(*) Delúbio Soares
“O Tejo não é mais bonito
que o rio que passa na minha aldeia”
Fernando Pessoa
Há um rio a ser salvo em Goiás. Sua história não difere muito de outras que escandalizaram países e revoltaram populações. Sua degradação tem sido um “competente” trabalho de anos e anos, num misto de omissão de todos nós e de criminosa irresponsabilidade dos que o assassinam silenciosamente a cada detrito atirado, a cada litro de substância tóxica vertida em seu leito, a cada tonelada de lixo despejado em suas águas, a cada nova canalização clandestina de esgoto ao longo de seu curso.
O rio Meia Ponte é dos mais importantes de Goiás, nascendo em Ituaçu, na Serra dos Brandões, e em Taquaral há outra nascente, descoberta em 2006. Suas águas percorrem 415 km pelas barrancas de 37 Municípios goianos, até Cachoeira Dourada, divisa com Minas Gerais, desaguando no caudaloso e majestoso Rio Paranaíba. O Meia Ponte tem, ainda, seis ribeirões afluentes: Anicuns, Dourados, Caldas, João Leite, Santo Antônio e São Domingos.
Não é pouca coisa. Muito pelo contrário, é uma das maiores riquezas de nossa terra, um de seus valores intangíveis, um presente da natureza e um legado para o futuro se fizermos o que tem que ser feito e assumirmos os compromissos para com sua preservação e sustentabilidade.
Na área de influência de sua bacia hidrográfica vive mais da metade de toda a população goiana e suas águas são utilizadas para as mais diversas finalidades: abastecimento potável, irrigação de lavouras, dessedentação de animais, lazer e despejo de esgotos domésticos e industriais, segundo interessante estudo de Dra. Francis Lee Ribeiro, da Economia Rural da Universidade Federal Viçosa, uma das mais respeitadas do Brasil. E Goiânia, fruto da ousadia visionária de Pedro Ludovico, teve na abundância das águas do Meia Ponte um dos fatores fundamentais na escolha de sua localização geográfica, possibilitando a construção da histórica usina hidrelétrica do Jaó. Esse rio foi decisivo para o nascimento de Goiânia. Goiânia não pode continuar a ser decisiva para a sua morte.
Hoje o rio continua tendo a mesma importância, mas está muitíssimo longe de possuir a mesma vitalidade. Dos mais de 80 mananciais mais de 90% deles possuem algum tipo de degradação – segundo o competente estudo de Francis Lee – que vão desde a ocupação irregular de suas margens até a erosão, assoreamento, lançamento de esgotos, etc... Sendo que este último acinzenta as suas águas na época da estiagem no planalto central, dando-lhe o duro e tristonho tom de seu anunciado fim. E numa ciranda dramática, o homem polui e degrada o Meia Ponte, mas tira dele a água com a qual irriga suas plantações. O produto contaminado vai para a mesa dos consumidores e acarreta problemas de saúde. O homem destrói o rio, a natureza dá o troco.
A sociedade goiana dá os primeiros passos rumo à preservação do rio que clama por sua vida. E são passos seguros, estudados, confiantes. Ambientalistas, empresários, lideres comunitários, cidadãs e cidadãos, artistas e intelectuais, políticos de vários partidos, prefeitos e vereadores, ONG's, sindicalistas, representantes dos governos Federal, Estadual e Municipal se reuniram no auditório do Sinduscom, em Goiânia, no dia de ontem, para deixar clara uma posição quanto ao gravíssimo problema de um dos nossos rios mais importantes. Foi lançada a vitoriosa “Expedição Rio Meia Ponte 2010”.
Inicia-se um debate, uma busca de soluções e, essencialmente, um conjunto de ações efetivas vindas da sociedade civil, do empresariado, do poder público, dos ambientalistas, da imprensa, de cada cidadão, enfim, para que todos juntos possam reverter um quadro dramático, logo ali, na nossa frente, pouco adiante, saindo pelas torneiras de nossas casas e penetrando em nossos corpos e consciências. Acabou-se a indiferença!
A questão ambiental é a grande causa do século XXI. Em Montreal ou em Goiânia. Na Nigéria ou no Brasil. Nossos filhos e netos serão as vítimas de nosso comodismo e indiferença ou agradecerão os nossos esforços e conscientização nos dias de hoje. Tudo depende de nós. Não há tempo a ser perdido, só trabalho a ser feito.
Os ingleses viram o rio Tâmisa absolutamente apodrecido, sinônimo de poluição e irresponsabilidade ambiental. Fizeram dele, em muito poucos anos, um dos mais saudáveis do planeta, cheio de vida, autêntico cartão postal da Inglaterra após tantos anos de degradação e vergonha. Não seremos capazes de salvar o Meia Ponte, tão importante para o nosso presente e para o nosso futuro, como foi de indiscutível importância histórica quando Goiás se modernizou e buscou em suas águas a geração de energia para o surgimento de sua nova capital? Sim, seremos!
A história de Goiás é feita por homens e rios. Muito antes da expedição do Bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o legendário Anhanguera, chegar às terras de Goiás, os historiadores atestam que a rica província era notícia na sede do Império tanto pelo ouro quanto pelos rios que banhavam as terras férteis e as matas habitadas pelos índios Goyá. Agora seremos notícia pela salvação de um desses rios, o Meia Ponte.
A economia que mais cresce no país, o Estado que exporta para o mundo e que surpreende pelo talento de seus empresários e a garra de seu povo, não permitirá que a sentença de morte contra o Meia Ponte seja cumprida.
(*) Delúbio Soares é professor
www.delubio.com.br
“O Tejo não é mais bonito
que o rio que passa na minha aldeia”
Fernando Pessoa
Há um rio a ser salvo em Goiás. Sua história não difere muito de outras que escandalizaram países e revoltaram populações. Sua degradação tem sido um “competente” trabalho de anos e anos, num misto de omissão de todos nós e de criminosa irresponsabilidade dos que o assassinam silenciosamente a cada detrito atirado, a cada litro de substância tóxica vertida em seu leito, a cada tonelada de lixo despejado em suas águas, a cada nova canalização clandestina de esgoto ao longo de seu curso.
O rio Meia Ponte é dos mais importantes de Goiás, nascendo em Ituaçu, na Serra dos Brandões, e em Taquaral há outra nascente, descoberta em 2006. Suas águas percorrem 415 km pelas barrancas de 37 Municípios goianos, até Cachoeira Dourada, divisa com Minas Gerais, desaguando no caudaloso e majestoso Rio Paranaíba. O Meia Ponte tem, ainda, seis ribeirões afluentes: Anicuns, Dourados, Caldas, João Leite, Santo Antônio e São Domingos.
Não é pouca coisa. Muito pelo contrário, é uma das maiores riquezas de nossa terra, um de seus valores intangíveis, um presente da natureza e um legado para o futuro se fizermos o que tem que ser feito e assumirmos os compromissos para com sua preservação e sustentabilidade.
Na área de influência de sua bacia hidrográfica vive mais da metade de toda a população goiana e suas águas são utilizadas para as mais diversas finalidades: abastecimento potável, irrigação de lavouras, dessedentação de animais, lazer e despejo de esgotos domésticos e industriais, segundo interessante estudo de Dra. Francis Lee Ribeiro, da Economia Rural da Universidade Federal Viçosa, uma das mais respeitadas do Brasil. E Goiânia, fruto da ousadia visionária de Pedro Ludovico, teve na abundância das águas do Meia Ponte um dos fatores fundamentais na escolha de sua localização geográfica, possibilitando a construção da histórica usina hidrelétrica do Jaó. Esse rio foi decisivo para o nascimento de Goiânia. Goiânia não pode continuar a ser decisiva para a sua morte.
Hoje o rio continua tendo a mesma importância, mas está muitíssimo longe de possuir a mesma vitalidade. Dos mais de 80 mananciais mais de 90% deles possuem algum tipo de degradação – segundo o competente estudo de Francis Lee – que vão desde a ocupação irregular de suas margens até a erosão, assoreamento, lançamento de esgotos, etc... Sendo que este último acinzenta as suas águas na época da estiagem no planalto central, dando-lhe o duro e tristonho tom de seu anunciado fim. E numa ciranda dramática, o homem polui e degrada o Meia Ponte, mas tira dele a água com a qual irriga suas plantações. O produto contaminado vai para a mesa dos consumidores e acarreta problemas de saúde. O homem destrói o rio, a natureza dá o troco.
A sociedade goiana dá os primeiros passos rumo à preservação do rio que clama por sua vida. E são passos seguros, estudados, confiantes. Ambientalistas, empresários, lideres comunitários, cidadãs e cidadãos, artistas e intelectuais, políticos de vários partidos, prefeitos e vereadores, ONG's, sindicalistas, representantes dos governos Federal, Estadual e Municipal se reuniram no auditório do Sinduscom, em Goiânia, no dia de ontem, para deixar clara uma posição quanto ao gravíssimo problema de um dos nossos rios mais importantes. Foi lançada a vitoriosa “Expedição Rio Meia Ponte 2010”.
Inicia-se um debate, uma busca de soluções e, essencialmente, um conjunto de ações efetivas vindas da sociedade civil, do empresariado, do poder público, dos ambientalistas, da imprensa, de cada cidadão, enfim, para que todos juntos possam reverter um quadro dramático, logo ali, na nossa frente, pouco adiante, saindo pelas torneiras de nossas casas e penetrando em nossos corpos e consciências. Acabou-se a indiferença!
A questão ambiental é a grande causa do século XXI. Em Montreal ou em Goiânia. Na Nigéria ou no Brasil. Nossos filhos e netos serão as vítimas de nosso comodismo e indiferença ou agradecerão os nossos esforços e conscientização nos dias de hoje. Tudo depende de nós. Não há tempo a ser perdido, só trabalho a ser feito.
Os ingleses viram o rio Tâmisa absolutamente apodrecido, sinônimo de poluição e irresponsabilidade ambiental. Fizeram dele, em muito poucos anos, um dos mais saudáveis do planeta, cheio de vida, autêntico cartão postal da Inglaterra após tantos anos de degradação e vergonha. Não seremos capazes de salvar o Meia Ponte, tão importante para o nosso presente e para o nosso futuro, como foi de indiscutível importância histórica quando Goiás se modernizou e buscou em suas águas a geração de energia para o surgimento de sua nova capital? Sim, seremos!
A história de Goiás é feita por homens e rios. Muito antes da expedição do Bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o legendário Anhanguera, chegar às terras de Goiás, os historiadores atestam que a rica província era notícia na sede do Império tanto pelo ouro quanto pelos rios que banhavam as terras férteis e as matas habitadas pelos índios Goyá. Agora seremos notícia pela salvação de um desses rios, o Meia Ponte.
A economia que mais cresce no país, o Estado que exporta para o mundo e que surpreende pelo talento de seus empresários e a garra de seu povo, não permitirá que a sentença de morte contra o Meia Ponte seja cumprida.
(*) Delúbio Soares é professor
www.delubio.com.br