22 janeiro 2010

Walter Sorrentino: por que Ciro em São Paulo?

Foi importante a tese defendida por André Singer em 21 de dezembro, na Folha de S.Paulo. Em síntese fez a defesa de Ciro em contraponto à aliança PT-PMDB “que faz mal ao país e ameaça o PT”. A principal conclusão foi a de que o PT devia buscar diálogo com os vizinhos de centro-esquerda e esquerda. “Pular sobre essas forças sem discussão programática alguma é negar o sentido ideológico da escolha”, ou seja, leva a “negar os princípios que o PT deseja representar”.

Por Walter Sorrentino*
Respeitáveis argumentos, defendidos com a costumeira elegância por Singer. São indicativos de Ciro como candidato a vice-presidente de Dilma.
Mas defendo que Ciro seja candidato a governador por São Paulo.
São Paulo ocupa o centro da cena política nacional e as forças que encabeçaram o ciclo de desenvolvimento dos últimos oito anos ganhariam mais com Ciro Gomes para polarizar o debate eleitoral. São Paulo não é apenas mais uma unidade da federação, mas centro da disputa política nacional. Não pode ser subestimado.
São Paulo precisa no debate eleitoral de uma lufada de debate político que saia do círculo vicioso a que a polarização PSDB-PT o circunscreveu.
Ciro é o nome mais denso. Seu nome é a opção certa, e a melhor, para o governo de São Paulo. Na disputa nacional que terá lugar em outubro, não é de somenos importância dedicar um quadro como Ciro à disputa de São Paulo.
Em parte pelos mesmos argumentos de Singer, em primeiro lugar os atributos pessoais. Ciro é homem de ideias, com conceitos próprios, preparado e bom polemista. Tem afoiteza verbal movida pelo compromisso com o Brasil e seu desenvolvimento. É leal nos compromissos.
Foi Ciro quem demarcou com seu partido PSDB quando, há pouco mais de 15 anos, compreendeu a necessidade de se opor ao sentido neoliberal representado por FHC. É quem melhor compreende o transformismo dos tucanos, incluído Serra.
Ele, ladeado pelas forças amplas que se dispõem a apoiá-lo, pode desvendar a “conta” de São Paulo após 16 anos de governos tucanos. Como afirmei em outro artigo, os tucanos perderam a capacidade crítica de pensar São Paulo e seus desafios neste momento de relançamento de ciclo neodesenvolvimentista brasileiro.
O fiscalismo tucano e a falta de ativismo do Estado é muito tacanho. São Paulo fez obras, mas num ritmo incompatível não só com o desenvolvimento acelerado do Brasil, como também com os próprios padrões de civilidade pública. Índices na segurança pública, educação, saúde, trânsito e transporte público, mortalidade entre jovens, e bens culturais segregados, são alguns dos sinais de fadiga percebidos pela população. Decididamente, não estão ao nível de uma metrópole mundial depois de 16 anos.
Ciro em São Paulo, vindo de uma força importante como o PSB, pode agregar tanto quanto ou mais que uma candidatura do PT. Além de PT, as forças que compuseram o bloco de esquerda, além de segmentos sociais e empresariais. Candidato ao governo, pode vencer ou, mesmo na hipótese contrária, acrescentar forças e perspectivas para o futuro.
O PT com isso fará um gesto na direção indicada por Singer. Buscar em seus parceiros da esquerda e centro-esquerda as forças com que se pode liderar — hegemonizar — não apenas com força política de aparato, mas com liderança programática, intelectual e moral sobre o novo Brasil que está sendo gestado por Lula.
De fato, o PT tem nomes destacadíssimos para a própria disputa a governador (Marta, Palocci, Emídio, Mercadante, Haddad, Arlindo, Suplicy…). Ciro não fica atrás de nenhum deles. Mas a questão não é essa — e, sim, a de sinalizar, a partir da simbologia de São Paulo, um PT como maior partido de um campo de forças de esquerda e centro-esquerda, dominante, mas por outros caminhos, líder de um bloco histórico de forças.
Para Ciro candidato a governador de São Paulo, há tempo. Até março, naturalmente, se pode definir, pois que as forças que animam a candidatura têm tradição e força no cenário de São Paulo. Não se está perdendo o timing, pode haver tranquilidade até lá.
Quanto à aliança de Dilma-PT com PMDB, é uma necessidade lógica. Em termos programáticos, parece muito claro um projeto desenvolvimentista conduzido por Lula e Dilma, com apoio de numerosas forças de esquerda e de centro. Sob essa hegemonia, não há ameaça programática com a vinda do PMDB.
Enfim, o tabuleiro está posto e tem que ser composto. No sudeste do país, a oposição tem cancha em São Paulo, Minas gerais e, agora, Rio de Janeiro. Da parte de Dilma, é preciso uma forte alternativa de sustentação nesses estados. No Rio o caminho já está traçado. Ciro resolve a equação de São Paulo. Restará Minas, onde o PT e PMDB dependem da armação nacional.

* Walter Sorrentino é secretário de Organização do PCdoB