08 fevereiro 2010

Além do limite



“A Sabesp não leva a sério recomendação técnica, falha no gerenciamento do nível de represas e cidades paulistas alagam

Fabiana Guedes, IstoÉ

No último mês, quatro cidades próximas da região metropolitana de São Paulo ganharam atenção especial por conta das inundações, que já se tornaram uma rotina na capital paulista. Apesar de, estatisticamente, Atibaia, Bragança Paulista, Nazaré Paulista e Vargem – que juntas somam pouco mais de 280 mil habitantes – estarem bem distantes dos números superlativos de estragos na capital, as cheias que atingiram esses municípios suscitaram uma questão até então ausente do debate público: o papel das represas em períodos de muita chuva. Operando no limite, as barragens paulistas foram obrigadas a abrir suas comportas, ampliando ainda mais os estragos causados pelos temporais intensos e constantes que atingem toda a região metropolitana de São Paulo desde o início de dezembro. Com o aumento das águas causado por uma decisão do poder público – que deveria, em última instância, ter instrumentos para evitar problemas como esses – emergiu também a discussão sobre a capacidade do Estado de gerir essas represas e garantir a segurança da população que vive em seu entorno. Responsável pelo fornecimento de 50% da água consumida pela região metropolitana de São Paulo, as cinco represas que compõem o sistema Cantareira estão operando com quase 100% de sua capacidade.

Por conta do nível recorde, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Água e Energia Elétrica de São Paulo determinaram à Sabesp o aumento da vazão das águas das represas de Jaguari, Cachoeira e Atibainha em meados de dezembro. A medida visou evitar que as represas transbordassem e causassem um estrago imensurável às cidades próximas, caso viessem a se romper. O feito conseguiu manter a estabilidade das barragens, mas ampliou os alagamentos e evidenciou que o sistema não está preparado para tanta chuva. “O problema é que a Sabesp esperou chegar ao limite para abrir as comportas”, diz Fabiane Santiago, prefeita de Piracaia e vice-presidente do Consórcio das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. A Sabesp só tomou a decisão de abrir as comportas das represas por conta da recomendação da ANA, mesmo com os níveis chegando muito próximos ao limite. A explicação para o que parece ser uma negligência, segundo a companhia, é que ações de prevenção como essa só podem ser tomadas por decisão da agência reguladora. “Obedecemos às agências”, diz Paulo Massato, diretor da Sabesp responsável pela região metropolitana da cidade de São Paulo. “Sem a determinação delas nós não podemos fazer nada.” Além da baixassem os níveis, a concentração das chuvas também pegou a Sabesp no contrapé. “Choveu muito, enfrentamos uma situação diferente, acima da média”, afirma Massato.”
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