04097-900 - Fone:55-11-3886-6776
Site: http://www.ruifalcao.com.br/
Entrevista dada com exclusividade para o blog da Dilma